O secretário-geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACCLIN), órgão da Frelimo, acusou hoje o ex-arcebispo da Beira Jaime Gonçalves de favorecer a oposição da Renamo, quando culpa o Governo pela actual instabilidade em Moçambique.
Citado hoje pelo diário Notícias, Fernando Faustino considerou que não é ético e até indecoroso que Jaime Gonçalves saia em defesa de um partido que não respeita a Constituição, mata civis e limita a circulação na principal estrada do país.
"Se é padre, que se ocupe plenamente da religião, se quer ser político, que se assuma plenamente como tal, filiando-se abertamente num partido para que não seja confundido", afirmou o dirigente da ACCLIN, órgão liderado por inerência pelo presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e chefe de Estado, Filipe Nyusi.
Em entrevista à Lusa e reproduzida na revista Visão, Jaime Gonçalves, mediador católico do Acordo Geral de Paz, em 1992, considerou que os acontecimentos recentes deixam claro que o entendimento celebrado em Roma "não está a ser praticado pela Frelimo" e que os incidentes envolvendo o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama, são a demonstração de que prevalece uma linha dura no partido no poder e o objectivo de eliminar o líder da oposição.
"Para mim foi uma humilhação terrível o Presidente da República, o mais alto magistrado da nação, ir a Angola aprender como mataram Savimbi", afirmou.
Para Jaime Gonçalves, Armando Guebuza, chefe dos negociadores do Governo em Roma, "nunca aceitou o diálogo" e, com sua subida à Presidência da Republica, "os homens da Renamo que tinham sido integrados pelas Nações Unidas para unificar o exército foram todos postos fora" e a segurança armada da oposição nunca foi desmantelada, o que explica a situação actual.
Nas suas declarações hoje reproduzidas no Notícias, o secretário-geral da ACCLIN rebate esta interpretação dos acontecimentos, questionando porque se recusa a Renamo a desarmar-se, depois de ter assinado o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, que em Setembro de 2014 terminou uma nova fase de confrontos em Moçambique.
"A Renamo não entrega as armas, recusa-se a aceder ao Fundo da Paz, mas D. Jaime não questiona esses factos. Para ele, o culpado é o Governo, a culpada é a Frelimo. O que pretende na verdade D. Jaime Gonçalves"? - questionou Fernando Faustino.
Recentemente, a ACLLIN já tinha dirigido críticas ao actual arcebispo da Beira, Claudio Zuanna, na sequência do cerco e invasão da residência do presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, na cidade da Beira.
"D. Cláudio Zuanna perdeu a oportunidade de ficar calado ao procurar defender cegamente a Renamo", disse Fernando Faustino a 22 de outubro, reagindo à condenação do incidente pelo líder religioso, que na altura considerou que "o uso da força para desarmar o adversário não pode dar frutos esperados" e que, "além de derramamento de sangue, isso aumentará a sensação de exclusão e marginalização".
O arcebispo da Beira revelou na semana passada que a Igreja Católica escreveu às duas partes manifestando a sua disponibilidade para ajudar Moçambique a sair da crise política e que o maior partido da oposição respondeu pedindo mediação.
"Por parte do Governo ainda não houve nenhuma manifestação sobre a questão da mediação", referiu Claudio Zuanna, acrescentando porém que o Presidente da República recebeu os líderes católicos e sabe da sua disponibilidade para ajudar.
Moçambique vive uma das crises políticas e militares mais graves desde o Acordo Geral de Paz, assinado pelo Governo e Renamo em 1992 e que pôs termo a 16 anos de guerra civil, havendo registos de novos confrontos entre os mesmos protagonistas, num quadro de instabilidade agravado nas últimas semanas por ataques atribuídos à oposição na principal estrada do país.
Fonte: LUSA – 01.03.2016
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