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sábado, outubro 16, 2010

Aula de jornalismo de Lázaro Mabunda a Nuno Amorim

Meu caro Nuno Amorim,

Jornalismo tem regras, meu caro. Uma das regras é que quanto menor for a probabilidade de ocorrência de um determinado facto, maior é a probabilidade de esse facto ser notícia. Ou seja, quanto mais não se espera de um determinado acontecimento, maior é a probabilidade de ele ser notícia. Factos surpreendentes, mas acima de tudo pouco comuns.
É por isso, meu caro, que se diz que "quando o cão morde o homem não é notícia. É notícia quando o homem morde o cão". Quer dizer, há um facto que é previsível e normal, que é o cão morder o homem e um outro facto que é imprevisível, que é o homem morder o cão.
Se Moçambique é exemplo no combate a pobreza esse facto é previsível, é o que está plasmado no Plano Quinquenal do Governo, mas quando acontece o contrário, a pobreza combater o Governo, esse facto é semelhante ao homem que morde o cão.

Jornalisticamente - jornalismo puro - essas duas situações têm impacto e relevância diferentes e consequentemente merecem destaques diferentes.

Anteontem, o FMI, por exemplo, disse que Portugal sofreria regressão económica no próximo ano e o Governo disse que a economia iria crescer. Nisto, os media deram mais importância as previsões do FMI do que a previsão do Governo português. Porque o mais previsível, o que mais se espera é que a economia de qualquer país cresça, mas quando acontece o contrário, aí o facto merece outro destaque.

Em suma, é tarefa do Governo combater a pobreza, daí que isso não constitui nenhuma novidade. Constituiria novidade se o Governo não combatesse a pobreza. Neste caso, o que constitui novidade é o facto de a pobreza ter aumentando no país, de 54.1%, em 2003, para 54.7%, em 2009. Isto é contra as previsões do Governo e de todos nós. É um facto imprevisível. Disto de outra forma: "é o homem que mordeu o cão". O que esperávamos era que o Governo viesse dizer-nos que a pobreza baixou de X para Y%. Não acontecendo isso, os jornalistas (profissionais) destacam e continurão a destacar muito bem esse facto.

Espero ter contribuído para a sua persepção sobre o que é um facto puramente noticioso do que não é.

2 comentários:

  1. O Mabunda deu uma excelente lição mas duvido que o aluno tenha aprendido alguma coisa.
    Onde estavam os "Amorins" quando inúmeros relatórios apresentavam a triste realidade moçambicana de frcassos do (des)Governo da Frelimo? Essa gente esteve silenciosa mas agora fazem alarido por causa de um simples relatório.
    Não vale a pena escamotear e manipular a verdade. Em termos de combate à pobreza Moçambique está mesmo mal!

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  2. José, é bem possível que o aluno não tenha aprendido como nunca aprendeu quando sempre nos referimos disso. Aliás, não é só ele, mas há muitos que pululam por aí. Ora esses governantes recebem salários chorudos e beneficiam-se de mordomias para combaterem a pobreza duma forma acelerada. Quando o curso é contrário, é mesmo anormal e tem que ser notícia e sancionado.

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