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quarta-feira, outubro 29, 2014

Uma cabala mui forçada

Embaixadas acusadas de incentivarem a Renamo a realizarem manifestações violentas
No rescaldo de umas eleições altamente desorganizadas, três embaixadas ocidentais estão a ser acusadas de instruírem a Renamo a levar a cabo manifestações de protesto, de carácter violento, em todo o país. São as embaixadas dos EUA, da Itália e de Portugal. Nas redes sociais circula uma comunicação anónima, onde o SG da Renamo, Manuel Bissopo, é citado a dizer que aquelas três embaixadas instruíram o líder da Renamo a fazer manifestações violentas. O assunto foi tratado, no telejornal da TV Miramar, ontem, como um facto consumado. A TV acusou as embaixadas de conspiração, mas, de acordo com fontes do mediaFAX, trata-se de uma “cabala” montada pelos serviços secretos (SISE), antecipando-se a uma eventual reacção violenta da Renamo em face dos resultados eleitoras.

Nos pleitos anteriores, Dhlakama sempre reagiu de forma violenta, convocando manifestações para todo o país. Nalgumas vezes foi bem sucedido. Noutras nem tanto. Mas a marca de água da Renamo foi sempre essa. Contudo, depois do seu regresso da “parte incerta”, Dhlakama mudou de postura.

Fez uma campanha eleitoral mais madura, com um discurso progressista e de defesa do Estado, e no seu primeiro pronunciamento depois da votação do dia 15 de Outubro, o líder da Renamo surpreendeu meio mundo com uma postura de estadista, abordagem concisa e clara na interpretação da economia política das eleições em África, incluindo uma análise exímia sobre o alcance das missões de observação eleitoral.

Nesse discurso, quando se esperava que a Renamo levantaria logo o machado de guerra, Dhlakama foi conciliador e colocou pressão nos órgãos eleitorais. “Uma posição definitiva sobre as eleições só depois do anúncio dos resultados finais pela CNE”, disse ele, travando até predisposições mais violentas dentro das hostes da Renamo, tal como o seu porta-voz, António Muchanga, já ensaiava. “Foram umas eleições altamente desorganizadas”, comentou.

De facto, reina uma grande expectativa sobre qual será a reacção da Renamo em face de umas eleições onde o Dhlakama ganhou em cinco províncias (incluindo Nampula e Zambézia) mas perdeu no global para Nyusi, de acordo com a projecções oficiais.

Um pouco por todo o pais, a Renamo tem vindo a contestar os resultados eleitorais.

Ontem, numa Conferencia Centro Norte, que mostrou um partido a se querer revitalizar, um porta-voz disse que as eleições foram fraudulentas. Anteontem, um representante do partido em Inhambane também afinou no mesmo diapasão, um tom, aliás, geral de reclamação dentro de um padrão comedido.

Raramente a Renamo confiou na justiça eleitoral mas, na semana passada, o Partido em Quelimane optou por reclamar em sede de Tribunal sobre a perda de editais. É esta postura serena que está a “incomodar” o regime, tanto mais que a Renamo diz que está a fazer a sua contagem paralela.

Por isso a “cabala” das manifestações violentas. A TV Miramar, cujo Director de Informação é um dos mais fanáticos da cartilha do G40, Rafael Shikani, fez de um post anónimo de facebook um assunto melindroso em termos diplomáticos, dando por facto consumado a alegação sobre uma pretensa instrução das embaixadas à Renamo. No mesmo saco de chancelarias conspiradoras colocou também a embaixada do Canadá por estar a fazer um inquérito sobre a ideia de um Governo de Unidade Nacional, na esteira da reacção de Dhlakama segundo a qual “um acordo político” seria o melhor desfecho depois de “eleições desorganizadas”.

“Não comentamos sobre mentiras”, reagiu uma fonte da Embaixada dos Estados Unidos da América. Por sua vez, Roberto Velhano, Embaixador da França, declarou que uma pretensão instruções cai fora da alçada da Embaixada e, Jose Duarte Duarte, Embaixador de Portugal, disse que aquela era uma informação que não fazia sentido. “Não dou instruções a ninguém”, asseverou ele.

Se a Renamo vai reagir de forma violenta ou não, isso ainda está na dúvida. A
postura de Dhlakama tem sido ainda um enigma. Observadores em Maputo crêem que ele vai evitar mais violência (depois de capitalizar bastante nas eleições) abrindo campo para a negociação de um estatutoprivilegiado de líder da oposição, com despesas e outras benesses pagas pelo Orçamento do Estado.

(Marcelo Mosse, MediaFax, 29.10.2014)

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