Por Arlindo Oliveira
Quando um líder político não abandona o poder, numa altura em que os ventos de revolta se desenham, o fim é sempre trágico. Nunca se brinca às revoltas, aos protestos, às manifestações. Estes fenómenos devem ser considerados seriamente.
Laurent Gbagbo, que tanto sacrifício encetou para pacificar a Costa do Marfim, fez das suas, numa altura que me parecia que ia vencer a guerra. Mais um passo, Gbagbo seria considerado um herói. Só que, infelizmente, a ambição desmedida, uma característica peculiar da maioria dos dirigentes políticos africanos deu-lhe uma traição que ficará sempre marcada durante o resto da sua vida.
Se a memória não me desmente, Gbagbo ascendeu ao poder no final da década de 90. Naquela altura, o país era devastado por uma série de intempéries que tanto desestabilizou a nação. Naquele momento, o líder impôs-se e tentou remar contra a maré bastante turva, à sua maneira. Ao que se viu, a França, ex-potência colonizadora, abraçava-o, em jeito de filho querido. O país foi andando, com Laurent Gbagbo a dar sinais de que a democracia seria a melhor via de governação. Mas não me esqueci de que não foi tarefa fácil conseguir convencer Gbagbo para enveredar pela via democrática.
Valeu o facto de ele ter respeitado um ditado que dá conta de que “contra factos, inútil seria tentar tecer argumentos”. Estou lembrado que o processo eleitoral teve muitos solavancos na Costa do Marfim, porque o Presidente Laurent sempre defendia que ainda não havia condições políticas para que assim se procedesse. Andou a protelar a situação política no país, a seu favor, como não deixaria de ser, até que os brancos mostraram que a espada seria o local onde ele estaria encostado, sem nenhuma saída. O pleito universal e secreto consumou-se no dia 28 de Novembro último. Ao que se viu, não era da sua vontade convocar aquelas eleições, pois depois que se declarou o vencedor, na pessoa de Alassane Ouattara, o presidente cessante torceu o nariz. Usando ainda a sua força como presidente, embora já sem legitimidade real, mandou um dos seus súbditos para o declarar vencedor, envelhecendo a vontade do povo costamarfinense.
É curioso que o presidente eleito tenha um Exército. Os políticos, para amenizar a situação, dizem-se que as tais tropas são apenas pró-Ouattara. Está patente que muitos dirigentes africanos adoram a força das armas. Como se explica que um simples candidato a presidente tenha um exército? Qual é a explicação que se possa entender? Por causa do seu egoísmo político, Gbagbo cavou a sua própria sepultura. Hoje, está pior que um cidadão comum. É tido como uma besta, uma pessoa que parece não ter sido último presidente para os costamarfinenses. Penso que seria uma melhor lição para os outros líderes políticos africanos respeitarem a vontade do povo.
A vaidade política de Gbagbo revelou-se ineficaz. Neste momento está confinado, as regalias, as iguarias e manjares ficaram para a História, quando tinha oportunidade para continuar a desfrutar deles até à sua morte. Uma vaidade política que lhe aplicou uma rasteira, traindo-o. Os políticos africanos devem “assoar a um guardanapo, ou seja, aprenderem aquela lição”.
Fonte: Jornal Notícias - 05.05.2011
Um comentarista moçambicano deixou uma frase que me parece ter sentido,embora ele o dissesse duvidoso: "parece que o poder è doce". Creio que sim. E, para o africano, o doce è consumido a desmedido__ e um proverbio lomwè diz que "atè os doces fazem apodrecer os dentes"__. Quantos dentes bem lavados saboreiam o doce do poder e caem em putrefaçao sem que nunca acorram a tratamento, com medo de que se lhes eniba de continuar deliciando-se, mesmo exalando o pior odor oral. Desgraçadamente, a fase da oralidade està sendo demasiado prolongada em âfrica e panças vao inchando e depois nao dà para mais 'manobra' depois de tanto engordar
ResponderEliminarDolores,
ResponderEliminarA postura dos dirigentes africanos é preocupante. Pior ainda quando pessoas com um nível académico invejável agem como agem. O provérbio lómwè está acertar em cheio.
Entretanto, penso que mais do que serem só os líderes, o problema tem a ver com os que vivem e enriquecem à custa deles - os oportunistas que ora se fazem de seus conselheiros, ora praticam fraudes ou obstruem a justiça a favor dos seus líderes, tudo porque continuarão a comer com eles no poder.