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quinta-feira, dezembro 13, 2012

´Urge democratizar os governos africanos´, considera Pedro Pires em Maputo

O antigo Presidente cabo-verdiano defende que a África deve continuar com o processo da sua libertação, uma vez que apesar dos países do continente estarem independentes ainda não estão livres.
Pires defendeu essa necessidade durante a Conferência Africana da Juventude sobre Democracia e Boa-Governação, um evento organizado pela agremiação moçambicana Parlamento Juvenil e que termina hoje em Maputo.

Falando num painel sobre Democracia e Boa-Governação em África – que também contou com a comunicação do antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano – Pedro Pires disse que, não estando livre, a perspectiva de África para o futuro deve ser de continuar com o processo da sua libertação.
“É crucial continuar o processo da libertação para que venhamos a ser livres. Mas isso é uma conquista ou uma obra progressiva. Vamos avançando e melhorando. Libertação significa reduzirmos os graus de dependência nos mais diversos domínios”, disse o antigo estadista cabo-verdiano e Prémio Mo-Hibrahimo sobre boa-governação no continente – a semelhança do antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano.
Segundo Pires, a mesma perspectiva deve ser aplicada na questão de democracia, onde ao invés da democracia o desafio dos estados africanos deve ser a sua democratização.
“Vamos trabalhar para a democratização progressiva dos regimes africanos, das sociedades africanas e melhor ainda se nós conseguirmos a democratização das relações internacionais - porque nos dizem democracia em casa, mas não nos dizem que deve haver uma democracia no plano internacional”, disse a fonte.
Contudo, ele defendeu que, para alcançar essas metas – como qualquer outra – um dos grandes desafios de África é assumir a sua identidade, mas isso não irá acontecer enquanto o continente não descobrir e assumir a sua própria história de modo a reforçar a sua auto-estima.
Para Pedro Pires, isso passa pela valorização das lutas de resistência travadas pelos antepassados africanos contra os regimes coloniais e reconhecer que as actuais gerações têm dívidas enormes para com esses heróis. 
“Nós devemos muito aqueles que nos antecederam. Mesmo os jovens de hoje tem de saber que eles devem muito aqueles que lhes antecederam porque não há rotura na história. Há sim um processo cumulativo. O que fazemos hoje, outros farão melhor amanhã. De modo que é nesta perspectiva gradualista e de acumulação que devemos ver o desenvolvimento dos nossos países e da nossa história”, disse ele.
“É fundamental que a nossa auto-estima esteja elevada e que tenhamos sobretudo o orgulho de sermos africanos. Se nós perdemos o orgulho porque os outros estão melhores ou porque os outros estão mais desenvolvidos, como se costuma dizer – embora o desenvolvimento e a cultura sejam uma questão discutível – é crucial que nós tenhamos o orgulho, a auto-estima porque só assim podemos enfrentar as dificuldades”, disse o antigo estadista cabo-verdiano.
“Para mim, isso é crucial porque vivemos num mundo do instantâneo. Tudo acontece em segundos e o mundo do instantâneo parece que tem o defeito de desmemorizar as pessoas porque o que acontece hoje elimina o que aconteceu ontem e o que acontece amanhã elimina o de hoje. Então, temos que ter cuidado com esse risco”, acrescentou ele.
Por outro lado, ele disse que para vencer os desafios o mais importante é ter um sentido de vida, um projecto de vida bem como um sentido de responsabilidade e compromisso com a sociedade.
“Todos nós devemos alguma coisa a nossa sociedade e o compromisso com a nossa sociedade é trabalharmos para que ela evoluía, cresça e se transforme num bom sentido”, sublinhou Pires.

Fonte: Rádio Mocambique/AIM - 13.12.2012

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