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domingo, julho 15, 2012

Religiosos alertam para contraste entre aumento de igrejas e "crimes hediondos"

Lideres religiosos em Manica, centro de Moçambique, condenam a "degradação moral" da população, que dizem ter resultado em "crimes hediondos", o que contrasta com o aumento no número de igrejas na região.
"O evangelho está a crescer, no número de igrejas, mas o cumprimento da mensagem não está a crescer. A mensagem de Deus diz ouvir e cumprir, mas são muitos crentes que não cumprem, daí os crimes hediondos contra um ser igual", disse à Lusa José Madeira, pastor da Igreja Evangélica Assembleia Livre de Moçambique.
Nos últimos dias, vários crimes, raptos e homicídios, sobretudo contra crianças e mulheres, têm chocado as comunidades dos distritos da província de Manica, o que leva as igrejas a clamarem por um rápido trabalho social sob o risco de se chegar a um "fosso sem saída".
Na semana passada, um casal matou um filho de três anos em Dacata, distrito de Mossurize, sul de Manica, quando tentava extrair sangue, através de uma veia, para alegadamente ser usado num ritual satânico.
Na mesma altura, em Dombe, distrito de Sussundenga, um homem matou uma mulher à paulada, para depois lhe extrair o lábio superior da boca, dedos da mão esquerda e os órgãos genitais. Segundo a polícia, os órgãos seriam usados para "ritual e enriquecimento ilícito".
O Tribunal Judicial Provincial de Manica julgou até junho deste ano pelo menos dois casos de rapto e tráfico de menores, com homicídio. Em 2010 o mesmo tribunal julgou sete processos em que 17 pessoas ficaram condenadas, entre empresários e curandeiros.
"As pessoas querem um enriquecimento rápido sem trabalhar e isso é contra os princípios religiosos. Precisa-se ensinar o amor ao próximo, para que as pessoas se convertam de verdade e sejam humildes", disse à Lusa Jonh Moyo, pastor da igreja Assembleia de Deus.
Para José Madeira a situação representa um desafio, porque "a igreja como comunidade deve trabalhar para ser salva, não haver ações estranhas e pecados dentro da igreja - corrupção, prostituição, casamentos prematuros e poligamia - para que os criminosos não se disfarcem de crentes".
Estatísticas indicam que 257 igrejas estão registadas oficialmente em Manica, com mais de cinco mil templos distribuídos pelas filiais e sucursais nos 10 distritos da província que conta com 1,7 milhões de habitantes.
As autoridades religiosas também admitem que os crimes estejam aliados ao obscurantismo e exortam os praticantes da medicina tradicional a evitarem o uso de "sangue e ou órgãos humanos".
O presidente da Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO) na província de Manica, Adelino Mutata disse que são frequentes as acusações sobre envolvimento de médicos tradicionais na prática de extração de órgãos genitais para a atividade tradicional, mas "nenhum foi apanhado".
"A força satânica será mais forte na medida que aumentarem as igrejas para pregar a palavra de Deus. É contra essa força que as igrejas precisam trabalhar e censurar a atitude da comunidade na prática do crime. Realmente os crimes hediondos precisam acabar e isso precisa unificação das mensagens e postura (das igrejas)", disse à Lusa Saimon Ukossimuni, da seita Joanhmarrangue, que autoriza poligamia e proíbe a medicina convencional. (André Catueira)
AYAC
Lusa/Fim

Fonte: Notícias Sapo – 15.07.2012

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