Páginas

quarta-feira, junho 29, 2016

Representante da UE: Moçambique está sem acesso aos mercados internacionais

O representante da União Europeia em Moçambique, Sven von Burgsdorff, considerou hoje à Lusa que o país está impossibilitado de recorrer aos mercados internacionais para garantir financiamento e defendeu que o FMI "é o caminho para o sucesso".
"As taxas de juro que Moçambique poderá encontrar nos mercados internacionais estão para cima de 18%, ao mesmo nível da Venezuela, o que prejudica qualquer acesso; não é possível, e por isso é muito importante a confiança com os parceiros internacionais, e o caminho do êxito é o Fundo Monetário Internacional", disse o diplomata alemão à Lusa, em Lisboa.
Para Sven von Burgsdorff, que falou à Lusa no dia seguinte às taxas de juro exigidas pelos investidores para transacionarem títulos de dívida soberana terem batido o recorde de 19,18%, o FMI terá um papel determinante no futuro do país, mas "a bola está do lado do Governo".
"Um resgate financeiro nunca foi uma ideia; a ideia do FMI [na visita que fez ao país, e que terminou na semana passada] foi só esclarecer os números da dívida pública e as medidas importantes para restabelecer o equilíbrio macroeconómico; nunca se falou de um programa [de assistência] no futuro próximo porque ainda faltam os esclarecimentos sobre as dívidas não declaradas", acrescentou o diplomata, apontando que "o Governo está muito ciente disso porque o FMI foi bastante claro e a bola está no terreno do Governo".
O Executivo moçambicano comprometeu-se com o FMI e os parceiros internacionais a apresentar um conjunto de medidas para garantir que a assunção de compromissos financeiros será mais transparentes e que casos como os de três empréstimos a empresas públicas no valor de mais de 1,4 mil milhões de dólares não serão novamente escondidos dos parceiros internacionais.
"Uma auditoria forense internacional é um ponto crucial para esclarecer estes três empréstimos, como foram feitos e para onde foram", disse Sven von Burgsdorff à Lusa, vincando que "o FMI diz que uma auditoria internacional é indispensável, e é por isso um passo importante" para restabelecer a confiança não só entre o Governo e os doadores, "mas também entre o cidadão e o próprio Estado, porque é o contribuinte moçambicano que tem de pagar as dívidas, e isso é muito importante para os doadores".
Questionado sobre a possibilidade de o grupo de doadores internacionais conhecido por G14 - cuja presidência rotativa passa de Portugal para a União Europeia no próximo dia 01 de julho -, retomar em breve a assistência financeira, Sven von Burgsdorff respondeu: "Não podemos analisar o impacto do nosso apoio orçamento se não for esclarecido quais foram os desembolsos feitos em 2013, 2014 e 2015, porque fizemos apoios orçamentais e não se pode imaginar que vamos reembolsar dívidas contraídas ilicitamente, isso não faz sentido".
A decisão sobre os apoios orçamentais "está pendente, mas eu tenho a confiança que as autoridades tomarão as decisões necessárias para restabelecer a confiança dos doadores", vincou o diplomata alemão, que espera que em setembro haja uma resposta formal do Governo, altura a partir da qual "o Fundo pode voltar em qualquer momento em função dessas decisões".
Fonte: LUSA – 29.06.2016

Sem comentários:

Enviar um comentário