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quinta-feira, março 26, 2015

Histórico da Frelimo diz que discurso de Guebuza cria medo e silencia

O militante histórico da Frelimo Jorge Rebelo considerou hoje que o discurso de Armando Guebuza, presidente do partido no poder, na abertura da reunião do Comité Central, cria medo e silencia o debate.
"Ele está a travar a discussão, quando lança esses recados de que há membros que estão a lançar publicamente ideias que enfraquecem o partido. Isso é que é mau, porque mete medo às pessoas e, pronto, aí estamos silenciados", afirmou à Lusa o antigo dirigente da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e ex-ministro da Informação de Samora Machel.
Armando Guebuza criticou hoje os camaradas que publicamente procuram dividir e semear a confusão na força política.

"Preocupa-nos a postura e comportamento de alguns camaradas que publicamente engendram ações que concorrem para perturbar o normal funcionamento dos órgãos e das instituições e para gerar divisões e confusão no nosso seio", declarou o ex-Presidente, que se mantém líder da Frelimo, perante 195 membros do Comité Central e dezenas de convidados.
A continuidade de Guebuza na liderança da Frelimo tem sido questionada por analistas e também por membros do partido, que alertam para o risco da criação de dois centros de poder, fragilizando o Presidente da República, Filipe Nyusi, também presente na IV Sessão Ordinária do Comité Central, hoje iniciada na cidade da Matola, arredores de Maputo.
"[A percepção de dois centros de poder] existe e é real", comentou Jorge Rebelo, referindo que "o presidente Guebuza domina toda a máquina partidária, desde a comissão política por aí abaixo, todos estão com ele, devem-lhe os cargos".
O antigo membro do Comité Central esteve hoje na abertura do encontro na qualidade de convidado e abandonou o local quando a reunião ficou "restritíssima" aos atuais elementos do órgão do partido, desconhecendo se algum deles irá colocar a questão da sucessão de Guebuza.
"Não posso falar em nome deles, mas por exemplo Teodato Hunguana, por uma questão de coerência, talvez levante a questão, não sei", disse Rebelo, referindo-se ao antigo membro de vários governos, ex-juiz do Conselho Constitucional e actual membro do Comité Central e que recentemente defendeu numa entrevista o debate da substituição do presidente do partido.
Contactado hoje pela Lusa, Teodato Hunguana recusou-se a prestar declarações.
Para Jorge Rebelo, uma eventual saída de Guebuza pode ter implicações desconhecidas, mas também não sabe "até que ponto ele é capaz de manter a coesão num ambiente destes", sobretudo num momento em que o líder da oposição, Afonso Dhlakama, ameaça tomar o poder pela força se a Frelimo não aprovar o seu projecto de municípios à escala provincial.
"Esse é que é o risco e preocupa-me porque não sei se está a ser devidamente levado em consideração", comentou o militante do partido maioritário.
A discussão de uma nova liderança da Frelimo não consta na agenda prévia da reunião do Comité Central.
A ordem dos trabalhos pode, no entanto, ser alterada durante o decurso do encontro, que prossegue à porta fechada até domingo na Escola Central da Frelimo.

Fonte: Lusa – 25.03.2015

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