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quinta-feira, dezembro 22, 2011

Clarividência

Por r Machado da Graça

Com a clarividência e liderança visionária, que não param de lhe atribuir os seus subordinados, alguém decidiu, ou pelo menos autorizou, que Pio Matos, o Presidente do Município de Quelimane, se deveria demitir.
É claro que este não gostou nada disso mas, como se costuma dizer, manda quem pode e obedece quem deve, e Pio Matos lá encontrou em si razões de saúde para justificar a sua demissão, juntando-se aos seus colegas de Pemba e de Cuamba.
 Na altura já os órgãos de informação estavam fartos de publicar a lista dos edis que estavam a ser forçados a demitir-se e isso estava a provocar um enorme escândalo. Por isso quem tinha mandado desmandou outra vez e só os três primeiros, que já tinham afirmado publicamente a sua demissão, acabaram por deixar a cadeira do poder. Os outros, beneficiando dos protestos públicos, acabaram por se manter nos seus cargos.
Mas quem mandou, rapidamente se assustou. E rapidamente se assustou porque, em Quelimane, o MDM tirou do chapéu um candidato completamente diferente daquilo que os clarividentes e visionários imaginavam. Em vez de um qualquer velho militante, saido de antigas fileiras, foram buscar um jovem académico com prestígio dentro e fora do país.
E ficou, desde logo, claro que o tal jovem tinha aceitação junto da camada jovem da cidade. E também junto de todos aqueles que estão cansados de comer, há mais de 30 anos, sempre o mesmo prato a todas as refeições.
O mandante assustado, que contava com uma vitória eleitoral praticamente garantida, até porque a Renamo, sua principal preocupação naquelas zonas, decidiu não concorrer a estas eleições, percebeu que, neste caso, isso iria ser prejudicial ao seu partido. A não participação da Renamo levou, automaticamente, à aliança dos seus militantes e simpatizantes com a causa de Manuel de Araújo, reforçando ainda mais a possibilidade de o Galo vir a cantar no teto do Conselho Municipal.
Com a sua clarividência e liderança visionária, o mandante decidiu traçar uma estratégia para tentar impor a candidatura de Lourenço Abubacar Bico, o seu pouco visível candidato.
E decidiu enviar para Quelimane membros de peso do seu partido. O peso parece mesmo ter sido o principal critério na escolha desses militantes, a avaliar pelos casos de Verónica Macamo, Manuel Tomé ou Edson Macuácua.
E lá foram eles tentar parar o vento com as mãos. Mostrando o poder do partidão a gente que estava, precisamente, farta desse poder. Enquanto Manuel de Araújo entrava em casa das pessoas e ajudava as senhoras a pilar o milho, a cúpula do partidão mostrava carros, cartazes, camisetas e toda a parafrenália do costume.
O resultado de tudo isto veio ao de cima após a votação. E hoje, perdida Quelimane para a oposição, muita gente, dentro do partidão, se deve estar a interrogar como foi possível tanta clarividência e liderança visionária ter dado o resultado que deu.
Pio Matos, imagino eu, deve estar a rir-se a bandeiras despregadas. E como se costuma dizer que rir é o melhor remédio, isso deve estar a ser bastante bom para a sua saúde debilitada que o forçou a se demitir…
E pode ser que, no próximo ano, em Pemba, Quelimane vá pesar de forma determinante nas decisões a
serem tomadas.

Fonte: Savana - 16.12.2011

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