Daviz Simango em entrevista ao SAVANA
Por Emídio Beúla e Raul Senda Fotos de Urgel Matula
A o cabo de mais um mandato como
Pre-sidente da autar-quia da Beira, a segunda maior cidade do país, Daviz
Simango coloca a sua corrida ao terceiro mandato nas mãos dos militantes do MDM
que em Maio vão escolher os 43 candidatos às autárquicas de 20 de Novembro.
Reconhece os problemas de transitabilidade das estradas da Beira e avança com
soluções para um problema que diz ser mais complexo do que pode parecer. Aos
recados de alguns militantes seniores da Frelimo, ele responde na mesma medida,
dizendo, por exemplo, que “Guebuza é que tem pa-trões estrangeiros”. Acompanhe
a entrevista feita na tarde desta quarta-feira em Maputo, onde Daviz vinha
participar da reunião dos municípios, organizada pelo ministério da
Administração Estatal.
Faltam menos de 10 meses para o término do seu (segundo) mandato como
Presidente do Município da Beira. Das várias promessas que fez ao eleitorado, o
que é que conseguiu concretizar?
Nós concorremos para as eleições de 2008
com um programa vasto que assentava em alguns pilares básicos. Estamos a falar
do projecto de pro-tecção costeira, do projecto de saneamento e abastecimento
de água e do projecto de integração social das nos-sas comunidades.
Conseguiu materializar esse programa?
Em relação à protecção costeira
con-seguimos, através da conferência de doadores, mobilizar fundos. Vários
parceiros responderam positiva-mente às nossas solicitações e hoje estão a
decorrer obras de protecção costeira. A cooperação suíça finan-ciou com três
milhões e duzentos e cinquenta mil dólares (USD 3.250.000) e o Banco Mundial vai
financiar com 70 milhões de dólares (USD 70.000.000). O financiamen-to do Banco
Mundial está virado para as mudanças climáticas e vai consistir numa rede de
águas para a cidade da Beira. É uma malha de rede de águas para resolver o
prob-lema das inundações. Como sabem, Beira é uma cidade plana, erguida sobre
um pântano e as águas por si só não conseguem correr. É preciso que haja outro
tipo de exercício. Do Banco Mundial estamos também a mobilizar 15 milhões de
dólares (USD 15.000.000) para materializar a nossa intenção que consiste em de
criar condições para que as valas ab-ertas não sejam transformadas pelos munícipes
em depósitos de lixo e outros detritos sólidos. O Conselho Municipal pretende
privilegiar as margens das valas com arruamento e zonas de diversão para
desencorajar a prática de hábitos que contribuam para a degradação das mesmas.
Conseguimos mobilizar fundos do Banco Árabe para reabilitar as valas e
alargamento da rede de saneamento na zona de Macurungo. A abertura do canal de
Chiveve faz parte do programa das mudanças climáticas?
Sim, ainda na componente mudan-ças
climáticas mobilizámos cerca de 13.5 milhões de Euros através do Banco Alemão
KFW para a ab-ertura do canal de Chiveve. Neste momento, estão a decorrer
estudos e já nos apresentaram, na semana passada, três propostas alternativas
de abertura do canal. Nós enten-demos que com abertura do canal do Chiveve
estaremos a criar condições para a respiração da nossa cidade. Vai também
permitir o escoamento de águas nos bairros próximos do canal de Chiveve,
reduzindo assim as pos-sibilidades de inundações.
Avançámos na componente de abastecimento
de água. Na cidade da Beira existiam zonas que não tinham água potável. Estamos
a falar dos bairros de Muavi e Inhamizua que pela primeira vez tiveram rede
canalizada. Nem sempre é possível recorrer ao FIPAG (Fundo do Inves-timento e
Património de Abasteci-mento de Água), temos que recorrer a parceiros ou a
fundos próprios para comprar material de abastecimento da água potável.
Recentemente, a União Europeia financiou a reabilitação do sistema de
saneamento da Beira. Que ben-efícios isso trouxe para a cidade?
O programa de saneamento da ci-dade
consistia na reabilitação do sis-tema existente e não abrangeu novas zonas.
Estamos satisfeitos porque nas zonas onde houve reabilitação melhorámos o
aspecto ambiental, construímos uma ETAR (Estação de Tratamento de Águas
Residuais) que estava projectada desde os anos 60. Trata-se de uma ETAR que no
futuro o Conselho Municipal pode aproveitar para a produção de bio-gás. É
preciso dizer que durante o man-dato que este ano termina tivemos alguns
constrangimentos.
A que tipo de constrangimentos se refere?
A perda das sedes dos bairros. Era
preciso repor a administração a fun-cionar, daí que iniciámos com a con-strução
das sedes dos bairros e temos a impressão de que valeu a pena, pois temos
infra-estruturas novas e com adaptação para os jovens: tem sistema de internet
disponível para estudantes e alunos.
No fundo, neste mandato, notamos que na
cidade da Beira há um grande crescimento económico. As pequenas e médias
empresas começam a ter lugar e existem infra-estruturas. Só neste mandato
tivemos quatro hotéis novos, o que não acontecia há muitos anos.
Beira está hoje com estradas esburacadas, situação que contrasta com a
imagem de uma das melhores ci-dades em termos de gestão munici-pal. Ainda vai a
tempo de repor a transitabilidade das estradas da ci-dade?
A nível das estradas, a cidade da Beira
tem uma característica própria: O nosso pavimento torna-se sempre alagado,
sempre molhado e impróprio para o asfalto. Portanto, tivemos a iniciativa de
avançar com estradas de pavês.
No mandato anterior, já tínhamos feito
uma experiência idêntica em relação a Kruss Gomes, agora fize-mos a rua 33,
estamos a fazer a rua da Chota, estamos a fazer a rua do Vaz e este ano vamos
avançar com mais quatro. Estamos a fazer um estudo em relação à FPLM, que sai
da Praça da Independência em direcção ao Estoril, estamos a falar também da
estrada que parte do aeroporto em direcção à ponte, estamos a falar das ruas 2
e 6 e da rua da Base N’Tchinga. Algumas vão ser pavi-mentadas e outras vamos
reclassificar o pavimento existente, tornar a pôr a base para depois asfaltar.
Trabalhámos também nas ruas terciárias
nos bairros. No ano passado, houve um investimento extremamente grande do
município nas ruas que desde o tempo colonial nunca tinham sido trabalhadas.
Conseguimos fazer o trabalho, é verdade que em algumas ruas fomos infelizes com
as chuvas que caíram.
A avenida 24 de Julho, por exemplo, foi reabilitada há menos de dois anos,
mas hoje apresenta-se em péssimas condições de transitabilidade. É o problema
das chuvas que caíram?
É preciso compreender a com-posição
geológica dos solos da Beira. O problema da estrada 24 de Julho é que foi
construída ao logo da vala. Fomos infelizes porque na altura que abriram a vala
foram retirando solos para construir a base e a sub-base da estrada. Durante
muitos anos, essa estrada nunca foi pavimentada.
Nessa altura, circulava-se normal-mente
e não encontravam nenhum assentamento diferencial. Mas os camiões de grande
tonelagem não circulavam por lá. Quando iniciámos com a reparação da base e a
colo-cação do pavimento, os camiões de grande porte começaram a circular. E o
lodo começou a reagir e a estrada ficou degradada.
O município não previa a circulação de camiões de grande tonelagem por
aquela via? A reabilitação não foi antecedida por estudos económicos e de
engenharia?
Se não tivéssemos estudos, teríamos o
mesmo problema no prolongamento da Kruss Gomes, a partir da Munhava Matope em
direcção à lixeira. Tivemos fundo para reabili-tar aquela estrada, mas no
âmbito da construção do terminal de carvão (do Porto da Beira) notámos que os
camiões da empresa holandesa que entravam para a dragagem do porto e para os
aterros tinham 50 toneladas de eixo. E os fundos que nós tínham-os iam até o
máximo de 15 toneladas de eixo. Achámos por bem não fazer a estrada, senão
teríamos o mesmo problema da 24 de Julho. Estamos a negociar com algumas
empresas como a futura fábrica de cimento, a mineradora Jindal, para ver se em
conjunto podemos fazer uma estrada que possa atingir 50 toneladas eixo.
Senhor Presidente, até ao fim do seu mandato quais são as estradas que
estarão totalmente transitáveis?
É preciso compreender que Beira é uma
cidade com tanta estrada de terra batida e com tanto movimento de camiões e
quando chove tudo fica complicado. E é preciso compreender o que era a cidade
da Beira ontem e o que é a cidade da Beira hoje. A cidade da Beira não tinha o
volume de camiões que tem hoje.
Hoje temos em média 600/dia de alta
tonelagem que entram na cidade. Muitas das nossas estradas foram concebidas na
década de 70, e nessa altura os camiões que existam eram de três a quatro
toneladas. O que o município tentou fazer foi assegurar que as grandes estradas
que esvaziam a circulação de viaturas da zona urbana para a zona peri-urbana
funcionem. Hoje temos o orgulho de dizer que a primeira estrada, que é a rua da
Chota, hoje está sendo pavimentada e vai ser inaugurada.
Só para ver o esforço que o executivo
está a fazer, estamos a importar da Swazilândia as caixas para fazer a ponte.
Grande parte das estradas vão estar boas
até ao fim do mandato, sobretudo as de terra batida que foram intervencionadas
no ano passado e neste ano vai se passar a máquina niveladora. Não é possível
num mandato aterrar todas as estradas de terra batida. Neste momento, estamos
concentrados na substituição do asfalto por pavê, trocar a terra batida por
pavê. Já não queremos arriscar em asfalto, porque na cidade da Beira basta
chover o asfalto não funciona.
Gostaríamos de perceber uma coisa no projecto de protecção costeira em
curso na Beira: Quem mobilizou fundos foi o município ou foi o Governo Central?
Na altura em que arrancou o processo, eu
pessoalmente tive a opor-tunidade de estar na Alemanha para mobilizar fundos do
KFW, através do Banco Mundial. É preciso com-preender que no sistema financeiro
internacional os fundos mobilizados passam pelo Governo Central. Pelo que, por
mais que consiga mobilizar, há acordos internacionais que como moçambicanos
temos que respei-tar. Contudo, existem outros fundos que podem passar
directamente do financiador para o município. É o caso do fundo que mobilizámos
para o saneamento da Beira, onde a União Europeia pagava directamente aos empreiteiros.
As duas modalidades funcionam…
Sim. O importante é que estejamos
seguros, pois há situações pouco agradáveis. Por exemplo, nós beneficiámos de
um fundo da cooperação italiana para as autarquias, mas o que acontece é que
temos vários constrangimentos para aceder. Isso porque o fundo era directo,
depois passou para o Ministério de Administração Estatal e agora passou para os
governos provinciais. O que acontece agora é que aquilo que é a proposta do
Conselho Municipal, o principal beneficiário do fundo, acaba sendo censurado
pelo governo provincial.
Por exemplo, nós agora queríamos
adquirir dois camiões de lixo porque há interesse do Conselho Municipal nesse
sentido, mas o governo provin-cial disse que não, porque o município tem muitos
camiões de lixo. O governo provincial não sabe qual é a nossa necessidade nessa
matéria.
É que é preciso compreender que a vida útil
dos camiões de lixo é diferente de um carro normal.
Voltando à construção de novas sedes dos bairros, o município vai terminar
com o trabalho ainda neste mandato?
Pelas contas que tenho, agora vamos
entregar mais nove. Estão todas quase prontas, existe apenas uma por iniciar
que é a sede do bairro Vaz. Não iniciou com as outras porque tivemos problemas
de terrenos. Como pode imaginar, o próprio município também tem problemas de espaço.
Estamos a negociar com alguns privados que têm espaços para arrancarmos com as
obras. Imagine que se não tivéssemos problemas das sedes, que tipo de
investimentos em outras áreas poderíamos ter aplicado o dinheiro. É preciso
compreender que ao nível do Conselho Municipal da Beira conseguimos fazer algo
inédito: Todos os Centros de Saúde urbanos têm ambulâncias compradas pelo
Conselho Municipal.
E esses Centros de Saúde já passaram para a gestão do município?
Infelizmente, ainda há muitas jornadas
por acontecer. Mesmo agora na reunião dos municípios tive-mos oportunidade de
perguntar (ao Ministério da Administração Es-tatal) sobre isso, mas apenas
responderam que ainda se está em processo de harmonização. O Conselho Municipal
da Beira solicitou a transfer-ência de competências em 2007, hoje estamos em
2013, passam seis anos, e ainda continuamos na harmonização. Achamos nós que
não faz nenhum sentido, porque o Conselho Municipal da beira já solicitou. Hoje
fala-se de cinco cidades, Maputo, Matola, Chibuto, Xai-Xai e Pemba.
Agora a minha questão é: Porquê essas
cidades? Que níveis de gestão de centros têm essas cidades e que Beira não tem?
E ao nível da educação, o Conselho Municipal já recebeu algumas escolas?
A situação é a mesma.
Aqui também a justificação do Ministério da Administração Es-tatal é que o
município ainda não está preparado?
O problema não é o facto do município estar
ou não preparado. Há interesses políticos. Nós todos sabemos qual é o papel do
partido no poder junto a essas duas entidades (Educação e Saúde) em processos
eleitorais. Portanto, enquanto persistir esta situação de processos eleitorais
e interesses políticos é natural que eles não vão entregar. Não faz sentido
hoje entregar Xai-Xai e Pemba, autarquias que nem têm capacidade de recolha de
receitas. E nesta reunião de Maputo ficou claro que os municípios têm problemas
na recolha de receitas. Mas ninguém disse que a cidade da Beira não faz parte
dos municípios que têm problemas de recolha de receitas. O próprio relatório
apresentado estava vazio de conteúdo e espelha que não envolveu as autarquias.
Se envolveu, foram 41 autarquias e duas foram excluídas (Beira e Quelimane).
Mas a transferência de competências do Estado para os municípios representa
encargos para as autarquias?
O poder é para ser exercido e a lei é
para ser cumprida. Está claro na lei 02/97, de 18 de Fevereiro, que a gestão da
Saúde primária e da Educação primária são da responsabilidade do município. O
município da Beira conseguiu construir três Centros de Saúde, comprou
ambulâncias para todos esses centros e para outros que já existiam. Os salários
dos motoristas, o combustível e a manutenção dessas viaturas estão a cargo da
autarquia. Continuamos a fornecer regularmente carteiras a escolas e agora
vamos construir, com fundos próprios do município, uma escola que caiu em
Macuti.
O que é que mais resta para provarmos a
nossa capacidade de gestão?
E como está o processo de transferência do sistema de gestão dos transportes
públicos do Governo para o município da Beira.
Também fomos infelizes. Submete-mos a
proposta à Assembleia Municipal, mas rejeitaram a proposta. Tivemos
oportunidade de falar com o vice-ministro dos Transportes e Comunicações para
compreendermos como funciona o processo de transferência da gestão de transportes
públicos e a recomendação foi que era preciso criar uma empresa municipal de
transportes e a partir dela solicitar a transferência. A criação da empresa foi
recusada pela Assembleia Municipal e automaticamente todo o processo ficou
bloqueado.
Qual foi o argumento que a Assem-bleia Municipal apresentou para chumbar a
proposta?
Não apresentou nenhum argumento.
Apenas disse que não dava. E nós
tínhamos planeado dois modelos. No primeiro, o município recebia os resíduos da
empresa TPB e no seg-undo dizíamos que o que existe da empresa TPB sai muito
caro para o município, pelo que vamos comprar novos autocarros para o
transporte público na Beira.
O Governo Central transferiu recentemente a gestão do transporte público
urbano para os municípios de Maputo e Matola. Mas o município da capital do
país já está a abater alguns autocarros que herdou da empresa pública TPM. Não
teme receber prejuízos dos Transportes Públicos da Beira?
O problema é que por mais que os colegas
autarcas de Maputo e da Matola tivessem vontade de manifestar a sua indignação
perante o que receberam do Governo Central, não tinham muito espaço. Veja que o
Governo trouxe os autocarros de onde trouxe e entregou-os aos municípios para
gerir. Nós nãos íamos aceitar isso. Porque não é concebível hoje que se adquira
um equipamento que ao nível do mercado interno não se encontre sobressalentes
ou acessórios para a sua manutenção.
A Assembleia Municipal da Beira queixa-se que o Conselho Municipal às vezes
não cumpre com as suas deliberações. Por exemplo, a proposta da alteração dos
sentidos nas vias da cidade que foi reprovada pela Assembleia Municipal através
da deliberação N°42/AMB/2012. Mesmo assim, consta que o Conselho Municipal
avançou com a nova sinalização…
O Conselho Municipal trabalhou com a
Associação dos Transportadores da Beira, trabalhou com a Polícia Trânsito e
trabalhou com o INATTER e outras instituições vocacionadas na gestão
rodoviária.
Fizemos uma proposta concreta que foi
assinada por todas estas instituições especializadas e propusemos à aprovação
da Assembleia Municipal. Nós como Conselho Municipal tive-mos a iniciativa de
ir trabalhar com as instituições de Direito que nos aconselharam e o Conselho
Municipal simplesmente chumbou.
Imagine o nível da compreensão da
Assembleia Municipal, até ao ponto de chumbar instituições de Direito que
regulam o funcionamento rodoviário. É extremamente grave. O que fizemos é que
já havia um sinal num dos troços onde havia acidentes e era preciso agirmos.
São vias que registavam muitos acidentes. Portanto, não podíamos parar sabendo
que há vítimas humanas.
Temos outro exemplo em que o Conselho Municipal ignorou a deliberação
N°45/AMB/2012 da Assembleia Municipal que ordenava a devolução do espaço e
material de construção confiscado pelo município ao cidadão Samuel Rodrigues.
Até hoje o Conselho Municipal ainda não devolveu nada a este cidadão…
Não posso mentir, não estou a ver quem é
esse cidadão. Para responder precisaria de me inteirar junto dos colegas do
município.
O senhor Presidente não se lembra de nenhum conflito de terra que envolve o
município?
Conflitos de terra são tantos e vão
existir sempre. Eu poderei dar mais dados assim que souber quem é esse cidadão
e o que terá acontecido. Sei que tivemos várias petições na Assembleia
Municipal, mas algumas eram petições de burla, outras em que certos cidadãos
faziam-se passar por pessoas de boa fé e queriam burlar empresários e nós somos
rígidos quanto ao combate à corrupção. Temos também casos de membros da
Assembleia Municipal que vendiam terrenos e nós agimos contra eles.
O município é também acusado de expropriação das machambas dos munícipes e
em compensação paga, de forma indiscriminada, dois mil meticais. Não acha que
estão a cometer uma injustiça contra os munícipes?
Em Moçambique existem leis ligadas ao
Ministério da Agricultura que definem quanto custa uma árvore, uma árvore de
fruta, machambas, etc. O Conselho Municipal está a cumprir a lei que define
o custo de cada benfeitoria.
Mas temos de perceber que a cidade da
Beira é um pântano. Onde hoje existe o edifício do Conselho Municipal eram
machambas, onde existem todos os prédios eram pân-tanos. E por natureza
própria, os pântanos são favoráveis à produção de arroz em tempo de chuva e à
produção de batata-doce em tempo seco. E é assim como vivemos. Mas é preciso
compreender que a expansão urbana está a crescer e a gestão do solo urbano está
a cargo da autarquia. Nós temos um plano de estrutura urbana e fizemos uma
coisa inédita: Estamos a preparar o plano 2035 que vai integrar o porto, a
ex-pansão da energia, de água… Hoje o plano do próprio Porto da Beira está
ultrapassado, pois verifica-se um congestionamento de camiões.
E isso não pode acontecer, o porto tem
de expandir, tem de ter uma área de reserva tendo em conta a sua importância
para o desenvolvimento da cidade. Os camiões não podem continuar a entrar na
cidade para chegar ao porto, tem de se encontrar estradas direccionadas para a
zona portuária e industrial.
Como avalia a convivência política entre o Conselho Municipal e o
representante do Estado na Beira?
Nós temos um feitio próprio de estar.
Temos uma missão, temos um legado que nos foi incumbido pelos munícipes para
dirigir o município e tomar conta dos seus destinos. Naturalmente o Governo
entendeu nomear um representante do Estado que tem as funções próprias.
Portanto, nós não nos cruzamos com eles.
E com o Governador?
Cada um faz o seu papel. É verdade que
nas cerimónias púbicas trocamos abraços, o Conselho Municipal tem parcerias com
o governo provincial, assim como eles devem ter parcerias com o Conselho Municipal.
E assim vamos continuar nesse ambiente de trabalho.
Em Moçambique, os municípios ainda dependem do Governo Central em termos
financeiros. Em que nível estão os níveis de colecta de receitas no município
da Beira?
A cidade da Beira recebe fundos do
Governo Central através do Fundo de Compensação Autárquica, mas não está atado
a esses fundos. O Conselho Municipal esforça-se no aumento de receitas
internas. Exigimos metas aos nossos colectores de receitas e estão a lograr
sucessos. Nós começámos o primeiro mandato com receitas nos mercados na ordem
de oito mil meticais/dia e hoje estamos a cobrar 64 mil met-icais/dia. Os
mercados são uma das principais fontes de receitas.
Os nossos orçamentos andam por volta dos
700 a 800 milhões de meticais/ano e as colectas internas cobrem cerca de 60% do
nosso or-çamento. Por outro lado, a cidade da Beira é uma escola na gestão do fundo
da redução da pobreza urbana. Nós não fazemos o que acontece em outras cidades
onde os edis ou administradores entregam dinheiros. Nós recebemos a transferência
do Governo Central que são um pouco mais de 14 milhões de meticais e metemos no
Banco Terra. Os conselhos consultivos recebem e seleccionam os projectos e
submetem à revisão e estudo da viabilidade da comissão técnica constituída por
funcionários do Conselho Municipal e membros da sociedade civil. Este por sua
vez propõe a homologação dos projectos aprovados do Conselho Municipal. O nível
de desembolsos ultrapassou no primeiro ano sete milhões de meticais. Este é um
caso de estudo e de divulgação, mas ninguém divulga.
Recandidatura nas mãos dos partidários do MDM Senhor Presidente, está no
fim do seu segundo mandato, vai avançar para a corrida do terceiro mandato?
Eu sou cidadão filiado a um partido
político que é o Movimento Democrático de Moçambique. Os órgãos do partido é
que vão determinar quem são os candidatos aos municípios. A minha posição está
entregue ao partido. Pensamos nós que em Abril ou Maio o MDM fará apresentação
pública dos seus candidatos.
Se o MDM indicar o seu nome para candidato do partido na Beira, vai aceitar
disputar o terceiro mandato?
Eu continuo e continuarei a ser escravo
do partido e a servir o partido.
Há quem diga que se o MDM apostar num outro candidato para a Beira pode vir
a perder, porque há mais pessoas que apoiam a figura do presidente do município
tido como vítima da Renamo do que propriamente do partido.
O Daviz Simango nunca foi vítima nem
será vítima da Renamo. A minha expulsão foi normal, é uma coisa que acontece. O
Daviz Simango não venceu as eleições de 2008 por ter sido vítima, venceu porque
tinha uma equipa de trabalho que vinha exercendo algo palpável. E hoje, à
frente do município, Daviz mantém uma outra equipa profissionalizada. Eu penso
que qualquer elemento deste grupo de trabalho é elegível a presidente do
Conselho Municipal.
O MDM vai concorrer em todos os municípios?
Sim, vamos aos 43 municípios.
O partido considera a possibilidade de apoiar candidatos independentes?
Ao nível do MDM se aparecerem figuras
que se identificam com os manifestos do partido é claro que terão o nosso
apoio. Nós não somos egoístas. Somos por um Moçambique para todos, temos uma
visão patriótica, o que interessa o MDM é que de facto as figuras comunguem
connosco, tenham simpatias connosco e peguem nos nossos manifestos como cavalo
de batalha para o desafio eleitoral.
Guebuza é quem tem patrões estrangeiros nos seus negócios
Num passado recente, Sérgio Vieira disse ao SAVANA que o MDM era um partido
ao serviço de interesses estrangeiros e com agendas estranhas à nação
moçambicana. No último fim-de-semana, o Presidente Armando Guebuza, disse, na
qualidade de presidente da Frelimo, que chega de patrões estrangeiros.
Qual é opinião do presidente do MDM em relação a esses pronunciamentos?
É com certa tristeza que alguns ainda
continuam a comentar que o MDM está ao serviço de patrões estrangeiros. Os
grandes sócios de Guebuza nos seus negócios são estrangeiros, os grandes
assessores de Guebuza não são moçambicanos, os grandes financiadores e colaboradores
do Orçamento do Estado não são moçambicanos. Afinal de contas quem tem patrões
estrangeiros? É o próprio Armando Guebuza que tem patrões estrangeiros.
A primeira cidade moçambicana a assinar acordos de gemelagem com o
município da Beira foi Quelimane da era Araújo. Há quem diga que aquilo foi uma
estratégia para drenar dinheiro do município da Beira para Quelimane, numa altura
em que Araújo não tinha acesso às contas do município para implementar o seu
manifesto.
É preciso compreender que nós vamos
continuar a assistir tecnicamente o município de Quelimane.
Nós ganhámos Quelimane com muito suor,
precisamos de manter o município, precisamos de revalidar o mandato. Também é
preciso ver que o MDM é um partido que tem um departamento de governação local.
E este departamento harmoniza a forma de estar do MDM na sua governação local.
Por isso é natural que tivéssemos uma ge-melagem com o município de Quelimane,
permitindo dessa forma que a ideologia política e de governação do MDM se
mantenha.
É bom compreender que não se pode drenar
dinheiro de um município para outro município. É importante saber que o
município da Beira tem gemelagens com outros municípios e o mesmo sucede com
Quelimane.
Manuel de Araújo quando chegou à presidência do município de Quelimane
apostou naquilo que chamou de competência técnica, integrando no seu executivo
membros de outros partidos, como a Frelimo. Como é que o MDM encarou essa
situação?
Os edis são eleitos. Nós como partido
político não interferimos naquilo que é selecção a dedo das pessoas. Nós temos
um perfil próp-rio. Porém, é importante também que qualquer edil seja rodeado
de pessoas competentes, é natural que qualquer um de nós esteja rodeado de
pessoas que ajudam a resolver problemas e não pessoas que ven-ham apenas para
complicar.
A manutenção de vereadores que eram de Pio Matos não chegou a criar alguma
crispação no partido?
É preciso perceber que o mandato de
Quelimane foi extremamente curto, era preciso estudar o ambiente de Quelimane.
Era preciso aprender com essas pessoas como é que as coisas eram feitas e nós
aprendemos. Daviz Simango quando chegou no município da Beira também fez o
mesmo.
Tem mantido alguma relação com o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama?
Não falo com ele deste 2008.
Alguns analistas criticam aquilo a que chamam de concentração de poderes na
figura do presidente do MDM. Porque mudaram as regras de jogo?
Não é bem assim. O presidente do MDM não
concentra poderes. Porém, há situações próprias dum partido recém-criado que
devem ser percebidos.
Considera-se um homem rico?
Considero-me rico porque vou deixar um
legado. Na minha presidência no município da Beira aprendi e aprendo muito com
os munícipes, parceiros e colaboradores.
Estamos a falar do património. Temos informações de que o presidente está a
construir um condomínio em Inhamizua…
Sou moçambicano e como moçambicano
invisto no meu país. Tenho investimentos na área imobiliária. É muito
importante saber que muito antes de ser autarca já tinha esses investimentos.
Sou um engenheiro civil que chegou ao município da Beira com mais de 20 anos de
experiência.
Fonte: SAVANA –
29.03.2013
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