Por Ivone Soares*
Falar de África, dos africanos, dos Governos e suas
excentricidades é sem duvida apaixonante. Encontramos um pouco de tudo no
continente africano e, particularmente, sendo eu jovem, adoro inteirar-me do
que se passa nos países da região, dos problemas e progressos que o continente
tem e regista. Para tal, tenho lido muito sobre a minha África sobre o seu
passado e converso com os mais velhos, “arranco-lhes” histórias que não estão
escritas e perpetuadas em parte alguma, delicio-me convivendo com esses ‘’poços
de sabedoria’’ e deleito-me a cada nova narrativa que leio. Claramente, nota-se
que tenho muito amor pelo meu continente, pelo meu país, Moçambique, e é por
amar a minha terra que me custa calar quando julgo ter uma opinião a emitir.
Nao fosse a corrupção, as guerras, a cobiça
desmedida de alguns governantes africanos... não fossem as crises, epidemias,
as bolsas de fome, a subnutrição, miséria, calamidades, baixa esperança de
vida, alta mortalidade infantil...nao fosse a mania de certos dirigentes
imporem seus governos inamovíveis, totalitários, gestores de tudo e mais alguma
coisa (onde seus partidários gerem as participações do Estado desde o nível
macro até aoâmbito informal)...não fosse o fraco investimento na educação
para acabar com o analfabetismo, não fosse a existência de tantos conflitos eu
escreveria muitas linhas cor-de-rosa.
Tão rico como se tem mostrado, no continente
africano ainda persiste a pobreza absoluta. O exemplo mais gritante que me
salta aos olhos agora é dos luxuosos hoteis que vao sendo erguidos na capital
africana e que contrastam com as casas de palha, madeira e zinco, casas de
pau-pique.
Em nome do desenvolvimento, a riqueza extrema
coabita com a pobreza absoluta. Com muitas desvantagens pós-coloniais, a África
e os africanos sofrem. O crime, a cobiça e a morte parece que viraram a ordem
do dia, fazem parte do nosso dia a dia, do nosso quotidiano.
Tendo um pouco de tempo, recomendo o filme Affrica
Addio, feito por italianos, nos anos 60. A confusão então
ficcionada, hoje continua.
Não estranha que uns prefiram dinheiro fácil e aos
seus dão de beber na fonte. O dizer popular dos nossos dias é follow
the money ou seja, acompanhe o
dinheiro, saber onde ele flui ou vai... tornou-se uma vantagem
competitiva.
Devemos debater-nos por ter Governos que pautem
pela transparência. Enquanto os Governos sangue-sugas são pela invisibilidade,
os governados querem transparência e puxam a corda.
De forma interessante estou a testemunhar aqui nos
Estados Unidos da América como flui a democracia, a transparência e como actuam
os Políticos na Oposição, a sociedade civil, a comunicação social. Enfim,
qualquer cidadão pode aceder as contas públicas, suas cifras e seu destino sem
precisar de artemanhas...estou a falar da maior democracia do mundo que são os
USA. Dirão que sou anti-patriota, mas precavi-me nos primeiros parágrafos. Deixei
bem claro quanto amo o meu continente, o quanto amo Moçambique. Os Americanos,
os Europeus, deixam acessíveis os budgets e sua aplicação em
nome da transparência. O porquê de alguns governos africanos serem pela
invisibilidade? Nem sei responder!
Nalguns paises desenvolvidos, para se efectuar um
lançamento público de bónus na praça internacional, especialmente nos EUA e
Japão, prescreve-se que o pedido de registro e o prospecto contenham a plena
divulgação das cifras nacionais.
No nosso caso, acontece tudo ao contrário. As
cifras de muitos países africanos vivem na escuridão, impossibilitando-os de
fazer emissões internacionais, obrigando-os a depender mais de ajuda externa e de
fontes suspeitas.
É evidente no caso de Angola, o FMI tem criticado a
falta de transparência. No nosso país os vários relatórios, até internos, não
fogem a esta regra. Imaginemos a confusão das contas da Guiné-Bissau!
É hora de os governos (ou governantes) africanos
reconhecerem que têm responsabilidades pelo progresso dos seus povos e comecem
a comportar-se adequada e transparentemente.
*Comunicologa, Deputada
Gabinete da Juventude Parlamentar-2a Vice
Presidente
Comissão das Relações Internacionais-Presidente Adjunta
Podem ver o filme completo em
ResponderEliminarhttp://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/06/%C3%A1frica-adeus-documento-duro-e-impressionante-de-gualtiero-jacopetti-e-franco-e-prosperi2h18m.html
Fernando Gil