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quinta-feira, outubro 11, 2018

PARA OS MEUS QUE QUESTIONAM A “CERTEZA DO MEU VOTO”

Por Niosta Cossa

PARA OS MEUS QUE QUESTIONAM A “CERTEZA DO MEU VOTO” (PORQUE RESPONDER A CADA UM SERIA CANSATIVO)

Eu estava oficialmente de férias do Facebook, a divertir-me em paz no Instagram, seguindo celebridades internacionais, e vocês não ficaram felizes com a minha paz. Tiveram que me arrastar de volta para cá, mais cedo que contava.

Amigos, parceiros do copo e das ruas, e companheiros da vida me ligaram e mandaram mensagens questionando a autenticidade da foto que acompanha o texto e a legitimidade das minhas ideologias por conta de tal foto, por isso, achei justo vir esclarecer alguns factos em torno da mesma. Para acalmar as massas. (Ou para agitá-las – dependendo do entendimento/interpretação que cada um vai fazer do texto e/ou de como cada um será atingido pelo mesmo.)

É o seguinte:

01. Eu sou tão membro da Frelimo quanto Venâncio Mondlane é membro da Renamo. Ou seja, na relação amorosa que mantenho com a Frelimo, tenho certeza que nenhum de nós hesitaria em apunhalar as costas do outro se a oportunidade aparecesse. Viesse a bela Ivone Soares amanhã com uma bandeira da Renamo e me pedisse que fizesse uma foto, provavelmente veriam algures uma imagem minha com a bandeira da Perdiz, a sorrir. (Os da Frelimo a ligarem, indignados, a perguntarem “Niosta, qual é o teu problema, afinal?”, eu a dizer “Foi a Ivone, camaradas…”)
02. Eu sou historicamente da Frelimo. Ou por outra, há acontecimentos, posicionamentos e pessoas que fazem parte da história da organização com os/as quais me identifico. A Luta Armada de Libertação Nacional; a Revolução; o Homem Novo; Samora Machel; a Esquerda. Alguns destes marcos se intersectam com a minha história como pessoa, o que aprofunda a minha ligação histórica com O Partido.


03. Em relação a Frelimo de hoje, tem muita coisa com a qual não concordo. Contudo, tem uma feição que eu respeito nesta organização, que é a sua habilidade de transmudar-se e se servir de todos meios possíveis e impossíveis para se manter no poder. Num país de cidadãos fracos – que têm medo de derramar sangue ou de dar o corpo para causas que dizem acreditar/defender –, cuja acção política começa e termina nas redes sociais e nos bares, eu respeito indivíduos que fazem as coisas acontecerem. O que se propõem a fazer, os da Frelimo fazem. Não andam a falar muito, fazem apenas. E são tão sérios que mesmo quando fazem uma maldade nem aparecem em público a desmentir que a fizeram; ficam calados, não falam. São fazedores os tipos, não são faladores. E sempre foram assim. Desde o início. Ir lutar para libertar Moçambique? Foram. Adoptar socialismo? Adoptaram. Abandonar socialismo? Abandonaram. Eliminar indivíduos? Eliminaram. Espancar indivíduos? Espancaram. Enganar Renamo com o Acordo de Paz? Enganaram. Viciar eleições? Viciaram-nas (segundo a oposição) … Estão dispostos a fazer e fazem tudo estes. E eu respeito isso neles. Entendam: não estou a dizer que gosto do jeito que a Frelimo é; estou a dizer que respeito. Aqueles homens têm tomates. E sabem muito bem o que estão fazer na política: capturar e manter o poder de todas as formas decentes e vergonhosas existentes e inexistentes.
04. Durante muito tempo fui dos que reclamavam e falavam sobre o vazio, sem acção alguma. Parei e olhei para a Frelimo. Vi que os homens, certo ou errado, estavam a fazer alguma coisa. Frelimo não ficava a reclamar ou a lamentar. Frelimo fazia, fosse o que fosse, de bem ou de mal. E Frelimo mostrava garra, determinação e violência necessárias para ter o que queria. Depois olhei para o lado em que estava e notei que só falávamos, insultávamos, criticávamos, de tempos em tempos organizávamos marchas estéreis para doador ver, e nada mais. Então, eu percebi e disse para mim: “Estou a brincar deste lado. Aqui só falamos e falamos e marchamos e nada acontece. Frelimo não fala, só faz, e as coisas acontecem – o certo e o errado. Neste lado em que estou nem o certo nem o errado acontece. É melhor começar a respeitar o lado daqueles que fazem coisas acontecerem e abandonar este lado de faladores.”
05. Eu não estou bem socialmente. Os que me conhecem sabem da minha miséria existencial – quando vou ao Mundo’s ou South Beach, vou lá praticar o desporto mais popular do Bairro Ferroviário, que é beber dinheiro dos outros. Frelimo não me paga, nunca me comprou e posso dizer com segurança que já não vai a tempo de comprar. (Porque andei a ler livros de auto-ajuda que me aconselharam a me amar e a me valorizar; e que não permitisse que a Frelimo me tivesse a qualquer momento, quando me quisesse. Os livros me disseram para ser difícil e resistir até ao fim.) Porém, mesmo na miséria em que me encontro, tenho pensamento próprio e visão minha das coisas. As minhas pobreza e infelicidade e frustração não me ofuscam a vista. E na minha visão da vida, eu faço parte daquele grupo de homens para o qual um erro é preferível à desordem. Aqueles homens que preferem errar do que cair na desordem.
06. A Frelimo, a esta altura, com toda quilometragem que tem em obras do mal, claramente é um erro. Todavia, quando olho em volta, à procura de alternativas, o que vejo é desordem. Entre um erro e a desordem, prefiro errar mas nunca cair na desordem. Há homens que preferem a desordem. Não os condeno. Cada um há-de ter sua preferência. Os americanos dispensaram o erro (Hillary Clinton – que representava tudo de errado que havia na política deles) e abraçaram a desordem (Donald Trump). Estão a pagar por isso. Caro. E ainda não passaram sequer 2 anos desde as eleições.
07. Eu não sou religioso. Essa de que amanhã será melhor, sem esforço algum, sem sacrifício algum, sem trabalho algum, sem se derramar sangue nem suor algum, é ideia que deve ser vendida aos religiosos, não a mim. Esforço, sacrifício, trabalho, derrame de sangue e suor eu só vejo do lado da Frelimo neste país – repito: estou a falar de esforço, sacrifício, trabalho e derrame de sangue e suor para o bem e para o mal. Acreditar que o caminho a se seguir para melhorar nossa vida é votar num partido que não mostra coisa alguma – nem esforço nem sacrifício nem trabalho de qualquer natureza, bem ou mal – e que, pior, não consegue se organizar nem praticar sucessão interna de lideranças, é para homens com fé religiosa. Aquela fé que te pede para acreditar mesmo sem ver nem sentir coisa alguma. Não é para mim.
08. Como costuma dizer o nosso bom Kim Salip cá do Bairro Ferroviário: organiza-te! Organiza-te; eu vou ver tua organização e vou votar em ti, se fores melhor organizado e preparado do que os outros.
09. Para sempre serei historicamente – repito, historicamente – da Frelimo. Mas o ser de Moçambique, moçambicano, em mim se sobrepõe a qualquer ligação/simpatia partidária e também me faz resistir, no momento, ao coro populista que diz “Tirem a Frelimo do poder!” mesmo sendo parte do povo sofredor. Enquanto não me apresentarem uma alternativa política credível, jamais cantarei esse coro novamente. Cantei-o uma vez e foi suficiente.
10. Que fique claro: eu e a Frelimo temos uma relação aberta. Ninguém é de ninguém. Neste momento, a minha visão do caminho que a cidade/país deve seguir se alinha com a deles. Assim sendo, estamos no mesmo quarto. Poderá acontecer que nas próximas eleições me encontrem na cama da Renamo, ou me vejam a trocar beijos com o MDM, ou me descubram a mandar fotos minhas nu para o PIMO. Eu escolho o lençol em que rebolar no momento de acordo com o que o clima/panorama político mostra e a estabilidade que, no meu entendimento, a pátria requer, independentemente das minhas dores individuais.
11. E não, eu não estou na campanha da Frelimo. Não, não faço campanha pela Frelimo. Quanto à foto, as circunstâncias do surgimento da mesma são engraçadas. E eu não as vou revelar, pois, se o fizesse, mataria toda graça e simbolismo da mesma.

In Mural de Niosta Cossa (retirado, 04.10.2018)

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