Páginas

sábado, junho 08, 2013

"E espero que todos nos lembremos disto quando formos exercer o nosso direito de voto este ano e em 2014"


Por Machado da Graça

Olá Júlio



Como estás tu, meu amigo? Do meu lado tudo bem, felizmente, principalmente nesta altura em que continua a greve dos médicos e restante pessoal da Saúde.
E é precisamente sobre essa greve que te quero falar hoje. Ou, mais exactamente, sobre as posições do Governo em relação a ela.
Como notaste, houve agora uma mudança radical na posição das autoridades. Depois de andar duas semanas a minimizar os efeitos da greve, dizendo que tudo estava a funcionar normalmente, o Governo decidiu, agora, dramatizar esses efeitos, reconhecendo que ela está a provocar sofrimento e, até, mortes. E, é claro, fazendo apelos aos profissionais da Saúde para regressarem aos seus postos de trabalho. E, com estes apelos, a acusação, indirecta, de serem eles os causadores deste sofrimento e dessas mortes.
Ora eu penso que temos que regressar às duas perguntas fundamentais:
- Quem é o causador desta greve?
- De quem depende acabar com ela?
E as respostas às duas perguntas parecem-me claras. O causador desta greve é o Governo que não cumpriu nenhuma das medidas que acordou com a Associação dos Médicos, no final da primeira greve, e que se recusou a qualquer diálogo desde essa primeira greve atéao início da segunda.
Por outro lado, para acabar com a actual greve a saída está nas mãos desse mesmo Governo.
E essa saída é a negociação séria com os trabalhadores da Saúde para se concluir, com
satisfação para as duas partes, o processo que foi desrespeitado pelo Governo depois de assinar o memorando com os médicos para terminar a primeira greve.
Mas, neste momento, o Governo volta a argumentar que o país é pobre e não tem dinheiro para pagar mais aos trabalhadores da Saúde. Argumento sempre usado quando se trata de melhorar as condições dos pobres e nunca usado para travar a ganância dos ricos.
Alguma vez tu ouviste alguém dizer que somos um país pobre quando se tratou de oferecer carros de luxo a todos os deputados da Assembleia da República? Ou quando se trata de pagar as despesas enormes do saltitar, em helicópteros, do Chefe do Estado de província em província? Ou quando se decidiu construir um estádio nacional, que nenhuma falta fazia, dado que é raríssimo conseguirmos encher o Estádio da Machava? Ou quando se decidiu realizar em Moçambique os Jogos Africanos?
Será que, num país pobre, a Presidência da República precisaria do enorme edifício agora em
construção, com heliporto incluído? Não bastavam o Palácio da Ponta Vermelha e os edifícios que foram sedes, antes da Independência, do Clube de Lourenço Marques e da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra? E precisaria dos 6 helicópteros que, segundo um membro do Governo russo, a nossa Presidência tenciona comprar naquele país?
Eu creio que há que acabar com esta demagogia do “país pobre” e substituí-la por uma definição correcta das prioridades na utilização dos recursos existentes.
E espero que todos nos lembremos disto quando formos exercer o nosso direito de voto este ano e em 2014.


Fonte: Correio da Manhã - 07.06.2013

Sem comentários:

Enviar um comentário