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segunda-feira, junho 08, 2015

Dhlakama: Frelimo decorou “tudo o que o colonialismo fazia"

Afonso Dhlakama considera que a independência de Moçambique foi um “acto simbólico” de troca de bandeiras e que depois o povo continuou escravo da pobreza, fome, desigualdade social e autoritarismo do Governo da Frelimo.
“Tudo aquilo que o colonialismo fazia antes da independência, a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] decorou”, afirmou o presidente da Renamo  em entrevista à Lusa a propósito dos 40 anos da independência.
Para Afonso Dhlakama, antigo apoiante da Frelimo antes de se juntar à Renamo e envolver-se, dois anos depois da independência, numa guerra civil que durou mais de uma década e meia, “se o colonialismo, através da PIDE-DGS, matava pessoas, religiosos, proibia as pessoas de tudo, portanto limitava as liberdades, depois da independência [as pessoas] não se podiam libertar”.
A Frelimo, disse Dhlakama, apenas mudou a tática de actuação, continuando a “infernizar a população”, com políticas de governação injustas e discriminatórias, empurrando muitos para a fome e pobreza, além de perseguir a oposição, concluindo que o povo ainda “não usufrui dos ganhos” da independência.
“Historicamente os portugueses foram-se embora, mas os problemas são muitos, porque houve mais mortes em pouco tempo do que os mortos que se verificaram durante os 500 anos de colonização”, declarou o presidente da Renamo, que se define como um nacionalista confundido com uma personalidade que se opõe à independência.
Dhlakama disse que, no início da década de 1970, como militar das forças coloniais, após passar à disponibilidade mas ainda no quartel de Malapisia, distrito de Majune, norte de Moçambique, foi passando informações para guerrilheiros da Frelimo, da etnia Jaua, na base de Caturi, província de Niassa, com quem tinha ligações.
O actual líder da Renamo afirmou que se juntou à Frelimo em finais de 1973, após conhecer o general Marcos Mabote, “muito amigo” e já desaparecido, que viria a ser chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, tendo recebido, já depois dos acordos de Lusaca, a 07 de Setembro de 1974, formação militar em Boane, província de Maputo, e sido destacado de seguida para o quartel de Matacuane, na Beira, onde se ocupou da intendência.
Dhlakama adiantou que esteve ainda envolvido na preparação da segurança da delegação da Frelimo nas negociações dos acordos de Lusaca com o Governo português, e que conduziram à independência de Moçambique no ano seguinte, antes de fundar na clandestinidade a Renamo com André Matsangaíssa, outro dissidente do movimento de libertação e também colocado no quartel da Beira, morto em combate em 1979 durante a guerra civil.
Presidente da Renamo desde aquela data, Afonso Dhlakama, 62 anos, considera que, depois da independência, a Frelimo negou a democracia, a religião e a tradição, com campanhas de despovoamento, deslocação de populações para aldeias comunais e envio de pessoas para campos de reeducação, com a introdução de guias de marcha para se circular no país e criação de machambas (horta) estatais, além da pena de morte, privando as pessoas de todas as liberdades.
Quarenta anos depois da independência, o líder histórico do maior partido de oposição disse que anseia pela “boa governação”, acrescentando que esta tanto pode ser exercida pela Renamo, até por “um outro candidato do partido”, como pelo MDM (Movimento Democrático de Moçambique, terceiro maior partido moçambicano), ou ainda pelo PDD (Partido para Paz, Democracia e Desenvolvimento, de Raul Domingos, antigo número dois da Renamo), “a Frelimo, ou qualquer outro”.
“Daqui a 40 anos gostava de ver um país sem ódio, sem perseguição, sem políticas de exclusão social, sem descriminação, sem ódio de etnias ou de cores partidárias, mas acreditando na boa governação, no desenvolvimento”, declarou Dhlakama, acusando o Governo de usar a polícia como instrumento de repressão contra a população e o exército contra a oposição.
O líder da Renamo, que conserva o seu braço armado, apesar de um acordo de desmilitarização do partido de oposição, assinado a 05 de Setembro de 2014, para encerrar 17 meses de confrontações com o exército na região centro, acrescentou que sonha ainda com “um país democrático e desenvolvido, com patamares europeus, boas terras para agricultura, turismo e recursos minerais explorados de forma sustentável e economia bem distribuída”.
Dhlakama espera, por outro lado, Moçambique “sem pessoas que dizem que ganharam quando não ganharam, a excluir portanto o povo”, numa referência às eleições gerais de 15 de Outubro de 2014, cujos resultados a Renamo não reconhece, marcando o início de uma nova fase de instabilidade política no país.


Fonte: LUSA – 08.06.2015

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