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terça-feira, novembro 19, 2013

Analista desvaloriza receios perante reforço militar moçambicano

Em plena crise político-militar em Moçambique, a aquisição de equipamentos militares tem levantado preocupações. Mas Instituto Internacional de Investigações sobre a Paz fala em medidas de "segurança" e "crescimento".

Moçambique prepara-se para ir a votos esta quarta-feira, 20 de novembro, em clima de forte instabilidade política e militar. A campanha eleitoral decorre num ambiente marcado por escaramuças entre forças governamentais e homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), a principal força da oposição.

A isso junta-se um outro ingrediente: o recente reforço militar que alimenta preocupações na sociedade moçambicana. Surgem inquietações sobre a possibilidade de o governo fortalecer a sua resposta militar à RENAMO. No entanto, o Instituto Internacional de Investigações sobre a Paz, em Estocolmo, na Suécia, entende que Moçambique está modernizar-se militarmente para proteger os seus interesses e para crescer a nível regional.
Novos barcos e aviões para as Forças Armadas

Recorde-se que, em setembro, foi noticiada a compra pela EMATUM, Empresa Moçambicana de Atum, de 24 traineiras e seis barcos-patrulha à França. Pouco depois, o governo brasileiro anunciou que ia doar a Moçambique aeronaves T-27 Tucano, usadas normalmente para treino mas também com capacidade de ataque.

Além disso, recentemente, o Defense Web, portal sul-africano especializado em notícias sobre a área de Defesa em África, anunciou que a Força Aérea de Moçambique irá receber dois Antonov An 26 B, de transporte aéreo. Os equipamentos em segunda mão estão a ser remodelados na Ucrânia. E ainda segundo o Defense Web, a Força Aérea vai adquirir também oito aviões MiG 21, comprados à Aerostar da Roménia. Estes aparelhos são um tipo de caça, ou seja, normalmente utilizados para ataque aéreo.

Na análise de Siemon Wezeman, especialista do Instituto Internacional de Investigações sobre a Paz, em Estocolmo, SIPRI, estas aquisições são necessárias e chegam tarde.

"A mim surpreende-me que Moçambique não o tenha feito antes", afirma, explicando que "as Forças Armadas de Moçambique estão basicamente equipadas com armas que receberam da antiga União Soviética, há muitos anos atrás. Muitas já não funcionam ou estão desatualizadas pelo que não desempenham um papel adequado".

Uma aposta na segurança e no crescimento

Aquando da aquisição dos barcos, em França, o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, afirmou que o país precisa de garantir a proteção da costa e que as águas territoriais não sejam violadas.

Também o analista Siemon Wezeman vê as recentes aquisições como uma aposta na segurança face a ameaças externas, considerando que "a patrulha marítima é uma questão que tem que ver com a proteção dos interesses nos recursos económicos de Moçambique (como petróleo e gás por exemplo), mas também da pesca contra o aumento de piratas provenientes da Somália. E Moçambique basicamente não tem uma marinha. Depende de marinhas estrangeiras para se proteger, nomeadamente da marinha sul-africana que está ativa naquela zona".

Siemon Wezeman diz ainda que, com o reforço do poder militar, Moçambique pretende ter uma voz mais ativa na região do leste africano.

"Há países africanos a apelarem a outros Estados para desempenharem um papel mais ativo na manutenção da paz regional. E Moçambique é um desses países com ambição de participar em operações de manutenção de paz mas não têm meios", afirma o analista. "Mas o que Moçambique comprou ou está a planear comprar está ainda num nível muito baixo, mesmo para os padrões africanos. Estamos a falar de embarcações de patrulha, mas de tipo simples, aeronaves de transporte e potencialmente, alguns helicópteros", especifica, resslvando que "se compararmos com outros países africanos, como Uganda, Quénia e Angola, Moçambique está ainda num nível extremamente baixo".
Novos equipamentos podem dissuadir RENAMO, diz analista

As aquisições acontecem contudo num momento de instabilidade político-militar. Mas o analista põe água na fervura, pois a maioria dos equipamentos não tem poder de combate. Ainda assim. Siemon Wezeman entende que podem funcionar como disuasão.

"Por um lado, pode dizer-se que se o governo tem mais meios militares poderá derrotar a RENAMO, o que é muito difícil de prever dado que (a RENAMO) tem um importante apoio por parte da população. Por outro lado, pode-se esperar que ao tornar-se militarmente mais forte, o governo pode forçar a RENAMO a voltar a uma postura pacífica como teve nos últimos anos".

O Ministério da Defesa de Moçambique recusou dar qualquer esclarecimento sobre a aquisição de equipamentos militares.


Fonte: Deusche Welle – 19.11.2013

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