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terça-feira, março 22, 2016

Espectáculo gratuito do Governo

O Conselho de Ministros formou uma comissão de alto nível com mandato para investigar a ocorrência ou não da violação dos direitos humanos. A esta atitude do Governo alguns chamaram de juiz em causa própria, mas, acima de tudo, mostra o seu distanciamento de tais actos, por isso, independentemente de a Human Rights ter “convidado” o Governo a investigar, ele, o Governo, agiu na certa ao criar a tal comissão para apurar os factos no terreno. Provavelmente, não tenha sido feliz na indicação das personalidades que transformaram o seu mandato num acto de “publicidade” e de demonstração de “serviço”, quanto a mim dispensável. Igualmente, isto na minha opinião, não terá sido feliz ao indicar pessoas de ministérios directamente relacionados com as actividades a investigar no terreno, como foi o Interior e Justiça. Esta era uma missão para titulares de pastas fora das FDS e mais ligados à humanidade, casos da Educação, Género e Acção Social, Cultura, Juventude, entre outros pelouros, de forma a confrontarem os seus colegas dos pelouros no terreno das operações.

Por isso, na minha modesta opinião, o próprio vice- -ministro da Justiça “exagerou” nas suas múltiplas aparições públicas para se referir aos resultados, à partida fazendo antever o desfecho do caso, constituindo um “espectáculo” gratuito, despropositado e sem interesse, numa semana em que o semanário Savana publicou uma longa entrevista sobre a existência de “esquadrão de morte” no seio das Forças de Defesa e Segurança nacionais, uma notícia que carece de esclarecimentos de quem de direito, sob pena de aplicar-se a máxima segundo a qual “quem cala consente”. Definitivamente, se não for esclarecida a publica- ção do semanário Savana de forma convincente, julgo que todas as explicações sobre a violação ou não dos direitos humanos serão recebidas com reticências pela sociedade. Não pode existir maior expressão de violação que a reproduzida nas páginas do Savana. Por este andar, os inquéritos jamais irão parar!


Adelino Buque in Correio da Manhã – 21.03.2016

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