Por Noé Nhanthumbo
Gastar recursos escassos com tal organização nunca fez sentido...
Enquanto era o coronel de Tripoli pagando as quotas de alguns dos países de África e impondo a sua agenda com a real falta de participação dos seus vizinhos da África do Norte não havia motivos de preocupação em vários quadrantes políticos continentais. Tunísia, Egipto, Argélia, Marrocos sempre optaram por uma intervenção nos assuntos de uma União Africana dominada por Muamar Qaddafi.
Da África subsahariana submergia a imagem de que os pobres africanos desta região não se importavam de ter mais um "diktat”. Do Chade ou do Mali, de Burkina Fasso ou da Guiné Conacry ou Bissau sempre foi irrelevante que a União Africana tivesse legitimidade e credibilidade desde que o coronel de Tripoli não deixasse de prestar o apoio oportuno em momentos de crise e aflição. Se é verdade que muitas das forças de protecção de chefes de estado africanos tiveram formação e treino na Líbia isso deve merecer uma leitura a altura dos desafios continentais de hoje.
Não se pretende advogar um vazio político e organizacional mas sim exigir que a UA ganhe aquela importância e relevância que correspondam ao actual estágio histórico e político de África.
Se a UA definiu o NEPAD como instrumento para o desenvolvimento de África isso deve ser assumido através do cometimento orçamental de todos os governos africanos e não ficar dependente da injecção de fundos pelas potências ocidentais ou a China/Índia.
Há recursos identificados sendo dilapidados abertamente para benefício dos que se dizem liderança continental. Há parcerias empresariais privadas constituídas como base na influência que as lideranças políticas exercem que são comprovadamente lesivas para o continente, seus cidadãos e ambiente. A nomenclatura africana constituída a custa da participação na luta anti-colonial não TEM sabido cumprir com os projectos independentistas que advogava. Uma vez conquistada a independência e uma vez derrubado este rei ou aquele o que foi feito foi substituir integralmente o modo de actuação da potência colonizadora. Em qualquer canto de África se verificam fenómenos como "dividir para reinar". A intolerância política é um facto tão frequente que ex-presidentes quando derrubados e afastados do poder até chacinados a golpes de catanas. A vingança política, o ódio que esta alimenta constituem um ciclo de violência que reduz a hipótese de estabelecimento de regimes políticos democráticos, respeitadores da lei e dos direitos dos cidadãos.
Há muita retórica à volta da situação real de África. Do Ocidente infelizmente não podemos esperar por muita coisa porque com o conhecimento que este possui de África, sua intervenção poderia ser muito mais proactiva do que está sendo. Dos parceiros do Sul ou BRICS convém não esperar coisa alguma mesmo porque a sua perspectiva está centrada em ganhar espaço e protagonismo na arena internacional frequentemente à custa dos países chamados em via de desenvolvimento. A cooperação Sul-Sul que era denominada chave para o nosso progresso e desenvolvimento atrasa em levantar voo porque os assuntos de natureza política e de governação de nossos países são colocados na cauda da agenda.
É inegável que com actual maneira de governar os países africanos seus recursos só tem servido para fazer crescer as contas bancárias dos chefes de estado, primeiros-ministros, ministros e outros altos-funcionários. Depois destes vem toda a fauna de filhos, enteados, sobrinhos, concubinas e funcionários menores das estruturas partidárias, militares e policiais. Todos estes querem enriquecer e fazem-no mesmo que para tal tenham que defender a manutenção no poder de gente já senil. Quantos gritos não deu o filho de Mubarak quando modificava o discurso de renúncia do pai? Que fazem os chefes militares e de inteligência do Zimbabwe? Que fazem os "delfins" em diferentes países africanos onde a autocracia é a forma eleita de governo?
Quem com os recursos disponíveis não consegue produzir desenvolvimento e progresso reais para seu país não pode alegar legitimidade, credibilidade ou coisa alguma. É preciso e urgente aceitar que os tempos são outros e que os povos estão cansados de retórica barata. A riqueza e o fausto em que vivem as elites políticas de África são um verdadeiro insulto aos seus concidadãos. Em nome de uma falsa soberania e de princípios furados por práticas corruptas e lesa-pátria os cidadãos não podem continuar a ser os únicos consentindo sacrifícios. Os sucessivos chefes de estado que estiveram na liderança desta nova versão de organização continental africana já mostram o limite do que estão dispostos a fazer e uma das coisas que se negam a fazer é condenar publicamente seus pares mesmo quando estes procedem à margem das leis, violam os direitos dos governados e massacram indefesos. Para que serve tal organização se sua actuação se faz sempre nestes moldes? Decerto que para os africanos de uma miséria indesculpável já é tempo de desmontar esta União Africana que só serve a burocracia de Adis Abeba, Jean Ping e seus pares...
Exige-se dos "líderes" de África que reflictam rapidamente e declarem aos povos de África sobre o que querem e como querem continuar a gerir aquilo que em princípio é organização de nós todos.
Chega de mediocridade e extemporaneidade na vossa actuação.
Ninguém vos deu mandato para procederem como estão fazendo...
Fonte: DIÁRIO DA ZAMBÉZIA in Mocambique para todos – 20.04.2011
Bom texto para estudantes de relações internacionais.
ResponderEliminarZicomo