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segunda-feira, julho 11, 2011

Quo vadis Governo (2)

DESCRÉDITO PODE ALASTRAR-SE AO REGIME POLÍTICO
Jaime Macuane

Até que ponto essa trajectória política pode afectar negativamente a imagem e a credibilidade do governo? “Depende da forma como as pessoas tendem a olhar para as políticas ou intervenções do governo e isso pode variar de cidadão para cidadão”, responde Jaime Macuane, académico com formação em ciência política. Para ele, a maioria dos moçambicanos ainda pensa que o que o Governo faz, incluindo a atribuição dos “sete milhões” e outro tipo de transferências directas de renda e recursos, “é um favor e eles tendem a ser acima de tudo gratos”.
Acresce que esta postura é reforçada pelo discurso de certos políticos populistas de que o povo tem que agradecer ao Governo pelo que faz, ao invés de ser o inverso: o Governo agradecer a confiança que o povo depositou nele e fazer o melhor por merecê-la.
Para estes, diz Macuane, a credibilidade do governo poderá sofrer um ligeiro abalo. “Será entendido como se fosse mais um favor adiado e (as populações) ficarão à espera das próximas promessas até que um dia se fartarão disso e poderão reagir como vimos nas duas manifestações já ocorridas no país”, explica. Porém, o docente da UEM faz notar que o maior abalo à credibilidade do governo será no seio de pessoas mais instruídas, onde fica claro que o Governo está a ter sérias dificuldades para definir, aprovar e implementar políticas sólidas. “Dentre este grupo incluo os agentes económicos que começam a ter sinais não muito positivos sobre a actuação do Governo, o que pode minar futuras tentativas de mobilizar estes e outros grupos para projectos nacionais tanto de desenvolvimento mais amplo como de políticas específicas”, observou.
O entrevistado admite a possibilidade do descrédito se alastrar ao regime político e às suas instituições. “Quando as pessoas não encontram soluções nas instituições poderão buscá-las fora delas e isso pode minar a estabilidade política”, alertou.
As actuais crises de ideias que afectam o Governo reflectem a ausência de capacidade de gestão de políticas públicas, isto é, a ausência de uma estrutura que pense os problemas actuais e futuros e que se possa antecipar e solucioná-los antes que eles se tornem numa crise.
Questionado se a falta de capacidade de gestão de políticas públicas não seria resultante da sobrevalorização da confiança política em detrimento da competência técnica na selecção de membros do executivo, o académico respondeu o seguinte: “Penso que os ministros devem ser acima de tudo políticos, mas no sentido de serem gestores políticos com a capacidade de gerir os vários interesses existentes na sociedade na sua área e de mobilizarem os recursos, incluindo os técnicos, para o alcance dos objectivos preconizados no manifesto eleitoral”.
Aos seus olhos, é legítimo que o PR escolha alguém que não seja necessariamente um tecnocrata da área ministerial para a qual é nomeado, mas que tenha capacidade de gestão política e é de confiança do chefe do Governo. “Onde não deve faltar competência técnica é no nível de concepção de políticas e na sua execução”, sublinha, indicando que alguns ministros se revelaram maus gestores técnicos e políticos das suas áreas até que perderam a confiança do Presidente que acabou os demitindo. “Mas nisso tudo há uma virtude que se deve reconhecer no Presidente Guebuza, é que ele quando sente que o ministro não vai bem reconhece o erro na sua escolha e o demite”.

Continua

Fonte: Savana - 08.07.2011

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