Mc Roger sente-se abandonado por Guebuza (na íntegra)

- O cantor considera que não se pode baixar a auto-estima de quem a promove

Por Abdul Sulemane

O cantor Mc Roger afirma que o Presidente da República, Armando Guebuza, não acarinha os que acreditaram nos seus ideiais, principalmente a classe artística. O cantor afirma que o Projecto Auto-Estima está parado por falta de financiamento e não entende a razão do distanciamento por parte do executivo no seu projecto, porque este enquadra-se no discurso de Guebuza. Mc Roger considera que o Presidente não

está a par, ou a ser mal aconselhado sobre o seu projecto. “Fui a várias empresas públicas pedir patrocínios para organizar espectáculos nas províncias onde ia levar muitos músicos moçambicanos para falarmos da importância da paz e da auto-estima.

Recusaram o patrocínio. Passados 15 dias trouxeram músicos de Paris e Holanda pagando um valor alto, que se eu disser aqui pode ferir sensibilidades. Porém, não houve dinheiro para fazermos concertos com artistas nacionais. Acho que é dessas coisas que o presidente não está a par”, disse Mc Roger em entrevista ao SAVANA.

SAVANA - Na sua opinião o presidente da República não olha para a juventude?

Mc Roger - Não disse que não olhava para juventude. Não está a acarinhar aqueles que acreditaram nos seus ideais e fizeram campanha por ele. Neste caso particular posso falar de mim. Acho que é do conhecimento do público que sou o artista número um, o mais assumido, aquele que mais enaltece a questão pátria e auto-estima. Sou aquele que mais valoriza a figura do presidente Armando Guebuza. Sinto que ultimamente ele tem estado um pouco distante desses jovens que foram importantes na medida

em que influenciam massas.

S - Como deveriam ser acarinhados esses jovens?

MR - É uma classe que não está muito bem e tem uma série de problemas. É preciso que algumas coisas

saiam do discurso para a prática.

S - O projecto Auto-Estima não é acarinhado pelo Presidente da República? Acha que está a distanciar-se desses jovens?

MR - Eu tenho o projecto Auto-Estima, não somos nós jovens que nos estamos a distanciar. Acho que é o contrário. No meu caso particular não sinto o carinho de que me apercebi por parte do Presidente Guebuza no primeiro mandato. Ele era um homem extremamente preocupado com aquilo que os jovens queriam fazer. Só para se ter uma ideia, depois de pedir um encontro era possível numa semana ser recebido e ouvido pelo presidente.

Depois de fazer um trabalho que eu considero visível, notório, estou há mais de sete meses a espera de ser recebido para falar do projecto Auto-Estima. Este é um projecto que devia merecer um carinho do

executivo porque enquadra-se no discurso do chefe do estado. O presidente fala muito da auto-estima, de amarmos a pátria que ele a enaltece todas as vezes que discursa.

S - Qual a preocupação de Mc Roger no momento?

MR - Eu tenho contas do projecto Auto-Estima por pagar, porque é sustentado pelo meu bolso. Há spots que fiz em que parabenizava o presidente e o executivo por terem conseguido que a Cahora Bassa fosse nossa. Paguei tudo isso com mesadas que guardei para as minhas filhas. Porque não tinha apoios.

S - Quem tinha de apoiar o projecto

na sua opinião? O Presidente?

MR - Questões patrióticas têm que ser mobilizadas e o executivo deve apoiá-las. Como é que este país não tem dinheiro para apoiar este projecto que visa promover a pátria e moçambicanidade. Se eu sou apoiante do presidente também tenho de estar em condições de me pronunciar quando algo não está

bem. Sou um artista que promove Moçambique através da música. Acho que o Presidente Guebuza não está a par ou é mal aconselhado sobre coisas do projecto Auto-Estima. Não consigo ver outra explicação pois, é um projecto aglutinador. Nenhum projecto juvenil já conseguiu reunir muitas pessoas para mesma causa. Eu trouxe os melhores artistas da nova geração que estão a fazer sucesso, escritores, jornalistas, religiosos. Pessoas respeitadas e com credibilidade.

S – Actualmente o projecto encontra-se parado. É por falta de financiamento?

MR - O projecto está parado porque os spots que iam ao ar durante muito tempo a homenagear o presidente estavam a ser custeados por mim porque não tenho apoio. Fui a várias empresas públicas pedir patrocínios para organizar espectáculos nas províncias onde ia levar muitos músicos moçambicanos para falarmos da importância da paz e da auto-estima mas, recusaram o patrocínio.

S - O apelo que fazes é direccionado para quem exactamente?

MR - Faço um apelo para que o nosso presidente veja as áreas que precisam ser potenciadas. A área da cultura e da promoção da moçambicanidade é uma delas e não é possível ser potenciadas sem investimentos financeiros. A música de Angola tem tanta força porque é apoiada pelo seu governo. Por isso até aqui faz-se presente. O projecto Auto-Estima tinha esse objectivo, tornar a música moçambicana mais ouvida, entretanto, não posso fazer isso sozinho. O governo não se pode alhear dum projecto que está no discurso do Presidente da República.

S - Considera que o seu projecto foi marginalizado?

MR - O presidente viu que é um projecto que podia avançar. Mas, uma coisa é dizer que é bonito e outra é dar um apoio financeiro para nós, a escala nacional, levantarmos a auto-estima. Agora quando percebo que houve iniciativas em que o meu projecto não foi convidado, isso deixa-me preocupado. Aquando da Gala da reversão da HCB em Tete o projecto Auto-estima não foi convidado, enquanto fui o artista que mais cantou sobre o HCB. Não se pode baixar a auto-estima de quem promove a auto-estima.

S - Sempre foi próximo do presidente. Era convidado a participar em convívios. Na comemoração dos 70 anos do presidente Armando Guebuza não foi convidado?

MR - Só o presidente da República pode dizer porque é que não se lembrou no seu aniversário que há um cantor que dá a cara por ele nos palcos. Aliás, no dia anterior ao aniversário dele eu cantei no concerto realizado no Parque dos Continuadores e fui o único artista que fez uma dedicação em pleno show. Dediquei-lhe uma música. Ele tem direito de convidar quem quiser. Eu faço a minha parte. Não promovo a moçambicanidade por causa das festas. As vezes as coisas que tentamos lhe fazer chegar não chegam até ele. Se ele sabe que o projecto auto-estima não tem apoio financeiro e que paguei os spots que promoviam a sua imagem. Ele próprio sabe que eu sou pobre e não tem tomado nenhuma atitude. Isso aí para mim é preocupante. Nota: acompanhe a entrevista na íntegra, nesta sexta-feira, às 16horas, na Radio SAVANA FM 100.2 Mhz

Fonte: SAVANA – 25.01.2013