Por Matias Guente
O psicólogo “austríaco-americano”, Wilhelm Reich, escreveu que “o desejo intenso de liberdade, aliado ao medo da responsabilidade tem como resultado a mente fascista”. É o que acontece com a oposição moçambicana. Está permanentemente a construir a sua servidão por ter medo da responsabilidade.
Maputo (Canalmoz) - Quando o relatório das Nações Unidas sobre o Índice de Desenvolvimento Humano chegou a Maputo, colocando Moçambique na justa posição de quarto pior País para se viver na face da terra, houve dois tipos de comentários. Uns ridicularizam os métodos e atribuíram uma espécie de certificado de insanidade mental aos que produziram o relatório. Outros respiraram de alívio porque finalmente alguém com poder e competência tinha falado em seu lugar e lhe tirou das costas tamanha responsabilidade e o “medo de ser conotado como do contra”.
Mas o relatório obrigava-nos, na verdade, a uma introspecção mais profunda que gravitaria no conceito de qualidade. Isso mesmo: qualidade de dirigentes, qualidade de oposição, qualidade de povo (todos actores inclusos). A soma destas três grandezas daria na real qualidade de vida dos moçambicanos ou na qualidade do País. Colocadas de forma separada estas três grandezas, chega-se, e, com alguma mestria de simplificação de tarefa, à conclusão de que as Nações Unidas não tiveram assim muito trabalho.
Vamos por partes: a qualidade dos nossos dirigentes é por nós sabida. Basta dizer que ontem, quinta-feira, ficámos a saber que a directora-geral do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), a quem confiamos as nossas contribuições, reabilitou (não construiu uma nova), reabilitou a sua casa pela módica quantia de 7.6 milhões de meticais (1 USD = 28,00 MT). Aliás, aqui trata-se de uma competição de gangs. Quem deve reprimir em primeira instância a directora é a sua ministra que também como ficamos a saber pelos jornais, anda a mandar SMS a pedir que o seu subordinado tire dinheiro (17 mil dólares) dos cofres do Estado sem que o contabilista se aperceba. Não precisa muito: este é o fiel retrato da estirpe que nos dirige. Não há por onde se lhe pegue esta gente! Ou queima ou suja. É carvão!
Depois tem a oposição, entidade que, na verdade, me motivou a fazer este comentário. A oposição não existe quando não é para nos sugar o pouco de sangue que nos resta. Para quem anda atento nesta nossa política sabe que só há partidos de oposição quando a CNE disponibiliza fundos em períodos eleitorais. Sabe que só há oposição quando há eleições e benesses. Desde que fechou o Parlamento, por exemplo, também a oposição encerrou. Uma oposição falida e órfã de si mesma.
Como é que se explica que a Imprensa se desdobre na descoberta de escândalos e muitas patologias deste Governo e a oposição assobie para o lado com comentários de família: “é com eles”.
A Renamo e o MDM estão de férias!...
Com este andar de coisas, sinceramente, eu particularmente não sei o que é mais perigoso. Se é ter um partido corrupto a governar ou uma oposição que normalizou a corrupção e tantos outros abusos.
Entramos aqui na difícil condição de ter dois inimigos, sendo um disfarçado. É que isto de ser “inimigo do povo” apresenta um alto grau de ambiguidade. Uns chamam os outros de inimigos do povo para nos toldar o discernimento e desviar a nossa atenção em relação aos seus obscenos comportamentos. Outros chamam os outros de inimigos do povo para assaltar a posição do suposto inimigo ou mesmo ganhar a vida à fanfarra. Mas que fique claro que se em alguma vez acreditamos em algo é nos “inimigos do povo”. São regra geral, os raciocinadores cujo encéfalo não se desprende da estrutura piramidal e que, para subir, ou permanecer rastejando alguns degraus da vida, não hesitam em calcar aos pés quem os atura no escalão inferior. São inimigos do povo os papagaios, que graças à ênfase repetitiva, insultam com seus actos a espécie humana. São, tal como chamou o Professor Doutor José Martins Garcia, os neo-patrões para quem não há transformações sociais, mas, sim, preenchimento de postos, numa corrida ao tacho que desmente qualquer espécie ética. São todos portadores de ambição mesquinha e que privam do pão e dignidade os menos audaciosos ou os que têm mais escrúpulos. É o que acontece na aliança entre o partido da situação e toda a oposição junta.
Aliás, foi sobre este tipo de oposição que o psicólogo “austríaco-americano”, Wilhelm Reich, escreveu que “o desejo intenso de liberdade, aliado ao medo da responsabilidade tem como resultado a mente fascista”. É o que acontece com a oposição moçambicana. Está permanentemente a construir a sua servidão por ter medo da responsabilidade. E quando assim acontece os que têm credenciais de falta de escrúpulos exploram o povo até à exaustão. Os jornais escrevem e porque controlam tudo, nada acontece. Não há consequência. E tal como dizia um amigo, estamos perante a humilhante situação de um estuprador (Governo) e o estuprado (povo) a negociarem os termos de paz. O que é por si ridículo!
O povo, coitado, que financia desde a produção até a pós-produção destes filmes de horror, tem como compensação pelo seu silêncio, um pacote bem recheado de falta de transporte, falta de escolas e carteiras para seus filhos, falta de água potável e muito imposto por pagar. Ou seja: uma República de má qualidade! (Matias Guente)
Fonte: Canalmoz - 15.06.2012
Reflectindo: para mim esta é uma crítica justa de Matias Guente à oposicão. Há muito que a oposicão devia ter feito pressão para investigacão da corrupcão no INSS aproveitando as denúncias pela imprensa. Lembrem-se de todos os casos denunciados.
Nguiliche
ResponderEliminarNao sei se o problema é mesmo da oposicao ou do POVO! Será que vale a pena criticar e exigir que se faca uma investigacao nas contas do INSS para ganhar aplausos de intelectuais e perder todos os analfabetos e ingorantes que sao maioria dos votantes!
Nguiliche
ResponderEliminarTalvez seria importante procurarmos saber por que as pessoas nao vao votar. Nao basta dizer que é por que a oposicao nao é séria, por que esta resposta carrega dentro de si a mensagem é do partido no poder.Interessa ir mais para dentro da resposta e entender onde está a aludida falta de seriedade, ou entao o POVO é que tem problema. Já dei exemplo de um homem que conquista uma mulher, promete tudo de bom que uma mulher gostaria de ter na vida, mas essa mulher nao aceitar o homem. Será que esse homem nao sabe conquistar ou temos que adminitir que essa mulher é que tem problemas?
Bom, Nguiliche eu concordo que o povo em si, este facilmente manipulado para ser indiferente e por vezes por pessoas instruidas em universidades, seja o mais culpado. É claro, o povo, o eleitorado que tem o poder na mão para sancionar. Em democracia, a seriedade, do poder judiciário, dos partidos, do governo depende do que é decisão do eleitorado.
ResponderEliminarPorém, há muitos de nós que querem ver os partidos políticos da oposicão como porta-vozes. Mas acontece que há indivíduos que aconselham que os partidos da oposicão não se levantem SISTEMATICAMENTE contra casos com indícios (documentados de corrupcão). Os casos do INSS são prova disso. Aliás, aqui no Reflectindo há muitos casos com nomes e dados que os deputados podiam pegar e investigar para levantarem nas sessões da AR.
muito bom! Existem muito mais aspectos tristes. Isto vai de mal a pior. Não sei onde vamos parar!! Triste!
ResponderEliminarExcelente texto do Matias Guente, uma radiografia correcta da realidade moçambicana.
ResponderEliminarOs avisos à Oposiçao devem ser levados a sério, a Oposiçao tem de ser mais activa, interventiva e critica ou corre o risco de se tornar irrelavante.
Porem, apesar de todas as justas criticas à Oposiçao, o enfoque tem de ser dirigido ao (des)Governo e a Frelimo, afinal as poucas vergonhas, os abusos, a ma governaçao, a corrupçao,etc., partem deles. O Povo, particularmente os votantes, e a sociedade civil, tambem teem a sua responsabilidade na situaçao, teem de ser mais vocais na indignaçao e mais criteriosos na hora de votarem!
Zé, claro que o enfoque tem que ser dirigido a quem nos governa, mas a OPOSICÃO, tem que obrigatoriamente assumir-se porta-voz dos eleitores levando à Assembleia da República as denúncias, depois de bem trabalhas. Isso funciona, pois que sabemos que caso como aquele de Carvalho Muaria como substituto do governador em Sofala, funcionou nesse sentido. A oposicão não deve permitir que casos sérios que lesam o Estado sejam apagados pelo tempo. Ora, o jornalista João Chamusse fez uma denúncia, ver aqui, que nunca se diz o resultado da investigacão e o que faz a oposicão? Há também os casos da Zauria Adamo de Maputo e uns dois de Niassa que falam de Agricultura e Antigos Combatentes... Estes casos todos, estão registados aqui no Reflectindo com boas bases para que a investigacão vá à frente.
ResponderEliminarMantendo o enfoque correcto em relaçao ao (des)Governo e à Frelimo, ainda assim temos de nos preocupar muito com o aparente conformismo da Oposiçao. A Oposiçao se quer ter um papel relevante na mudança que se exige, tem de ser muito mais activa na denuncia e investigaçao dos desmandos protagonizadospelos frelimistas.
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