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domingo, abril 24, 2011

Vaidade política que deu em falso (3)

MIRADOURO

Por Arlindo Oliveira

Muitas vezes, os países dependentes, para evitar o termo “países pobres”, têm ou são obrigados a engolirem sapos vivos. Quando se é pobre, não se pode reclamar, não se pode impor as suas ideias ou as suas ideologias. É só ir a reboque.

É preciso seguir quem está na posição de mais iluminado. Ora, os países africanos, em particular, sobretudo aqueles que foram colónias lusas, haviam enveredado pelo socialismo, porque, como dita a História, tinham que pagar um certo tributo àqueles países que deram apoio, como a China, União Soviética, a ex-RDA, etc. Uma vassalagem era pertinente que se prestasse, em jeito de um “muito obrigado”.

Como fiz referência nos textos anteriores, os africanos tiveram que seguir a civilização ocidental, a civilização europeia, em particular. Estes homens impuseram como forma de governação, as eleições, como que para indicar a transparência. Para eles, o sistema mostrou-se eficaz, para alternância do poder. Os cargos públicos têm que ser ocupados por gente legitimada pelos governados. Aqui, há que pôr a mão à palmatória, pois, muitas vezes, os governados são culpados pelos maus governantes.

Dizia-me um amigo norueguês que nós os governados é que carregamos a cruz da culpa, pois, escolhemos os maus governantes. Como que para dizer que quem dita e indica quem tem que governar é a população desse território ou desse país. O resto, tudo vai em banho-maria, pois, há legitimidade popular.

Não sei se trata de uma característica dos governantes africanos, o certo é que sempre que há algum sufrágio, sobretudo secreto, as reclamações, logo em seguida, tomam lugar. Ninguém quer respeitar a ninguém, esquecendo-se que quem legitima é a população, é o eleitorado. Depois de um certo escrutínio, entra em campo as digladiações entre os protagonistas do tal escrutínio. O vencido julga-se vencedor, porque não houve transparência, que quem esteve à frente, dirigindo o sufrágio, tem o rabo preso num certo candidato ou partido político.

Depois, os europeus é que tratam de certificar o vencedor. O vencido, mesmo que tenha sido trambicado, mesmo que tenha havido trafulhice, tem que engolir em seco, pois, quem patrocinou o escrutínio já sabe a quem quer que suba ao poleiro. O resto, são cantigas, são reclamações que se tornam improcedentes. Para quem ganhou a eleição, não admite que tenha havido erros ou falha. Afonso Dhlakama é exemplo disto, diz sempre que são lhe roubados os votos, que o seu partido é o maior ganhador, mas que o partido da “maçaroca e batuque” é que se sai a contento, porque todo o aparato eleitoral está sob o seu controlo. Ainda, há pouco tempo, Mazanga veio a terreiro dar conta que “as perdizes” haviam arrasado nas últimas eleições em que Guebuza e a sua cúpula saíram-se vencedores. Tudo não passa de um desabafo de uma criança que ficou sem um pouco de farinha, porque os mais velhos trataram de a comer ainda quente. Lá no norte de África, a sina é outra, os respectivos povos já não se identificam com os seus líderes, tornando-os “persona non grata”, enfim.

Fonte: Jornal Notícias - 20.04.2011

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