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segunda-feira, novembro 28, 2016

Lázaro Kavandame e o nacionalismo maconde

Por Eusébio Pedro Gwembe


Devido a situação social, politica e económica em transformação, numa zona considerada atrasada, nasceu no planalto dos macondes a “Linguilanilu”, Sociedade Algodoeira Voluntária de Moçambique (SAAVM) organizada por um grupo de habitantes do planalto, cujos dirigentes principais foram: Lázaro Nkavandame, Raimundo Pachinuapa, João Namimba e Cornélio João Mandanda. “Linguilanilu” “e palavra Kimakonde, e pode significar: cooperativa, associação, unidade ou mesmo entreajuda.
Lazaro Kavandame (possivelmente nascido entre 1908-12) era filho do capitão mor Cavandame. Em 1943 foi a Tanzânia onde ficou 5 anos. Quando regressou a Moçambique foi baptizado a ponto de o prelado da diocese do Porto Amelia ter dito que era exemplar e um dos melhores que tinham. Porem, não era muito instruído embora soubesse ler e escrever maconde. Era calmo, nunca se exaltava, toda a gente o respeitava nos seus dizeres. Não procurava ser bem visto, era humilde, respeitoso e o dinheiro não lhe interessava. Quando regressou pediu as autoridades portuguesas para as ajudar a evitar a saída dos moçambicanos que iam para a Tanzania. O plano dele consistia em fundar uma cooperativa agrícola de algodão em Imbuho, com cinco rapazes. Na visão de Kavandame, os rapazes não estavam satisfeitos com pano e comida como salário. Era tempo de terem uma casa, uma bicicleta, cadeiras e mesa.
A 20 de Agosto de 1958, Lázaro e seus associados fez pedido formal à administração da circunscrição dos macondes. O parecer do administrador foi negativo mas o governo-geral, contra o parecer do administrador local, legitimou a existência de cooperativa. O resultado da sua acção foi que no final do primeiro ano já tinha 1500 membros e em 1959 tinha já 1379 inscritos que faziam cada um ao menos um hectar de algodão. Havia sinais de melhoria das condições de vida da população e muitos que se encontravam no Tanganyika já começavam a manifestar o desejo de regressar. O regresso de Kabrite Diwane /Faustino Vanomba, cujo final foi o trágico acontecimento de Mueda, em 16 de Junho de 1960, inseria-se neste movimento tímido dos “retornados”. Os inscritos pagavam 3 escudos de contribuição por mês que era usado para pagar algumas despesas e aos ajudantes de Lázaro que visitavam as machambas como extensionistas.
Segundo um testemunho da época, “a gestão do dinheiro era tão transparente que Lázaro não ficava com nada”. Quando uma vez viu que o caixa tinha algum dinheiro de sobra, comprou uma bicicleta nova e outra de segunda mão para os seus ajudantes extensionistas. Apercebendo-se que estava sendo vigiado, pediu que houvesse um europeu no meio deles. Isto também serviria para desmentir aos régulos e agentes da SAGAL que o difamavam como estando a cobrar ilicitamente valores de 50 escudos. Porém, sabia-se que ele nunca guardava o dinheiro sozinho, segundo o testemunho do padre Guilherme Kuypers. Em conversas com o governador Carlos Teixeira da Silva Lazaro ficou sabendo que era opinião do governador geral que ele aprendesse português e ficou combinado que iria para a Missão de Mariri, na área de Montepuez. Uma vez aprendida a Língua Portuguesa, seguiria para Lourenço Marques onde o respectıvo governador o esperava, ansioso.


In Eusébio P. Gwembe – 28.11.2018

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