Saímos de Pemba, onde uma decisão competente acabava de inviabilizar a realização de um espectáculo, em plena avenida municipal, barrando o trânsito, o que não agradou a muitos automobilistas e a Polícia veio atender a este sector populacional, sem olhar a meios ou fins, mas, sim, cingindo-se apenas à necessidade de manter a ordem, segurança e tranquilidade públicas.
Quer dizer, pondo as pessoas disciplinadas, lembrando sempre que, apesar de ser a alegria que manda, é preciso contar com os tristes de cada acção que nos faz alegre.
Ficou a cena mais badalada, por ocasião do aniversário da independência, em Pemba, sobretudo devido ao infeliz recurso aos políticos e partidos, para pintar a ilegalidade de cores mais vistosas e aparentemente irrepreensível. Sobre isso, tudo está esgotado, mas ficou a ideia de que nada deve ser feito por fazer.
Descemos para a cidade de Nampula, onde na verdade a indisciplina municipal reina. O espaço dos CFM, umas vezes feito jardim, outras completamente desajustado, é hoje usado por perto de centena e meia de barracas, que ainda estão sendo edificadas por pessoas de um só partido, onde todos os proprietários chamam-se camaradas.
Quem não o é não encontrou lugar para erguer barraca alguma, talvez possa aparecer a vender “badjias” em bandejas ou recargas para alimentar telemóveis, ou ainda espetadas de diferentes carnes, mas de forma itinerante. Diz-se que se trata de uma antecipação ao dia da cidade, 22 de Agosto. Combinou-se bem que durante a semana de trabalho, nada de música durante o dia, mas os camaradas mandaram passear o entendimento. Mas cada vez o recurso é o fim, para o que o meio não interessa.
Por isso, as construções estão a ser feitas, a dar medo que algumas sejam permanentes, a avaliar pela consistência com que estão a ser erguidas, a surgirem verdadeiros restaurantes, a venderem de tudo, juntando à sua volta todos os interesses da classe média e não só, mas sem a obrigatoriedade de criar as condições sanitárias necessárias.
Está-se, por aí, num recinto de mais de 100 barracas, todas a venderem tudo, mas principalmente a cerveja e não há nenhum urinol, salvo de um proprietário que, aliás, lá esteve antes da loucura da ocupação desenfreada, mas organizada, por ocasião do aniversário da cidade. Quem tiver poder de imaginação poderá fazê-lo em relação ao que acontece, então, para as pessoas satisfazerem as suas necessidades biológicas.
Os donos chamam Mavuco ao local, uma directa analogia a uma mina de pedras preciosas que se tornou famosa, de onde muitos saíram a ganhar, sem olhar a meios, no sul da mesma província. Tem tudo, incluindo uma esquadra da Polícia, montada especialmente para a segurança do local, menos casas de banho, para a segurança sanitária dos seus utentes.
É ainda em Nampula onde um grupo de cidadãos, da mesma raça e origem, escolheu um espaço divisório entre duas faixas da Avenida Paulo Samuel Kankhomba para fazer quiosques que servem, grosso modo, hambúrgueres e outros fritos. Assim pensam muitos! Outros, porém, sabem que ali se bebe muito álcool, disfarçado em latas de “red bull”. É o whisky e outras bebidas quentes que vão animando um grupo populacional que tem a mania de que não alinha com o álcool.
Todos os dias, principalmente nas noites, crianças, jovens e velhos juntam-se, em frente às bombas da BP e à dependência do Barclays, destinada aos grandes contribuintes, para fazerem tudo o que dizem que não fazem. No fim, já ébrios, começa o campeonato do pneu, que consiste em colocar novos calçados nos seus mais vistosos (e de alta cilindrada) veículos, com o objectivo de ver quem há-de, numa mesma noite, torná-los carecas.
Segue-se o barulho do rally até altas horas da noite: para a frente, para trás, para os lados, numa cidade que denuncia a falta de autoridade, lugar competentemente ocupado por uma total indisciplina rodoviária.
Descemos mais um pouco, para Quelimane, a cidade das bicicletas. Não parece que uma vez nos haviam dito que houve tentativas de disciplinar os ciclistas. Qualquer hóspede precisa de cerca de duas semanas para saber conduzir naquela cidade, por causa da indisciplina daqueles meios de transporte. Não é, portanto, verdade que Pio Matos obrigou a que eles andassem sempre de coletes reflectores ou que a reciclagem foi um sucesso. Era para o boi dormir, à espera de outras “autárquicas”.
No Maputo, parece que o frio veio ajudar os gestores de município, há pouca indisciplina, porque as pessoas andam recolhidas nas suas casas, por causa desse fenómeno meteorológico, que parece mais forte do que os outros poderes camarários.
Agora estamos no Bilene, onde também há município, o da Macia. Provavelmente havemos de ir espreitar Xai-Xai e Chókwè, podendo, por aí, voltar a dizer por dizer.
Fonte: Jornal Notícias - 23.07.2011
Nacuo lucubra.
ResponderEliminarÉ "produto" da Escola de Boroma.
Zicomo