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segunda-feira, novembro 23, 2015

Crime organizado é ameaça à liberdade de imprensa em Moçambique – Ex-director do jornal Notícias

O ex-director de informação do Notícias, principal diário moçambicano, Rogério Sitoe considerou hoje em Maputo o crime organizado uma ameaça à independência editorial dos órgãos de comunicação social do país.

"Em Moçambique, há fartas evidências empíricas demonstrando que as ameaças à independência editorial, também determinantes para a limitação do pluralismo de opinião, podem vir tanto da interferência política, como da acção do poder económico e, igualmente, do crime organizado", afirmou Sitoe, durante a Conferência Nacional de Comunicação Social, Violência e Paz, promovida pelo Conselho Superior da Comunicação Social.

Sitoe apontou os obstáculos à liberdade de imprensa, quando apresentava o tema "Da independência editorial ao pluralismo de opinião".

Nos órgãos de comunicação social privados, assinalou o ex-director de informação do Notícias, o crime organizado e o poder económico podem exercer tanta ingerência quanto o poder político.

"Neste contexto, o problema não é tanto a liberdade política, mas mais o peso económico e do crime organizado e os seus efeitos sobre a liberdade de informação", declarou Rogério Sitoe.

Os criminosos, assinalou, impõem o silêncio sobre actos criminais e corruptos e conquistam espaço nos media para disputar decisões judiciais ou antecipar os veredictos.

"São vários outros exemplos ocorridos nos últimos anos em Moçambique, em relação aos quais os media se transformaram em verdadeiros espaços de batalhas campais, absolvendo ou condenando, não com base em factos, mas sim no juízo de valores de conveniência, mesmo antes da decisão judicial", enfatizou Rogério Sitoe.

Por seu turno, o académico e director do Centro de Estudos de Democracia e Desenvolvimento (CEDE), Eduardo Sitoe, exortou os órgãos de comunicação social a produzirem informação com impacto no combate à pobreza, que afecta cerca de 50% da população moçambicana.

"Os media podem desempenhar um papel imediato de difusores de informação com impacto útil e tangível na mitigação dos efeitos e dinâmica da pobreza. Mas podem, sobretudo, desempenhar um papel válido no sentido do empoderamento dos pobres, traduzido quer pela formação de uma opinião pública mais responsável face à questão da pobreza, quer pela responsabilização directa das pessoas de autoridade face aos destinos dos pobres", frisou Sitoe.

Por seu turno, Jessemusse Cacinda, docente universitário, criticou a discriminação supostamente praticada por alguns órgãos de comunicação social moçambicanos, que negam a difusão de determinadas opiniões, favorecendo outras pessoas.

"Estes canais são tão corajosos ao ponto de violar a lei de imprensa, publicando informações unilaterais, simplesmente porque se ouvir a outra parte envolvida num determinado acontecimento, pode não dizer aquilo que pretendem", ressalvou Cacinda.


Fonte: LUSA - 23.11.2015

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