Parques africanos usam política do 'atirar a matar'

Várias organizações de conservação da natureza em África estão a usar uma política de "atirar a matar" contra caçadores furtivos para tentar proteger espécies em vias de extinção.

A revelação foi avançada por um estudo realizado pela Universidade inglesa de Manchester que sugere que mercenários e empresas privadas de segurança são regularmente empregues para treinar os guardas dos parques de vida selvagem.

Esta prática foi encontrada em países como o Zimbabué, a Republica Democrática do Congo ou o Malawi.

Uma das autoras do estudo de 15 anos, a professora Rosaleen Duffy, disse à BBC que estava ainda por clarificar quem ordena estas actividades, que descreveu como campanhas com sabor militar:

"Os países e as ONGs não foram claras sobre até onde é que estes grupos privados podem usar a política do 'atirar a matar', e a razão para isso é que estas companhias privadas protegem vida selvagem que é muito rentável para o sector turístico e essencial para as ONGs de conservação da natureza em termos de angariação de fundos. Mas quem é que define quem é um caçador furtivo e quem deve ser baleado e morto no meio do campo?", questionou a professora.

Rosaleen Duffy disse ser muitas vezes difícil distinguir caçadores furtivos de cidadãos inocentes.

'Animais valem mais que pessoas'

O crescimento do turismo de conservação e a protecção de animais simbólicos ameaçados de extinção, como o gorila ou o rinoceronte, está a colocar pressão sobre as ONGs e os parques e a fazer com que a vida daqueles animais valha mais do que uma vida humana, diz a professora, para quem se está a propagar o método de "atirar primeiro e perguntar depois".

A caça de subsistência é proibida em vários parques onde regularmente as populações locais são consideradas como uma ameaça à vida selvagem.

A autora do estudo admite contudo que muitos caçadores furtivos, muitas vezes antigos elementos das forças de segurança, também não se coibem de atirar a matar.

A professora diz contudo que o escalar desta guerra pela vida selvagem é o caminho errado, frisando que os agentes de conservação da natureza devem trabalhar em conjunto com as populações para as ensinar a valorizar os animais que vivem nas imediações das suas residências.

Fonte: BBC para África - 17.08.2010