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terça-feira, julho 24, 2012

Quem pára estes burlões?

Editorial


Os moçambicanos continuam a ser burlados pelo Governo do partido Frelimo. Nas festas nacionais deixa-se para trás o País, Moçambique, para se andar a evocar o partido Frelimo. Em vez de se evocar o que de facto nos une e é comum a todos nas festas que deveriam ser nacionais só se vêem símbolos do partido que está no Governo.

O partido Frelimo usa e abusa de fundos dos contribuintes para financiar actividades partidárias.
O Governo está sempre a alegar que não tem dinheiro para levar água potável a quem precisa, mas logo a seguir gasta milhões em festas com o pretexto de se tratar de assuntos nacionais mas que acabam sendo festas partidárias do partido do PR que é simultaneamente chefe do Governo.

O Governo diz que não tem dinheiro para arranjar as estradas, mas quando o chefe desse mesmo Governo vai visitar algum local aparece logo o dinheiro para mascarar tudo e fazer-se de conta, nem que seja por umas horas ou meia dúzia de dias, que tudo está indo, que tudo está lindo.

O partido Frelimo instala células nas instituições governamentais, usa recursos materiais e humanos do Estado para o seu funcionamento e todos nós continuamos a pagar impostos para assistirmos impotentes às burlas organizadas com o nosso dinheiro.

Na qualidade de presidente da República, sendo ele simultaneamente chefe do Governo que não se cansa de repetir que não tem dinheiro para pagar melhores pensões de reforma aos que trabalharam toda a vida a descontar, Armando Guebuza viaja para as províncias, distritos e localidades, com fundos do Estado, gasta milhões, e para isso nunca há falta de verba.

Gasta milhões do Estado para ir orientar reuniões partidárias, ou seja, para ir promover a sua imagem e do seu partido. Usa dinheiro dos contribuintes, do erário público, para futilidades e diz não ter dinheiro para o que é importante para o País e os seus cidadãos.
Diz que faz isso fora de horas, mas usa instalações do Estado.

Chega até a reunir simultaneamente o partido com o Governo, depois quer que os cidadãos respeitem instituições públicas viciadas.

Sempre que há eleições no País o partido Frelimo mobiliza recursos – viagens na LAM, viaturas, funcionários e toda uma série de bens do Estado para as campanhas eleitorais. Até mobiliza a Policia para prender quem possa vigiar o partido Frelimo e dificultar as tentativas de fraude.

Quando um ministro tem alguma incumbência partidária logo se inventa uma actividade qualquer do Estado na área do seu pelouro para o local onde há que realizar tarefas do partido Frelimo.
Há tarefas do Congresso do partido Frelimo, viaja-se com tudo pago pelo Estado. Inventam-se subterfúgios para iludir os cidadãos que ainda se deixem iludir.

Gastam-se muitos milhões de dólares norte-americanos e milhões de meticais a organizar um Congresso e a PGR não vai investigar para dizer aos cidadãos de onde provém tanto dinheiro.

O Estado está claramente nas mãos de uma entidade privada – o partido Frelimo – e depois querem que os cidadãos respeitem instituições que não fazem nada para se darem ao respeito?

Precisamente na semana passada, os contribuintes moçambicanos voltaram a pagar a festa dos camaradas. Cinco (5) milhões de meticais foi o que custou a organização do dito VII Festival Nacional da Cultura, na cidade de Nampula, referem os dados oficiais apresentados pelo Governo. O objectivo declarado do evento era promover a cultura moçambicana, mas o que se viu foi figuras, fundos e um evento alegadamente do Estado a servir, mais uma vez, os propósitos propagandísticos do partido no poder.

O evento presidido pelo próprio presidente da República que é simultaneamente presidente do partido Frelimo, Armando Guebuza, foi mais de exaltação do partido Frelimo do que de Moçambique.

No dia 11 de Julho, na abertura do festival, agitaram-se mais bandeiras do partido Frelimo do que da República de Moçambique; venderam-se t-shirts, bonés e outros materiais de propaganda do partido no poder e não dos fazedores da cultura, nem símbolos de Moçambique.

O Estado paga os eventos mas neles não se vêem símbolos nacionais.

Só há símbolos do partido Frelimo.

O director Nacional do Festival, Izidine Fakira, disse que o festival iria homenagear a dança Nhau, da província de Tete, e o instrumento musical Tímbila, de Inhambane, bem como os músicos da velha guarda, mas viu-se mais o partido Frelimo a dar nas vistas do que os fazedores da cultura e os nossos instrumentos musicais a serem homenageados.

Nos cinco dias que decorreu o dito festival da cultura não se viram os artistas, os intelectuais e os fazedores da cultura. Viram-se políticos de pastinhas lili debaixo dos braços e falou-se mais do partido Frelimo do que de outra coisa.

Nas bancas montadas no local onde decorreu o festival, vendiam- se produtos de propaganda do partido no poder, no lugar de instrumentos culturais nacionais e de símbolos evocativos de Moçambique.

Os 5 milhões de meticais pagos pelos contribuintes moçambicanos pela organização do festival, na verdade foram mais uma vez para financiar a campanha propagandística do partido Frelimo em Nampula.

Num País a sério já alguém teria posto o guizo ao pato. Aqui a PGR continua comprada pelas benesses e calada. Não se vê um único magistrado a dar ao menos o exemplo e a recusar-se a trabalhar para este Estado em que imperam os burlões.

É caso para perguntarmos: se os cidadãos se recusarem a pagar impostos enquanto quem gere o Estado não se deixar destes abusos, algum tribunal se julgará legítimo para condenar esses cidadãos?

Canal de Moçambique in Moçambique para todos – 18.07.2012

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