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quarta-feira, fevereiro 15, 2017

As explicações que faltavam

Dois anos após a invasão militar à casa do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na rua das Palmeiras, na cidade da Beira, Lourenço do Rosá- rio dá a sua versão dos factos. Ano passado, Do Rosário concedeu uma entrevista ao SAVANA, tendo declinado tecer qualquer comentário sobre o assunto.
No entanto, esta semana, o SAVANA voltou à carga e o reitor d´A Politécnica entendeu ter chegado o momento de contar a história. Lembrou que, depois da emboscada que Dhlakama sofreu a 25 de Setembro de 2015, em Gondola (Manica), que o fez regressar às matas, houve contactos entre o Governo e a Renamo no sentido de viabilizarem a saída do líder da Renamo das matas da Gorongosa.
Nisto, conta o antigo mediador da paz, que foi contactado pela delegação da Renamo para integrar a equipa que iria testemunhar a saída de Dhlakama. De seguida, diz ter contactado o Governo para transmitir esta informação, uma vez que era chefe da equipa dos mediadores nacionais.

Em resposta, o então chefe da delegação do executivo e ministro da Agricultura, José Pacheco, tomou nota da comunicação e mandou que se preparassem e que seriam acompanhados por uma delegação militar do Governo chefiada pelo coronel Norton e outra da Renamo dirigida pelo falecido coronel José Manuel. Chegados ao local no interior das matas da Gorongosa, encontraram Dhlakama e com ele saíram até à cidade da Beira, local onde os mediadores se despediram, referindo que dia seguinte estariam de regresso a Maputo.


De acordo com o académico, Dhlakama disse que iria seguir viagem a Maputo, depois de conceder uma conferência de imprensa marcada para o dia seguinte, 9 de Outubro de 2015. Enquanto se preparavam para seguir viagem na referida manhã, surgiu Ivone Soares, José Manteigas e António Muchanga comunicando-lhes que a casa do seu líder estava sitiada por militares.

Lourenço do Rosário diz ter feito uma chamada telefónica para José Pacheco para saber do que se tratava, tendo o governante dito que se tratava de uma operação normal, que visava dar protecção governamental ao líder da Re namo. Diz ter chamado a atenção a Pacheco, referindo que aquela operação em nada se parecia com protecção, que regra geral é encabeçada pela polícia. Pelo contrário, a operação estava a ser dirigida por militares fortemente armados.

Nesse instante, conta que Pacheco disse que iria consultar os seus colegas sobre o que estava a acontecer e de seguida daria satisfações, facto que não se verificou.

Preocupado com o assunto, o antigo chefe dos mediadores nacionais diz ter contactado sem sucesso o ministro do Interior, Jaime Basílio Monteiro. Dirigiu-se com os seus acompanhantes para a rua das Palmeiras, onde falaram com o comandante da operação, que lhes disse que tinha a missão de recuperar as armas que estavam em mãos alheias. Depois de terem levado algumas armas e terem feito reféns alguns guerrilheiros da Renamo, o comandante insistia que havia outras na residência e tinham de recolher todas. Nesse momento, Dhlakama disse que só podia entregar as armas a uma pessoa do Governo e não a um comandante. Assim, Lourenço do Rosário diz ter entrado em contacto com a governadora de Sofala, Helena Taipo, que na ocasião disse que carecia de uma autorização do Presidente da Repú-blica, Filipe Nyusi. Do Rosário diz que, através de Benvinda Levi, conselheira do chefe de Estado, foi possível ter a referida autorização e, deste modo, seguiu para em nome do Governo receber as armas. Acrescenta que, fora as respostas de Pacheco, não houve outras e diz que não tem dúvidas que a operação visava recolher armas.

Lourenço do Rosário diz que devido a esta situação não ficou bem na fotografia aos olhos da Renamo e, daí em diante, rotularam-no juntamente com outros mediadores, como coniventes da operação e isto por si só já denunciava que não seria mais possível confiar na mediação nacional. Acrescenta que esta situação é agravada pelo facto de que, na primeira saída de Dhlakama das matas, ter sido acompanhado por embaixadores e não houve nenhum incidente e com os nacionais sucedeu-se o contrário.

O académico diz que, apesar de ter sido rotulado de conivente, julga que não ficaram mágoas com os dirigentes da Renamo e tomou como exemplo o gesto de Dhlakama naquele dia, para que pudessem sair da sua casa. Recorda que naquele ambiente em que a população estava em fú- ria e prometia linchar os mediadores, o líder da Renamo subiu numa cadeira e com megafone mandou a popula- ção para que se sentasse e disse: “Agora vocês vão deixar os meus amigos saírem” e assim se sucedeu. A versão de Lourenço do Rosário coincide, em parte, sobretudo, na parte dos telefonemas com o que o SAVANA havia avançado na edição a seguir ao assaltado em casa do líder da Renamo na cidade da Beira.


Fonte: SAVANA – 10.02.2017

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