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quarta-feira, agosto 12, 2015

Ainda o assassinato do antigo secreta, Inlamo Mussa

Polícia inicia ladainha do “estamos a trabalhar”

- A ocorrência acontece numa altura em que o grupo dos antigos secretas do governo continua a reunir-se duas vezes por semana para concertar posições
Naquilo que pode ser mais um caso de “queima de arquivo”, foi assassinado na madrugada de sexta para sábado, o cidadão Inlamo Ahamada Ali Mussa, figura que, apesar de marginalizada, ainda pertencia aos quadros operativos dos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE). Sem medo e sempre na perspectiva de exigir os direitos que dizia estarem-lhe a ser negados por parte do governo, Inlamo Mussa vinha sendo, nos últimos 10 anos, uma pedra no sapato do executivo de Maputo.
Inlamo Mussa denuncia tudo e todos, particularmente o comportamento dúbio e promíscuo de altas patentes das Forças de Defesa e Segurança (FDS), com especial atenção para os Serviços de Informação e Segurança do Estado.

Na mídia independente nacional, dezenas são os documentos existentes, resultantes do punho de Inlamo Mussa, denunciando e exigindo que o Estado lhe pague o devido, em resultado da sua participação em várias missões de risco ao serviço do Estado moçambicano. Uma das missões de alto risco assumido por Inlamo enquanto operativo do SISE foi infiltrar-se na Renamo. A missão era buscar preciosas informações para o governo, particularmente nas vésperas do Acordo Geral de Paz. Ele entrou para os quadros do SISE em 1988.

Estamos a trabalhar

Depois de ao longo do fim-de-semana e na segunda-feira, ter negado confirmar a identidade do cidadão assassinado, só nesta terça-feira, a Polícia da República de Moçambique ao nível da província de Maputo confirmou que efectivamente se trata de Inlamo Ahamad Ali Mussa.

Em relação às circunstâncias do assassinato, a Polícia pura e simplesmente rejeita partilhar qualquer informação, com base no velho argumento da necessidade de preservar a informação para, alegadamente, não pôr em causa o andamento das investigações.

“A identidade que temos é efectivamente Ahamad Ali. Neste momento estamos a trabalhar com base nas informações que pudemos colher no local da ocorrência e com base nas informações que vamos recolhendo dia após dia” – disse Emídio Mabunda, porta-voz da Polícia da República de Moçambique, ao nível da província de Maputo, quando questionado pelo mediaFAX sobre as circunstâncias do assassinato.

Entretanto, as populações residentes nas proximidades do local onde foi morto o antigo secreta não tem dúvidas de que se tratou de uma execução extra judicial. Ou seja, o homem foi capturado nalgum sítio e levado por agentes policiais à paisana para o local da execução sumária.

Segundo testemunhas, foram dois tiros certeiros na cabeça, o que denuncia uma clara execução. Aliás, Inlamo Mussa foi executado algemado.

Os executores não tiveram nem tempo de retirar as algemas depois de consumar o acto.
“Estamos a trabalhar com todas as pistas, inclusive estamos a trabalhar com a família do assassinado”- repetiu Emídio Mabunda, quando o mediaFAX insistiu querendo saber das reais circunstâncias da execução, incluindo o facto de ter sido algemado antes da consumação da acção criminosa.

Antigos secretas continuam a exigir seu dinheiro

O assassinato de Inlamo Mussa acontece numa altura em que o grupo dos antigos secretas do governo moçambicano continuam em reuniões bi-semanais concertando posições e definindo estratégias para o sucesso das suas reivindicações.

O grupo reivindica pagamento de subsídio de reinserção social e ainda a necessidade de aumento da pensão, pois a actual é por eles considerada como “pensão de fome”.

Durante o reinado de Armando Guebuza, o grupo de cerca 600 antigos espiões conseguiu por diversas vezes manifestar-se em frente às instalações da Presidência da República, realidade que obrigou o antigo presidente a enviar seus representantes para dialogar com o grupo.

No âmbito das reivindicações, o coordenador do grupo, Adolfo Beira, chegou a ser detido pelas autoridades policiais e mantido por cerca de quatro meses nas celas da Brigada Operacional da Machava. Liberto, Adolfo Beira continua a comandar o seu grupo de antigos espiões.


Fonte: mediaFAX - 12.08.2015

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