Páginas

sexta-feira, setembro 12, 2014

Professores abandonam as escolas em Muecate

Cresce o número de professores que abandonam as salas de aulas, no distrito de Muecate, na província de Nampula. Na origem desse fenómeno, os pedagogos apontam o não pagamento de salários, a falta de transparência na solução de problemas laborais por parte dos dirigentes dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT), as transferências desnecessárias e a incapacidade de gestão de pessoal.
Segundo os professores, a direcção que tutela o sector de Educação naquela circunscrição geográfica é o protagonista de acções que concorrem para a desistência de muitos funcionários. Por exemplo, se um funcionário adoece durante muito tempo, apesar de comunicar a situação, as suas faltas são consideradas injustificadas e, em consequência disso, sofre descontos no salário.
Os visados disseram ainda que a direcção invalida as justificações documentadas, ou seja, por mais que se apresente uma junta médica, esta é ignorada. Os professores que reivindicam o pagamento dos seus ordenados são ameaçados de instauração de processos disciplinares contra eles e, em alguns casos, são transferidos, imediatamente, para as zonas mais recônditas. Eurati Pinto Comuo, professor no distrito de Muecate desde 2009, diz ser vítima dessas e outras injustiças, desde Abril de 2012.
Ele teve um acidente de motorizada, na cidade Nampula, tendo-lhe sido amputados alguns dos seus dedos da mão esquerda, facto que ditou o seu internamento durante 40 dias no Hospital Central de Nampula. Comuo comunicou à sua instituição pontualmente sobre o seu estado de saúde, mas os dirigentes ignoraram a situação, acreditando que se tratava de uma justificação infundada. Quando melhorou, ele voltou ao seu posto de trabalho, mas não teve direito ao seu salário. Para reaver os seus honorários, foram necessários seis meses de muita batalha.
Comuo dirigiu-se à Direcção Provincial das Finanças, onde ficou a saber que os seus ordenados eram pagos todos os meses, facto que o levou a desconfiar de que o valor havia parado nas mãos de alguns funcionários dos SDEJT. Ele viria a ser transferido, três meses depois do sucedido, para a Zona de Influência Pedagógica (ZIP) de Imala na Escola Primária Completa com o mesmo nome, a 45 quilómetros da vila sede do distrito, facto considerado pelo professor como uma perseguição.
Inconformado com a sua movimentação brusca, o nosso entrevistado entrou em contacto com o chefe dos Recursos Humanos daquela instituição, Ambrósio Branquinho, para solicitar uma possível guia de marcha, mas foi em vão, apesar de ter apresentado motivos palusíveis. O professor Flávio Amisse Armando Tareque também foi vítima de injustiça no tocante ao seu salário. Padecendo de uma doença mental, ele viu-se desvinculado do quadro de pessoal do sector da Educação de Muecate sem que alguma diligência tenha sido tomada.
Quando o visado nos finais de 2012 comunicou o seu estado de saúde aos seus superiores hierárquicos, ele foi surpreendido com a suspensão dos seus ordenados. Após registar melhorias, Tareque apresentou-se no seu posto de trabalho, onde viria a ser colhido com a informação segundo a qual não lhe podiam ser atribuídas turmas, alegadamente por ter cometido inúmeras faltas injustificadas.
O pedagogo disse ao @Verdade que, por várias vezes, manteve, sem sucesso, contacto com o chefe dos Recursos Humanos cessante, Cipriano Constantino Pirai. Insatisfeito, Tareque resolveu abordar o assunto com o director dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia daquele ponto da província de Nampula, o qual se mostrou disponível a solucionar o caso, mas já lá vão mais de oito meses sem um resultado palpável.
“Não entendo porque os dirigentes de Educação em Muecate não acreditam que existem doenças no mundo”, lamentou. Outros professores abandonaram as turmas em Muecate por motivos pouco claros. É o caso de Faria Santos Muva, que exercia as suas funções na ZIP de Muculuoene.
Ele perdeu o seu posto de trabalho em Abril último, quando pediu uma despensa para ir visitar o seu pai que se encontrava doente. O @Verdade procurou ouvir a versão da Direcção dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia de Muecate. Pascoal Mozaico, director daquela instituição, confirmou os abandonos sistemáticos de professores e disse estar preocupado com o fenómeno, desconhecendo as causas.
Mozaico afirmou que tem sensibilizado os directores pedagógicos de modo a subcarregar o horário dos professores que continuam a trabalhar, embora reconheça as dificuldades que o sector enfrenta para o pagamento do turno e meio e as horas extras. Quanto à suspensão de salários, o nosso interlocutor revelou que o sector de Administração e Finanças tem trabalhado com as folhas de efectividade enviadas pelas escolas.
“Esses professores que se queixam de descontos e suspensão de salários têm abandonado as turmas para fazer táxi de motorizada e, não tendo alguma justificação, acabam por sofrer algumas sanções”, disse.


Fonte: @Verdade – 11.09.2014

Sem comentários:

Enviar um comentário