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domingo, dezembro 09, 2012

Presidente egípcio disposto a rever os seus poderes

Mohammed-Mursi-egipto
O presidente egípcio, Mohamed Mursi, parecia neste sábado pronto para fazer concessões frente ao movimento de contestação contra a ampliação dos seus poderes e contra um projecto de Constituição, após um apelo do Exército ao diálogo para evitar um "desastre" no país.

O primeiro-ministro Hicham Qandil declarou que um comité de seis especialistas havia sido encarregado de "modificar" o decreto de 22 de novembro por meio do qual o presidente islamita ampliou os seus poderes e os colocou fora do alcance de qualquer recurso à justiça, desencadeando a pior crise política desde a sua eleição no final de junho. Os trabalhos do comité deviam terminar no sábado à noite ou no domingo de manhã, acrescentou o Hicham numa entrevista concedida a uma rede de televisão privada.

Mursi também pediu "que seja encontrada uma solução jurídica que permita adiar o referendo" sobre um projecto de Constituição também muito criticado pela oposição, previsto para 15 de dezembro, acrescentou Qandil. Esse anúncio foi feito pouco depois de a principal coligação opositora, a Frente da Salvação Nacional (FSN), ter pedido a manutenção do movimento de protesto até que as suas "reivindicações legítimas e pacíficas se concretizem".

O FSN também fez uma ameaça de greve geral. Mas as formações islamitas que apoiam Mursi, entre elas o poderoso movimento da Irmandade Muçulmana do presidente, aumentaram o tom, recusando categoricamente qualquer adiamento do referendo constitucional.

Durante esta jornada repleta de reviravoltas, o influente Exército egípcio saiu das sombras e fez um apelo para que governo e oposição dialoguem para evitar "um desastre" no país, algo que as Forças Armadas não permitirão. Nos últimos dias, o Exército garantiu a protecção do palácio presidencial do Cairo, que foi alvo de manifestações, sempre deixando claro que não actuaria com violência. O Exército desempenha tradicionalmente um papel importante no Egipto, mesmo que Mursi, primeiro presidente civil do país, o tenha deixado menos presente em agosto, aposentando o seu chefe, o marechal Hussein Tantawi.

"Caminho obscuro": No seu comunicado, o Exército alertou que, sem diálogo, o Egipto pode entrar "num caminho obscuro que conduziria a um desastre", algo que a instituição militar "não permitirá". Pede também o "respeito às regras democráticas".

A oposição fez da anulação do decreto uma das suas principais reivindicações, juntamente com o adiamento da consulta sobre a Constituição. Os manifestantes exigem mais tempo, o que permitiria, segundo eles, elaborar um texto mais consensual. Eles consideram que o projecto actual pode abrir caminho para uma islamização maior da legislação e que não oferece garantias para as liberdades, principalmente de expressão e de religião.

Na quinta-feira, num discurso à nação, Mursi mostrou-se firme sobre esses dois pontos, mas convidou a oposição para o diálogo. No dia seguinte, o vice-presidente, Mahmud Mekki, anunciou que um adiamento do referendo podia ser discutido, com a condição de que a oposição não fizesse uso desse adiamento para tentar anular o texto na justiça. Exigindo uma mudança no texto, pequenos grupos de manifestantes continuam a reunir-se nas imediações do palácio presidencial, epicentro das grandes manifestações de egípcios favoráveis e contrários a Mursi nos últimos dias, e colocada sob forte protecção de soldados e tanques, que bloqueiam o acesso ao prédio. Mais de 10.000 opositores se reuniram diante da Presidência na sexta. Vários deles chegaram a cruzar a cerca de arame farpado para se aproximar do palácio, mas não houve incidentes maiores.

Confrontos entre manifestantes pró e anti-Mursi haviam causado de quarta para quinta-feira sete mortos e centenas de feridos nas proximidades do palácio.

Fonte: Rádio Mocambique - 09.12.2012

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