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sábado, novembro 12, 2011

Uma denúncia sobre o que acontece em Pemba

Nota: O artigo abaixo de Pedro Nacuo é claramente uma denúncia sobre o que está acontecer em Pemba. Entre outros problemas, é a prova da interferência da Frelimo nas instituicões públicas e a sua pressão sobre os funcionários. Também está o caso de simulacão.

Por Pedro Nacuo

DIZER POR DIZER... - Abaixo a mentira! Abaixo!

PASSAM apenas duas semanas que Samora Machel disse que a mentira era crime. Sim, há duas semanas, pois na verdade, o Samora, aquele que vive em cada um de nós, dá cá uma sensação de estar de facto entre nós.
Sobretudo porque o que diz, é imediatamente aplicável aos nossos tempos e sempre que diz, há quem se sente repreendido por aquele seu dedo indicador, em riste.

Então, como dizia, há duas semanas, Samora disse que, a mentira, o lambe-botismo, sobretudo em relatórios, devem ser considerados crimes, pois conduzem a soluções e percepções erradas. Quis dizer, que quando condimentamos os relatórios com sal, pimento, coentro, salsa, amendoim, “Dimême”, entre outros temperos, para atingirmos o sabor do que gostaríamos fosse o nosso desempenho, entretanto não alcançado, estamos a cometer um crime.

Estamos a cometer um crime porque aqueles que têm o poder de decisão, fazem-no sobre inverdades e isso pode levar ao adiamento de soluções alcançáveis, simplesmente porque alguém quer desfilar adjectivos da nossa clarividência, sábia forma de estar, luminosidade sem fim, deixando os reais problemas incubados, atrasando deste modo a luta contra a pobreza. Samora disse isso!

Então, enquanto decorria o comício, quem nem sei onde terá sido, imaginei um cidadão da cidade de Pemba a levantar-se, quando chegou a hora das intervenções. Intervindo sem ter sido instrumentalizado nem prévia e convenientemente escolhido. E perguntasse:

- Camarada Presidente, quando um ministro veio inaugurar uma escola secundária, reabilitada profundamente com fundos de agências doadoras, mas sem carteiras escolares, até nos nossos dias, mas para que as imagens da televisão não dessem a realidade ao público, mandou pedir emprestado carteiras do Instituto de Formação de Professores, que já devolvemos, para simular que estava apetrechada, então era crime?

O presidente virar-se-ia para a multidão e perguntaria, por sua vez:

-É, ou não é?

A multidão responderia em uníssono:

-É!

A seguir, levantaria um outro pembense, desta feita, funcionário público, membro do partido da maioria, para ler uma circular dirigida aos directores provinciais, por ocasião da visita do secretário-geral da mesma formação política, que dizia ter sido agendada uma reunião pelas 15.00 horas do dia 6 de Novembro, na sala de reuniões de Santo Egídio.

Isso nem seria problema, não fosse o facto a circular pedir que os camaradas directores provinciais responsabilizassem os chefes dos Recursos Humanos para controlar a presença e faltas dos funcionários na reunião.

“No caso de doença de um funcionário ou quer esteja em missão de serviço, deverá o chefe de Recursos Humanos ou seu substituto, dar a informação antecipada, ao gabinete de preparação da eleição intercalar da cidade de Pemba, na rua XII ou ligar para (um número que de propósito omitimos) e dizer o nome da direcção ou delegação”.

Mais ainda: No dia 5 de Novembro de 2011, pelas 12.00 horas, todos os funcionários públicos, membros do partido, deverão marcar presença no bairro de Muxara, para receberem o secretário-geral, vindo da província do Niassa.

Depois de ler, em voz alta, teria perguntado se tal procedimento era correcto e se não conduziria a conclusões erradas, mesmo na percepção do ilustre visitante, que provavelmente não soubesse que a sua audiência fora obrigada a estar presente.

E o presidente:

- É, ou não é?

O público que nem sequer estaria no comício por obrigação, apesar de estar a viver privações de vária ordem, decorrentes da nossa pobreza, mas que se perceberiam, porque sofrimento colectivo, responderia:

-É!

Eu também acredito que não fossem essas mentiras, aparentemente inofensivas, mas que se acumulam até fazerem um castelo de inverdades e assim adiam a resolução de problemas existentes e quase palpáveis, não estaríamos ainda neste passo.

A pobreza ficaria ainda mais debilitada. Os partidos estariam ainda melhor organizados, porque tudo decorreria conforme a realidade objectiva no terreno e não com bases idealistas de quem gostaria que as coisas fossem assim, mas na verdade não são.

Dizendo por dizer, são estes camaradas que nos fazem atrasar: que escondem a realidade; que no dia da visita bombeiam água para todos os bairros que nunca a tiveram durante meses; que podam árvores que não beneficiavam disso há meses; que limpam a cidade, que nunca está limpa; que regulam o trânsito só no dia da ilustre visita; que no dia da visita não bebem álcool, quando na verdade cheiram álcool por todos os poros, no seu dia-a-dia, etc.

Na verdade, a mentira é mesmo crime!

Fonte: Jornal de Notícias - 12.11.2011

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