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sábado, março 10, 2012

Os homens armados da RENAMO e a paz no país (1)

Por Constâncio Nguja

"Se quiseres entender o final (ou o desenvolvimento) preste atenção ao começo."- Provérbio africano

Introdução

A 4 de Outubro de 2002, volvidos dez anos, um dos mediadores do Acordo Geral de Paz (AGP) que culminou com o fim de 16 anos de guerra civil em Moçambique, D. Matteo Zuppi, da Comunidade de Sant’Egídio, discursava para os Moçambicanos, nos seguintes moldes:


Queridas Amigas e Queridos Amigos, Caros Moçambicanos,

Sinto-me profundamente honrado por representar a Comunidade de Sant’Egidio e o seu fundador, o Professor Andrea Riccardi, mediador na negociação de Roma, nesta solene celebração do décimo aniversário da assinatura do Acordo de Paz. A guerra é a mãe de todos os males. A paz é uma ressurreição. A primeira coisa que gostaríamos de fazer é de nos recordarmos dos demais que não puderam viver esta paz, por terem perecido durante os caminhos monstruosos da guerra. Eles pedem-nos, juntamente com Deus, e em todas as religiões, que prezemos a paz e nunca mais pensemos em guerra! Nunca mais aceitemos que seja normal que um homem mate cruelmente ao outro! (…)

O Acordo de 4 de Outubro é um modelo para o mundo inteiro. Um dos poucos assinados e respeitados. E prestamos homenagem ao [antigo] Presidente da República S.ª Ex.ª Joaquim Alberto Chissano, e ao Sr. Afonso Dhlakama, Presidente da RENAMO, por terem sido fiéis aos compromissos assumidos em Sant’Egidio. Estamos orgulhosos pelo Acordo. O Presidente Mandela, ao convencer os burundeses sobre a possibilidade de porem termo à violência étnica que fustigava o país daqueles, tomou Moçambique como exemplo.

Porque é que o AGP funcionou? Foi um caminho longo, paciente e recheado de cuidados e destacado de pormenores. As delegações encontraram-se em Sant’Egidio, em Roma, durante mais de dois anos. O ponto de partida foi as partes reconhecerem-se, desde o início, como partes de “uma mesma família” encontrando, assim, um alfabeto para escrever as regras da futura convivência política. Não foi fácil. Foi necessária paciência, fantasia, compreensão profunda das exigências de cada um e, por fim, encontrar as garantias e os mecanismos jurídicos eficazes e justos.

Após dez anos devemos perguntar a nós próprios: o que é que fizemos com essa paz? A paz não é apenas o silêncio das armas. Deve crescer no profundo da nossa vida e na sociedade. Nós também temos que aprender a procurar aquilo que nos une, deixando de lado o que nos divide, tal como o etnicismo, a violência, o ódio. Paz é dar dignidade à vida de cada um. Cada homem é sempre um valor! Temos que cultivar a tolerância e o respeito mútuos. Não deixemos que continue a haver o espírito de violência nos corações, nas palavras, nas obras. Seria um insulto para quem foi vítima dela. Seria um insulto a Deus (…)

Fonte: Jornal Notícias - 09.02.2012

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