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domingo, agosto 14, 2011

Saúde pública em fase terminal (1)

Por Ricardo Santos

Pensar só em si e no presente é uma fonte de erro em política - Jean de La Bruyère

Há um par de meses quando alguém da Saúde me falou da "...agressividade do anterior ministro...", remeti-me tranquilamente ao silêncio, pois sabia que a história iria absolvê-lo. Mas hoje, ao ler a última capa do semanário SAVANA, apeteceu-me perguntar se não seria melhor instar o PRÓPRIO VISADO (Paulo Ivo Garrido), por que razões ele foi tão agressivo com os doadores?

Que cenário ele encontrou no Ministério da Saúde no início do seu mandato? Não me lembro de algum órgão de informação tê-lo entrevistado após a sua demissão. E, no entanto, tudo continua a convergir na sua figura, principalmente as falas do seu sucessor.
E esta situação caricata de se estar a julgar permanentemente a quem está ausente e nunca poderá responder se não for legalmente instado para tal, fez-me lembrar uma anedota militar contada pelo ex-general da SADF, Jannie Geldenhuys, no seu livro de memórias At the Front.
Conta ele que, certa vez, um general estava de partida e na cerimónia da passagem de pastas para o seu sucessor entregou-lhe três envelopes, com instruções precisas para que, quando lhe surgisse o seu primeiro grande problema, abrisse o primeiro envelope. Todos os problemas graves subsequentes deveriam, logicamente, seguir o mesmo procedimento. Zeloso, o novo general pegou nos três envelopes e enfiou-os cuidadosamente num cofre para que ninguém, senão o próprio, os violasse na hora certa, até ao dia em que deparou com o seu primeiro grande problema.
Perante o problema, abriu o primeiro envelope. Lá encontrou uma mensagem lacónica: "culpar o seu antecessor!". E assim, foi ao terreiro e desfez a reputação do seu antecessor até que a situação se acalmasse e logo a vida pareceu querer voltar à normalidade. Mas foi sol de pouca dura. Ainda mal se refazia do embate e já estava perante o seu segundo grande problema. Afoito, foi novamente ao cofre e abriu o seu segundo envelope. Lá estava escrita somente uma frase: "remodelação!". E assim o fez. Mas o processo mostrou-se tão complicado, quanto moroso, que acabou agravando qualquer outro problema, ainda que insignificante à partida. Inúmeros assuntos ficaram parados, à espera que a remodelação acabasse, coisa que na realidade nunca veio a acontecer.
Não tardou, por isso, que deparasse com o seu terceiro grande problema. Aí nem pestanejou quando correu para o cofre para abrir o terceiro envelope. Abriu-o e leu-o estarrecido: "Prepare três envelopes!" Moral da história: a tendência para remodelar no lugar de fazer o que tem de ser feito é uma tendência antiga que nos acompanha desde os primórdios. E nada melhor do que um fragmento histórico de Roma para a percebermos bem: "...Treinámos muito, mas pareceu-me que cada vez que constituíamos grupos de trabalho sólidos vinha uma remodelação. E aprendi mais tarde que tendemos a apelar à reorganização sempre que um novo obstáculo nos impede de avançar. Mas que método fantástico de governação é este, que cria a ilusão exterior de progresso, enquanto internamente produz a confusão, ineficiência e a desmoralização" (Gaius Petronious, 66 DC).
Ao que parece, o ministro Manguele não recebeu apenas os três envelopes de Garrido, mas sim, uma enorme caixa postal, pois se assim não fosse, não teríamos de encontrar as respostas certas para explicar por que somos conhecidos como o país das INCONGRUÊNCIAS!!!

Fonte: Jornal Notícias - 02.08.2011

Reflectindo: O meu muito obrigado ao Viriato Dias, pois na altura em que este artigo foi lancado eu estava ocupado com as ruas do Maputo e no melhor se isso for, com alguns deputados

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