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domingo, abril 12, 2015

Mais uma pagina da Historia que foi manipulada pela Frelimo!

"Namatil – Uma história mal contada e …mal aproveitada


Linha d'água: Por Luís Loforte

Ninguém nega que meia garrafa de água é uma garrafa meio vazia de água. É uma realidade objectiva. Mas já estaremos perante um absurdo se lutarmos para que meia mentira transforme a história em verdadeira.

Em relação ao último aspecto, o do absurdo, julgo que haverá algo de parecido quando, a propósito do lançamento das comemorações dos 40 anos da nossa Independência, em solo daquilo que outrora se cha­mou por Namatil, posto administrativo de Omar, se afirma que ali ocorreu uma das “batalhas mais de­cisivas da luta armada de libertação nacional…”, designadamente, a 1 de Agosto de 1974. De tão de­cisiva que não foi “disparado nenhum tiro, tendo sido capturados 137 soldados da tropa colonial, que se renderam, e posteriormente entregues, por razões humanitárias, à Cruz Vermelha In­ternacional…”. Tudo isto pode ser lido nas edições do jornal notícias dos dias 6 e 7 de Abril de 2015, em duas abordagens feitas, consecutivamente, pelo jornalista Pedro Nacuo. Nem sei se seria necessário recomendar uma leitura atenta para se concluir que alguma coisa não bate certo.


E porventura terei autoridade para o creditar ou desmentir? Bem, nem toda, mas alguma, desde logo porque pertenci à referida companhia de artilharia (GAC-6), tendo como sede a Ilha de Moçambique, com ramificações no Lumbo, Monapo, Vila Barreto (Itoculo) e António Enes (Angoche). Com passagens curtas pela Ilha de Moçambique, Monapo e Vila Bar­reto, foi porém no Lumbo que passei todo o meu serviço militar. O último contingente a ir para Nama­til partiu do Lumbo em Janeiro/Fevereiro de 1974, portanto, da minha unidade. Isto quer simplesmente dizer que à data da ocorrência dos acontecimentos em apreço, Agosto de 1974, ainda me encontrava no exército português e já com o conflito praticamente concluído desde Maio de 1974, convivendo há muito com guerrilheiros da FRELIMO. Comíamos e bebíamos juntos, e até os acompanhávamos nos comícios que os seus comissários orientavam, aqui e ali. Escusado será dizer que, pertencendo à mesma unidade, e tam­bém pela grande amizade que todo o serviço militar cultiva, estávamos em permanente contacto com os homens de Namatil. Por aqueles dias, e tal como nós em Nampula, todo o exército havia acatado a orientação do General Costa Gomes, segundo a qual cessavam todas as hostilidades. Portanto, imperava já um tácito armistício. À excepção de um ou outro incidente, de pequena monta porém, não consta que tenha ocorrido, nomeadamente em Cabo Delgado, uma única escaramuça, muito menos uma “batalha decisiva”. E quem se pode convencer que em Agosto de 1974 tenha ocorrido uma batalha decisiva para o que quer que fosse?

Ao ler as crónicas do Notícias defendendo o con­trário, e na mesma sintonia nas televisão e rádio públicas, ainda me lembrei de ligar a alguns amigos “capturados” em Namatil para comentarmos os erros de pena do Nacuo, ou de quem os sustentou. Todos estes amigos foram peremptórios em dizer: “Tudo isso é mentira!”, sem nos esquecermos de achar piada à afirmação segundo a qual foram capturadas grandes quantidades de “bebidas alcoólicas” e pos­teriormente oferecidas a tanzanianos, porque “entre nós a disciplina era outra, diferente.” Importam­-se de repetir?

Mas o grande problema não é discutirmos se a história é falsa ou verdadeira. Qualquer que seja a circunstância, o jornalista não descansa, ou até não escreve, enquanto não ouve os protagonistas de um e do outro lado, enquanto não encontra o contraponto do ponto, para já não falar da obrigação que tem de investigar, de perscrutar a História, de puxar pelo miolo, de alimentar a dúvida sistemática, sob o risco de deturpar ou distorcer essa mesma História. A vida não pode ser orientada apenas no interesse material que a nossa postura pode proporcionar, ela tem de orientar-se pela busca incessante da verdade, pela busca do acerto com a História. A nossa consciência deve estar sempre em primeiro lugar. E a crónica do meu amigo Nacuo pode estar no limiar da deturpação grosseira da História de Moçambique. E admiro-me que ele se exponha a tamanha infâmia quando os fac­tos de Namatil estão documentados, e até em material sonoro gravado no local e no momento dos aconteci­mentos, para não falarmos de documentação escrita que existe e está ao seu alcance. Existe a famosa “Cassete” de que o Dr. Almeida Santos, que dirigiu praticamente todo o processo de descolonização nas colónias portuguesas, faz uma referência especial no seu livro “Quase memórias – Da Descolonização de cada Território em Particular”. O livro, a cas­sete e os protagonistas estão aí, mas o Nacuo não quis saber deles, apenas correu para a barricada mais conveniente. Deles falarei na continuação deste meu ponto de vista, em nome da verdade e da História de Moçambique. (Continua)


CORREIO DA MANHÃ , 10/04./2015

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