Por Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
“Na maioria dos países democráticos, os níveis de confiança nos políticos têm vindo a decrescer nos últimos anos talvez porque para as opiniões públicas tenha passado a ideia de que hoje em dia são poucos os que se batem por convicções mas muitos os que lutam por interesses” – Judite de Sousa, Jornalista da RTP
A exoneração dos ministros (Ivo Garrido, da Saúde; António Fernando, da Indústria e Comércio; Soares Nhaca, da Agricultura), antecedido de uma revolta popular intensa e profunda leva a concluir, à partida, que este Governo está sem rumo. A ideia de accionar um piloto-automático não só é válida como necessária.
Enquanto isso, o vilão José Pacheco, ex-ministro do Inteior, o mesmo que apodou o povo moçambicano de vândalos, vai agora, por decisão do PR, ocupar o cargo do antigo sindicalista, Soares Nhaca. A dita viragem, finalmente, começou!
Aposto que nem os mais acertados em jogos de totobola, muito menos o falhado feitiçeiro dos “Mambas”, seriam capazes de colher louros quanto ao prognóstico de duas mexidas, que, quanto a mim, merecem um reparo! A primeira diz respeito a exoneração do Dr. Ivo Garrido. Garrido foi dos poucos ministros da Saúde que transformou a alegria e o profissionalismo em drogas de que todos nós, enfermos, precisamos. Ou seja, devolveu o sorriso de ter um atendimento digno em hospitais da rede pública e privada.
O seu método de trabalho, sobretudo a disciplina moral e orçamental, criou-lhe inimigos dentro e fora do país. Mas este mundo - diz o poeta Aguinaldo Fonseca, é um mundo de coisas desajustadas e aquele que mais merecimentos têm é que maiores dificuldades encontra. A sua maior obra (sem querer cometer um acto de advocacia) é o valor que deu à Saúde. Reconheço, no entanto, que durante o seu mandato permanecem zonas obscuras, que, para mim, são próprias de quem trabalha.
Por outro lado, não compreendo a nomeação de José Pacheco para o cargo de ministro da Agricultura onde já foi vice-ministro. Como vice-ministro não fez mais do que a sua obrigação: levar o gado à pastagem. Como ministro do Interior a sua obra foi, entre outras coisas, abrir champanhe sempre que um criminoso fosse preso ou abatido.
Com excepção de Garrido, Pacheco não fez nenhuma reforma no Sector da Polícia, sendo também a deficiência dele (deste sector), um dos grandes males da vida do país. Que viragem dos caraças!
Não quero acreditar que o PR, político de mão cheia, poeta da luta armada e homem bastante culto, tenha feito estas mexidas com base nas manifestações de 1 e 3 de Setembro. O dever de um político não é de governar um país com base em temperaturas estomacal de uma minoria ou em quem tem mais voz, pelo contrário, é tomar medidas justas em benefício da maioria.
Voltando à nomeação de José Pacheco cuja “obra” me tenho debruçado, a meditar com alguma inquietação.
Ainda não ouvi sequer dizer se o governo vai ou não investigar as causas e consequências das manifestações de Setembro.
Também ainda não ouvi um único pedido de desculpas de José Pacheco ao povo. Afinal de quem é a responsabilidade das mortes da polícia moçambicana? De Lúcifer? Se sim, enviado por quem? Há uma frase peregrina que me acompanha durante meia-dúzia de anos, de Filipe Themudo Barata: “a disciplina e o prestígio da autoridade devem basear-se, antes de tudo, em valores éticos, um dos quais é o sincero respeito por aqueles sobre quem a exercemos. Uma sã disciplina, que não mutile a alma humana, deve basear-se também no respeito pelos subordinados.”
Este não é tempo para brincar à governação nem ensaiar governantes. Este é tempo de acção. É tempo de colocar a máquina a andar e andar para a frente. Não é tempo de apostar e confiar em cavalos errados. É preciso transformar os interesses partidários em interesses nacionais. O partido frelimo não é o único “laboratório de lentes humanas” onde se pode encontrar pessoas competentes, digamos, do tipo "fénix". A oposição, por incrível que pareça, também há quem tenha "cérebro" e dos melhores para levar o barco a bom porto. O PR não pode, na minha modesta opinião, insistir em apostar em jogadores que já deram o máximo de si. Bem dizia um entendido do desporto que as ferramentas do passado já cobraram o seu prémio. Agora os tempos são outros, onde a planificação e a previsão são armas letais no momento de conseguir os objectivos.
Fonte: O Autarca – 14.10.2010
O Sr. Pacheco é um rapaz para controlar os investimentos chineses e vietenamitas que vêm nos sectores da agricultura. "Temos que colocar um bom rapaz". Foi bom rapaz em Montepuez, M. da Praia, e mas recentemente em Maputo; é assim que sao feitas as nomeaçoes. Se a formula fosse de apanhar pessoal competente, claro que nao estaria lá.
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