Por Luís Guevane
A tomada de posse de Obama para um segundo mandato como presidente dos Estado Unidos da América (EUA) espelha, de certo modo, o nível de democracia desenvolvido pelo país.
Fez-me lembrar, para o nosso caso, todo aquele que mesmo não sendo negro alguma vez concorreu para ser presidente da República de Moçambique. Obama pode ter concorrido para a presidência do seu país acompanhado pelo pseudo-problema de ser negro, aqui em Moçambique o entrave, para quem concorre às presidenciais, tem estado no facto de não ser negro.
Mas, será que um dia Moçambique poderá vir a ter um Presidente da República que não seja negro? É uma possibilidade a não descartar.
Da mesma forma que nunca passou pela cabeça de muitos norte-americanos em ter um presidente negro, olhando para Moçambique, está bem patente na consciência de um considerável número de moçambicanos, incluindo os “não negros”, que não se deve nem colocar como hipótese essa possibilidade de um dia virmos a ter um presidente “não negro”.
A América mostrou que uma possibilidade, transcorrido um determinado tempo, transforma-se num facto.
Nos EUA a escravatura marcou fortemente a história do país. Com a sua abolição os negros lutaram sempre pela ascensão na pirâmide social, seja através da política, do desporto, da cultura, etc. Tornaram-se cidadãos norte-americanos gozando de todos os direitos como qualquer outro. Interiorizaram e capitalizaram a ideia de que a “América é dos americanos”.
Em Moçambique, os “não negros”, concretamente os brancos, na esteira da colonização levaram consigo, mesmo depois da independência, o rótulo de colonizador, opressor, explorador, etc. Assim estereotipados pela consciência do dito Homem colonizado, oprimido, vítima da exploração, etc., muitos julgam que os “não negros” não têm a mínima possibilidade de “capturar o poder” a não ser que seja por imposição do sistema ou de alguma contrariedade que possa vir a criar um mal-estar social e político com todas as suas consequências. Mas, a verdade é que o tempo passa. Os laços de amizade fortificam-se. A moçambicanidade não é exclusiva dos negros.
O ser patriota desenvolve-se em todos os indivíduos que pertencem à Pátria moçambicana, independentemente da sua “identidade rácica”. Tudo isto diz-nos que qualquer moçambicano tem a possibilidade de um dia vir a ser presidente da república. O importante é que mostre trabalho que o faça ganhar alguma visibilidade e inspira forte confiança por parte do eleitorado.
Limpa-se, então, a cacimba que embacia a nossa mente e percebe-se que, ter um presidente “não negro” em Moçambique é uma hipótese a não descartar. É uma forte possibilidade futura.
Cá entre nós: a nossa estrutura etária continua fortemente dominada por jovens. É de admitir que, à medida que o tempo passa, haja por parte deles uma procura por novos ideais, diferentes dos daqueles que lutaram e/ou “viram” a independência e logo depois o “repolho com xima amarela”. A globalização imprime neles, e em todos outros, uma nova maneira de encarar a realidade. Por isso, se um dia tivermos um presidente branco ou “não negro” será por inerência do contexto desse momento e ninguém se admirará por esse facto. Moçambique é dos moçambicanos!
Fonte: SAVANA in Mocambique para todos – 25.01.2013
Ainda é muito cedo para isso. Ainda somos muito racistas para que tal possa acontecer.
ResponderEliminarMas mais do que isso, um presidente (ou seja quem for) é quem é! Se é branco, se é negro, ou amarelo, se é "straight", gay ou assexuado, se gosta de batata frita ou de puré, apenas demonstra diferença... E se fôssemos todos iguais???
Concordo consigo Rui Durão. A esperanca é que a maioria dos mocambicanos entenda que mocambicanos, somos de todas as cores de pele.
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