— considera Fernando Carrelo, defendendo que PR e líder da Renamo se reúnam imediatamente
Fernando Carrelo, ex-membro da Renamo, que chegou a integrar o Conselho Nacional, órgão máximo do partido liderado por Afonso Dhlakama, está seriamente preocupado com a deterioração da situação política no país, que considera de extremamente explosiva. Ele lança um forte apelo para que o Presidente da República, Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, se reúnam urgentemente, “porque, a qualquer momento, apesar de o presidente Dhlakama afirmar que jamais voltará à guerra, isso pode acontecer por vontade de outras pessoas porque o que eu reparo é que há uma movimentação de certas pessoas que estão desesperadas e que querem de novo a guerra. Serão provavelmente alguns militares da ala dura da própria Renamo?Não sei, mas que a situação está tremida a partir do centro para o norte do país, isso é verdade”, explicou.
Carrelo, que falava recentemente em entrevista ao “Diário de Moçambique”, respondeu, quando perguntado de quem deve partir a iniciativa para esse diálogo, que aliás já havia sido iniciado e foi interrompido, que “qualquer das partes pode tomar a iniciativa para o diálogo, mas o Presidente Guebuza, como Pai da Nação, pode usar o bom-senso e mandar chamar o líder da Renamo para o seu gabinete, com ele falar para se acabar com esta situação que não é nada agradável”.
Perguntado em que qualidade falava, uma vez ter decidido “aposentar-se temporariamente da política”, Carrelo respondeu que o fazia na qualidade de cidadão, preocupado com a situação política do país. “Nós não queremos que Moçambique se torne um país dividido como o Sudão, por exemplo, queremos um único país, inteiro, por isso, os dois dirigentes devem reunir-se urgentemente”, reiterou.
“Para quando o regresso de Fernando Carrelo à política activa”? — perguntamos. Em resposta, a fonte referiu que ainda não sabe “como disse uns tempos atrás, eu precisava de descansar. Foram muitos anos, desde o tempo da guerra, conheci e aprendi muito. Provavelmente regresse dentro em breve, tenho as baterias a carregar”, disse.
Suiblinhou que “não sou um prostituto político, não vou alinhar em nenhum grupo nem partido político, só que neste momento não posso adiantar nada. O que posso dizer, repito, é que continuo a carregar as minhas baterias, talvez para salvar este país que está na iminência da eclosão de uma guerra civil, e isso é mau para o país”.
FILIAÇÃO NA RENAMO
A nossa Reportagem quis saber de Fernando Carrelo como e quando tinha ocorrido a sua filiação na Renamo.
“Filiei-me na Renamo em 1981 e foi engraçado como tudo aconteceu. Eu tinha o meu complexo, Beira Safari, na zona do Tica, e nós estávamos numa fase difícil na cidade da Beira. Não havia carne, estávamos praticamente cercados pela Renamo e sempre que as pessoas saissem fora da cidade estavam sujeitas a ataque da Renamo”, explicou Carrelo.
Prosseguiu dizendo que “de maneira que recordo que quando o Beira Safari foi inaugurado, uma das caçadas que eu fiz, sofri uma emboscada da Renamo, a nove quilómetros da ponte do Púnguè, felizmente saimos ilesos. Houve um ferido ligeiro que foi tratado naquele local por um enfermeiro zimbabweano. De maneira que a partir dali eu disse para os meus colaboradores para pararmos com a caça porque receava que o SNASP me prendesse daí a pouco tempo. E fiz isso apesar de alguma relutância de um dos meus melhores colaboradores de nome Pibi, infelizmente já falecido”
“Vim para a Beira e passados poucos dias o Pibi liga para mim, via rádio e diz: Olha patrão, nós precisamos de cadernos, lápis, lapiseiras, açúcar e sabão para fazer um trabalho. Que trabalho? perguntei. E ele disse que não precisava de me preocupar. Por isso dei luz verde e mandei levantar os produtos em Tica e que avançassem com o tal trabalho”, continuou a sua explicação o nosso entrevistado.
“O que é certo é que ele (Pibi) avançou para a mata, em direcção ao Búzi, na zona da Mosca do Sono e um daqueles meus empregados, com os quais tinha sofrido o ataque na semana anterior, na emboscada junto da ponte do Púnguè, mandou parar o carro e disse para o Pibi: Já viste, aqui está cheio de carros queimados, nós vamos cair noutra emboscada. Aliás, nesta viagem, o Pibi levou um comandante de milicianos do rio Búzi, na estrada que vai ao Búzi. Ele era o guia para o encontro com a Renamo. Foi ele que apresentou os meus homens à Renamo”, referiu.
Continuando, Carrelo disse que o motorista recebeu ordens para virar à direita, antes da Mosca do Sono, do lado das palmeiras e quando o carro lá chegou tremia de medo. “O comandante daquela base, que era a base de Cheadeia, reparou que o motorista tremia, nervoso e atrapalhado, e recebeu a explicação de que ele ainda tinha na mente o ataque que havia sofrido comigo”.
Perguntou, o comandante, porque tremia o motorista. Explicaram-lhe as razões e ele mandou que fosse dado ao motorista um copo de sura. Ele bebeu e acalmou-se. “Então, a partir deste comandante da base de Cheadeia, nós recebemos o código para os encontros nas outras bases da Renamo. Portanto, a partir do comandante daquela base, tomamos conhecimento do código da base de Mutcheu, situada próximo da antiga Lomaco, distrito de Nhamatanda e não só, como também a base de Nhangera. Portanto, a partir daquele momento nós assumimos o controle dos encontros nestas três bases da Renamo”.
Carrelo sublinhou que a partir daquele momento “nós nos integramos dentro deste grupo da Renamo, fomos aceites e não só, também sabiamos que o comandante militar distrital de Nhamatanda das forças governamentais estava envolvido com a Renamo”, acusou .
“A partir daquele momento comecei a ver que aquilo era uma guerra entre irmãos, mas que entre eles havia contactos. Havia elementos da Frelimo que já contactavam a Renamo. Também os militares estacionados na Brigada Montada, no Alto da Manga, estavam envolvido com a Renamo. Eles passavam informações e também armamento para a guerrilha”, explicou Fernando Carrelo.
Ele referiu que naquela época havia grandes problemas de fome, escasseiava a comida. “Apoiei muito em géneros alimentares, principalmente a população da zona da Renamo. Também forneci medicamentos, mas tudo era entregue nos postos avançados nunca nos foi permitido chegar às bases”.
PROBLEMAS COM A FRELIMO
Perguntamos a Fernando Carrelo se durante todo o tempo que apoiou ou se juntou à Renamo nunca teve problemas. Em jeito de resposta ele disse o seguinte: “Nos últimos tempos, antes de terminar a guerra, o comandante provincial militar, Chicamisse, chamou-me para uma reunião no quartel. Eu era a única pessoa ali que estava directamente ligado com a Renamo por causa do meu acampamento turístico no Tica. Havia muito movimento de pessoas para lá que iam em busca de carne e vice-versa. Então o comandante mandou-me chamar para o quartel para uma reunião com vários oficiais militares. Recordo-me que o comandante Chicamisse, que presidia ao encontro, me perguntou como é que eu conseguia entrar nas zonas da Renamo, quando eles (militares) tinham problemas”.
Continuando, Carrelo disse ter respondido em sua defesa que não conhecia ninguém da Renamo naquela zona. Perante a insistência de Chicamisse, que queria que explicasse o significado da palavra Tubarubas - nome ou alcunha que a Renamo dava a elementos da Frelimo — “Eu disse que tubarubas são alguns altos oficiais da Frelimo que se encontravam com a Renamo. Então ele me perguntou se eu podia apontar quais eram esses oficiais. Eu disse-lhe. Olhe, eu sou civil e não me meto em assuntos militares”.
“Então, se o senhor não quer apontar quem são esses militares, pode falar comigo em privado no meu gabinete. Eu respondi, não comandante, sou civil e não estou disposto a levar um tiro, então ele virou-se para mim e disse “sendo assim, vamos encerrar a caça na província de Sofala”. Foi esta a decisão que o comandante tomou e eu vim-me embora e ele deu ordem para encerrar o meu acampamento no Tica. Mais tarde houve o Acordo Geral de Roma e com a paz voltou a caça”, disse Carrelo.
Carrelo explicou que nessa altura já tinha terminado a sua missão que era ajudar as pessoas. “A caça foi um pretexto, por um lado para defender algumas pessoas da cidade da Beira que não tinham carne. Muitas pessoas iam da Beira para Tica para conseguir alguns quilos de carne e também se divertirem. Mas por outro lado também serviu para apoiar as pessoas nas zonas da Renamo que estavam com problemas de comida, medicamentos, também porque havia na época problemas de seca naquelas zonas”
Fonte: Diário de Mocambique - 17-10.2011
Quer mamar...
ResponderEliminarZicomo
hehehe
ResponderEliminarPode estar a dizer alguma verdade.
ResponderEliminarEle é Ndau, nunca dizem as coisas assim-assim, apesar de contar alguns contos do vigário.
Não há fumo sem fogo!
Estão avisados!
O mais interessante nesta história é a colaboracão de altas patentes das FPLM com a Renamo.
ResponderEliminarEm 1991 ouvi essa versão e de um facto que aconteceu em Marracuene. Hermínio Morais, já numa entrevista ao O País disse o mesmo, ou que nos últimos anos a Renamo era abastecida em material bélico por elementos da FPLM e apenas tendo recusado falar de nomes.