Páginas

sábado, abril 23, 2011

Vaidade política que deu em falso (2)

MIRADOURO

Por Arlindo Oliveira

NO caso concreto do nosso país, o destino quis que a gente enveredasse pela economia de mercado, depois que o comunismo desapareceu como aparecera. A História, por ela própria, desenha-se e, como o melhor juiz é o tempo, ela esfuma-se, deixando os seus vestígios, risonhos ou tristes. Ninguém pode negar a História, embora haja gente que a quer adulterar. Outras pessoas não querem que se diga a verdade. É só uma questão de suavizar a linguagem, tudo levezinho e pronto.

Quando se diz que a economia é de mercado é uma questão de evitar o nome duro e contundente que se designa capitalismo. Aliás, quem leu o livro “O Capital” (Das Kapital), de Karl Marx, terá, de certeza, entendido que ele (o autor) fosse da ala comunista, defendia que este tipo de desenvolvimento económico dos Estados só poderá lograr os seus intentos depois da acumulação do capital. E só há acumulação de capitais onde reina o investimento, sobretudo de índole privado.

Porque houve desentendimento entre os camaradas neste país a guerra civil fustigou-nos, cujo argumento foi de que não havia democracia nesta Pérola do Índico, quando, curiosamente, o primeiro presidente pós-independência tanto falava da democracia. As pessoas não tiveram a coragem de gritar que pretendiam que se instalasse o sistema de livre concorrência para o desenvolvimento do país.

Alguém, aliás, muitos filósofos defendem que a guerra é um intervalo entre a paz e só há guerra quando as pessoas não se entendem quando sentadas à mesa das negociações. Ou melhor, muitas vezes a guerra força ao diálogo. Infelizmente, para muitos dos líderes africanos essa coisa de diálogo é a última alternativa a que se recorre. O uso da força é que tem cantado bem alto. Dizem eles que quem sabe toca a música e dança, enquanto os outros ficam assistindo.
Felizmente, cá entre nós a guerra já lá se foi, desde que em Outubro de 1992 as armas se calaram, numa atitude em que Moçambique saiu a ganhar. Hoje por hoje o país serve de referência incontornável para o mundo da pacificação, embora, amiúde, Afonso Dlhakama lance discursos incendiários, pondo toda a gente em alvoroço. Mesmo estamos certos que “cão que ladra não morde”. O líder da Renamo profere esse discurso em sentido conotativo, em sentido poético. A paz veio para ficar e a gente embala em banho-maria.

As democracias são rotuladas com as eleições, em que se diz que o povo é que elege quem o pretende como seu dirigente, como seu líder, quem vai ocupar o poleiro político. Felizmente, as nossas eleições têm sido as mais possíveis cá entre nós. Os outros países africanos tiveram que engrenar, já que o mundo ocidental quer que assim seja. A ditadura já teve o seu tempo e pronto. A História está traçando outra dinâmica. Quer sim, quer não, os ocidentais é que ditam as regras de jogo. Quem não entra no mundo da democracia está condenado a ter que carregar a cruz.

Fonte: Jornal Notícias - 18.04.2011

Sem comentários:

Enviar um comentário