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quarta-feira, dezembro 07, 2016

A culpa vai morrer solteira?

" Estamos orgulhosos…faríamos de novo

Guebuza diz que fez o que devia ter feito nas dívidas ocultas e pronto

O antigo Presidente da República, Armando Guebuza, não mostrou qualquer tipo de remorso em relação ao processo de contratação de dívidas na ordem de 2.2 biliões de dólares americanos para três empresas, todas ligadas à estrutura do poder securitário nacional, mais concreta­mente o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) e as Forças de Defesa e Segurança.
Armando Guebuza não admite qualquer erro (de forma concreta) em todo o processo de contratação das “dívidas ocultas”, que obrigaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros parceiros bila­terais e multilaterais a romperem cooperação com a República de Moçambique.
Falando no dia 28 de Novembro últi­mo, na Comissão Parlamentar de Inquérito para Averiguar a Situação da Dívida Pública, o antigo Presidente da República justificou todo o secretismo que envolve o processo da contratação das dívidas a questões “estraté­gico-militares”, particularmente tendo em conta a diversa “informação classificada” que estava em poder do SISE.
“A idealização, concepção e contrata­ção dos empréstimos visando adquirir meios destinados a operacionalizar o objectivo pretendido foi feita de forma sigilosa em fun­ção de informação classificada na posse das FDS, sobretudo, os Serviços de Informação e Segurança do Estado” – justificou Armando Guebuza diante de deputados que fazem parte da comissão de inquérito, cuja composição é dez para a Frelimo e um único para o MDM.

Mas antes mesmo de iniciar a responder as oito questões atempadamente enviadas, Armando Guebuza decidiu dar aulas de sapiência sobre o seu trajecto na luta de libertação nacional, desde o primeiro dia que “abandonou” a família para se juntar à Frelimo na epopeia libertária. A estratégia foi interpretada como de ameaça, tudo na pers­pectiva de evitar que os deputados colocassem questões de insistência em relação ao nível de responsabilidade de Armando Guebuza na contratação das dívidas.
“Muito novo abandonei a família para me juntar à Frelimo em Dar-Es-Salaam. A caminho fui preso, devolvido ao país e enviado à cadeia a mando da temível PIDE. Depois de sair, de novo fugi, para me juntar à Frelimo, para combater e libertar a pátria. É pela pátria e com o mesmo sentido de pátria que hoje vivo”- explicou Guebuza, no início da audição.
Ainda antes de iniciar a responder às perguntas, Guebuza continuou passeando a sua classe deixando claro que ele e todo o governo por si chefiado estavam orgulhosos pelo desempenho dos 10 anos de governação e toda a acção foi desenvolvida respeitando o juramento feito na tomada de posse de 2005 e depois em 2010.“Na verdade, constitui motivo de orgulho para mim e para os meus colegas do governo, o trabalho realizado nos dois mandatos presidenciais” - fez questão de frisar, o antigo Presidente da República, figura que tem estado no centro da crítica pública, tendo em conta os efeitos perversos das dívidas ocultas. Já no rol das respostas, Armando Guebuza buscou maior parte das justificações no alegado cumprimento escrupuloso da Constituição da República e demais leis nacionais e sempre na perspectiva de assegurar paz, estabilidade e defesa da soberania e integridade nacionais. De forma reiterada justificou a contratação das acultadas dívidas à necessidade de assegurar capacidade de combate à pirataria marítima e as acções da Renamo. A questão do secretismo na contratação das dívidas foi justificado pela suposta necessidade de proteger questões de “segurança e estratégia militar”, tendo em conta “informação classificada” que tinha sido disponibilizada pelo SISE.
De resto, as respostas concretas às perguntas feitas não fugiram, nem tão pouco, do tipo de respostas que o actual governo de Moçambique já tinha disponibilizado publicamente, incluindo diante de doadores internacionais. No rol das respostas, Guebuza disse que não tinha qualquer dúvida de ter agido conforme as leis e tendo em conta a ne­cessidade de defesa dos superiores interesses da nação moçambicana, pelo que entende que a ser confrontado com as mesmas circunstân­cias, pudesse voltar a tomar exactamente as mesmas medidas.
“Qualquer governo responsável, nessas condições, acredito que agiria como nós o fi­zemos, e, se tivéssemos que estar nas mesmas condições e para tomar as mesmas decisões, considerando o circunstancialismo descrito naquele momento, nós faríamos justamente da mesma maneira hoje, em defesa da pátria amada e do maravilhoso povo moçambica­no” - disse Guebuza, convicto de que tomou as melhores decisões que tinha que tomar, apesar de as dívidas estarem a influenciar de forma excessivamente negativa o curso da economia nacional, que se caracteriza pelo aumento do custo dos factores de produção, aumento exponencial de produtos e serviços e, por consequência, a redução do poder de compra das populações, especialmente as mais carenciadas. "


Fonte: MEDIA FAX – 07.12.2016

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