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sábado, janeiro 02, 2016

O Poder

Por Machado da Graça

O Dr. Teodato Hunguana apresentou recentemente, no Mozefo, um excelente texto em que acompanha a evolução do Poder, no nosso país, desde a Constituição de 1975 (resultado da luta armada de libertação nacional) até à actualidade.

Ao longo da sua intervenção foi analisando a evolução do(s) nosso(s) texto(s) constitucional (ais), e outra legislação, explicando as razões por que essa evolução foi de uma determinada maneira e não de outra.

Mais de um jornal publicou na íntegra esse texto e aconselho vivamente a sua leitura.

Mas ao explicar como chegámos ao ponto a que chegámos, Teodato Hunguana mostra-nos a necessidade urgente de uma mudança, nomeadamente através do reforço e independência das nossas instituições para que possamos ser, de facto, um Estado de Direito Democrático. Que, por variadas razões históricas ainda não somos.

Justificando o atraso que temos nesse aspecto, ele alerta para que já não estamos a tempo dos passos lentos para evitar cair no abismo. Neste momento são necessários passos acelerados.


E com tudo isto estou plenamente de acordo. Já não estou, no entanto, quando ele afirma que quem tem de tomar a iniciativa dessas mudanças é a força política actualmente no poder (como ele chama sistematicamente ao partido Frelimo).

O facto é que o partido Frelimo, enquanto dirigido por Armando Guebuza, caminhou precisamente no sentido contrário.

No sentido do imobilismo e do controlo centralizado de todas as instituições do Estado. E não dá nenhuns sinais de que vá mudar de rumo.

Com Joaquim Chissano talvez tivesse havido a possibilidade de mudanças em curtos passos. E em Nyusi não vemos a ousadia necessária aos passos acelerados e nem sequer aos passos curtos.

Seja quem for que realmente manda, não parece estar disposto a largar o Poder total sobre o Estado e os benefícios que isso lhe dá.

Filipe Nyusi poderia ser uma boa solução, se o deixassem. Mas, claramente, não deixam.
Que fazer então? Não sei. Já não tenho idade para gostar de mudanças feitas a tiro. E, para dizer a verdade, não estou sequer certo de que quem tem força militar para provocar essa mudança não vá fazer o mesmo, através de caras diferentes.

Teodato Hunguana diz que “poderemos estar a aproximar-nos perigosamente do abismo” se não houver uma mudança urgente de mentalidades. E eu só vejo mentes empedernidas recusando, aos gritos, a mais ínfima mudança.

Daí o meu pessimismo para 2016 e para os anos que se lhe seguem.

Fonte: Savana – 01.01.2016

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