É verdade que os dois anos que durou a tensão político/militar, no território nacional, beliscaram o exemplo cada vez mais raro no continente africano e no mundo, mas não tirou, de todo, à República de Moçambique, o estatuto de exemplo a seguir, pelo menos, no que concerne à preservação da paz. Ainda bem que os moçambicanos, mais do que os dirigentes deste país, entenderam rapidamente que para trilhar os caminhos da paz é necessário, antes de tudo, trilhar os caminhos da reconciliação como filhos de uma mesma Nação.
Ficou claro que o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma, em 1992, apesar de no espírito fazer referência a questões que têm a ver com a rápida implementação de acções tendentes a unir e a reconciliar os moçambicanos, por descuido ou de forma deliberada, estas (acções) não tiveram lugar. É desta realidade que se acredita que tenha nascido a tensão político/ militar, realidade que, por pouco, colocava o país no caminho de uma nova guerra que poderia pôr em causa tudo que se construiu e se reconstruiu até aqui. Poderia também pôr em causa a boa reputação internacional que apesar dos pesares, o país ainda goza.
Na declaração da cessação das hostilidades, assinado na sexta-feira, Armando Guebuza e Afonso Dhlakama directa ou indirectamente tocaram no fenómeno “reconciliação”, como fenómeno que serve de pilar para a manutenção da paz.
Nisto, o Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, foi simplesmente conciso e certeiro na sua apresentação. Disse que o país devia, muito rapidamente, encontrar caminhos para evitar que “os factores de risco que nos levaram à confrontação ontem, não nos levem à nova confrontação amanhã”.
É um apelo carregado de um conteúdo profundo e que deve levar todos os amantes da paz à reflexão. Não tenhamos dúvidas nem devemos ter receios de dizer que, efectivamente, o país sentou durante todos estes últimos 20 anos (e continua sentado) num grande barril de pólvora que necessita que nos juntemos para encontrar linhas de fuga para que nunca e em nenhum momento chegue à fase da explosão.
Não devemos ter medo de dizer que o Estado precisa urgentemente de livrar-se do partido e o partido precisa de deixar de sugar, sobreviver e potenciar-se à custa do Estado.
Não devemos ter medo de dizer que a justiça não pode ser cega para uns e ter olhos para outros. Não devemos ter medo de dizer que o partido governamental deve, de uma vez por todas, deixar de hostilizar muitos funcionários do Estado só por pensarem e terem uma opção política diferente. Não devemos ter medo de dizer que precisamos urgentemente de ver as FDS (particularmente a Polícia) como entidade do Estado e não do partido. Não devemos ter medo de dizer que a riqueza do país deve deixar de ser “de alguns” em prejuízo da maioria.
Alguns dirão, dêem-nos exemplos que ilustram esta diferenciação no sentido de, quem de direito, poder agir. Nós responderíamos dizendo que os exemplos são vários.
Vamos dar apenas dois: O Comando Provincial da PRM da Zambézia já provou-nos que efectivamente é um órgão partidário. Recordarmo-nos da carta (relatório) confidencial interpelada pela imprensa em que, literalmente, a Polícia desculpava-se à Frelimo por não ter feito a sua parte (por a Polícia não ter feito a sua parte) para evitar a vitória Manuel de Araújo nas eleições intercalares de 07 de Dezembro de 2011.
O ponto 1 do referido relatório era: “causas da derrota do candidato do partido Frelimo”.
Já há poucas semanas, o CIP publicou com todas as provas necessárias e imaginárias, as artimanhas do roubo, à luz do dia, de dinheiros do Estado para suportar a campanha da Frelimo no distrito de Baruè, na província de Manica.
Perante um facto deste, somos de opinião que se houvesse seriedade no Estado e no partido, alguém já devia ter dado a cara: Uns para anunciarem que o assunto é serio e está a ser seguido para a responsabilização dos prevaricadores e outros para assumirem publicamente o roubo e pedirem desculpas ao povo.
Esta é a abordagem no que tange às responsabilidades do governo moçambicano e também do partido governamental.
Mas a Renamo também, como força da oposição e partido ilegalmente armado (à luz da lei) tem grandes responsabilidades na manutenção da paz e criação de um espírito verdadeiramente reconciliatório.
Na sexta-feira, o Presidente da República anunciou a criação de um “Fundo de Reconciliação Nacional”. O Presidente da República foi simplesmente claro e lúcido na explicitação e colocação das ideias subjacentes em torno Fundo. Disse que o Fundo não tinha como missão “distribuir dinheiros”, mas sim, espevitar o espírito empreendedor dos beneficiários.
Cabe, pois, à Renamo e seus membros, perceberem que não há governo nenhum do mundo que vai passar a vida a distribuir dinheiros. Cabe, assim, à Renamo, assegurar que o Fundo efectivamente espevite o espírito empreendedor para que os beneficiários, depois do start, consigam andar com as suas próprias pernas.
Portanto, estão de parabéns o Presidente da República, Armando Guebuza e o da Renamo, Afonso Dhlakama, por terem, de forma genuína ou obrigatória, colocar em primeiro lugar os interesses da maioria, os interesses dos moçambicanos.
Portanto, mais do que assinar um acordo, o mais importante é que as partes devem encontrar caminhos que assegurem a plena implementação do que foi assumido em cerimónia solene. Agindo assim, ainda vamos a tempo de provarmos à África e ao mundo que ainda somos um exemplo a ser seguido.
Editorial do MediaFax, 09/09/14
O que vai gerando sempre confusões, a mcel já fez sms deste género para seis clientes:" O candidato da FRELIMO, Filipe Nyusi, promete defender uma culturade respeito mutuo, de tolerância e de dialogo em nome da Paz, unidade e coesão.", não sri se admissível como empresa pública?!
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