MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá António
Como vai essa vida? Do meu lado está tudo bem, felizmente. Só que um bocado confuso. E explico- te porquê.
No último comício da presidência aberta na província de Maputo o Chefe de Estado falou sobre os problemas que o país atravessa atribuindo, como é hábito, as culpas todas à Renamo. E,
mais concretamente, a Afonso Dhlakama.
De uma forma geral, Armando Guebuza defendeu a ideia de que não é possível obter resultados positivos quando se lida com uma pessoa que está sempre a mudar o seu discurso.
Que diz hoje uma coisa e amanhã faz outra. E, para ilustrar esta acusação, deu dois exemplos: Que Dhlakama tinha prometido inviabilizar as eleições autárquicas e depois não inviabilizou e
que Dhlakama tinha ameaçado impedir o recenseamento eleitoral e depois não o fez.
Segundo a linha de pensamento do nosso Presidente, estas são formas negativas de actuar e torna-se muito difícil lidar com quem procede deste modo. E é isto que me deixa confuso.
Nos dois exemplos que foram apresentados houve ameaças de acções violentas para alterar a ordem pública e, depois, essas ameaças não se concretizaram.
O que, no meu ponto de vista, foi muito positivo. Mas, para Armando Guebuza, parece que foi negativo.
Será que ele preferia que Afonso Dhlakama não tivesse mudado de ideias e tivesse colocado o país a ferro e fogo para impedir as eleições e o recenseamento?
Custa-me a acreditar que sim, mas a escolha dos exemplos parece indicar nesse sentido.
Poderá acontecer que a estratégia do Executivo se baseava em que Dhlakama não mudaria de ideias e daria razão para acções militares que conduzissem ao desmantelamento da Renamo armada?
Quanto a mim foi bem melhor que as coisas tenham corrido como correram e a Renamo tenha mudado de ideias também a respeito da anterior ameaça de não participar nas próximas eleições. São mudanças de opinião, para mim, benvindas. Até alguém me explicar com clareza porque é que elas não permitem que o diálogo tenha sucesso.
E, já que te falo no diálogo, não sei se tens reparado que as rondas em que a delegação do Governo é dirigida pelo ministro Muthisse têm, normalmente, mais progressos do que quando é
dirigida pelo ministro Pacheco? Será questão de feitios ou de perspectivas diferentes perante as questões em debate?
Um abraço para ti do Machado da Graça
Fonte: CORREIO DA MANHÃ – 22.07.2014
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