Carta de um professor indignado
Pela independência que o vosso semanário demonstra, venho por este meio pedir ao Exmo. Editor para publicar esta minha inquietação. Até dia 26 de Abril de 2010 eu era docente na Escola Secundária “1.º de Maio” de Chicuque, que dista a 4 km da Cidade da Maxixe, na Província de Inhambane.
Uma vez só tinha aulas no curso nocturno naquele dia, enquanto estava no segundo tempo, o director pedagógico do curso nocturno chamou-me e deu-me a informação de que não devia mais dar aulas por decisão do Senhor Director da mesma escola, o Sr. Manuel Elias Paunde. Procurei saber os motivos mas este apenas disse que devia contactar o Director.
No dia 27 de Abril procurei o Director da escola e este confirmou que eu estava transferido. Pergunteilhe a razão de não ter sido avisado atempadamente e ter sido tirado da sala de aulas como se de bandido se tratasse. Este disse que tinha recebido orientações para eu parar de dar aulas, quer no curso diurno assim como no curso nocturno.
Insisti em querer saber onde iria a partir daquele momento e este disse-me que devia levantar guia para ir trabalhar na Direcção de Serviços de Educação, Juventude e Tecnologia da Maxixe (SEJT).
Quando pedi para saber a razão de ter perdido o horário do Curso Nocturno uma vez que iria trabalhar de dia, este disse que “na tua vida, enquanto estiver na cidade da Maxixe, se possível na Província de Inhambane jamais vais dar aulas”. Perguntei se ele sabia os motivos que estavam por detrás desta decisão uma vez eu sou formado para dar aulas da Língua Inglesa como língua estrangeira e ele me respondeu o seguinte: “A Frelimo suspeita que tu és representante dum partido político da oposição, quando dás aulas aproveitas para fazer campanha a favor do teu partido, além disso tu deu um teste aos t eus alunos cujo texto falava mal da Frelimo…”
Cansado de ouvir as acusações grátis e infundadas levantei a minha guia e fui apresentar-me na SEJT da Maxixe, mas infelizmente o Director da SEJT refutou todas as acusações que o Sr. Manuel Elias Paunde me imputara.
Fiz uma exposição para o Sr. Manuel Elias Paunde pedindo esclarecimentos e fiz o mesmo ao Director da SEJT, mas não tive resposta. 22 dias depois reencaminhei a exposição ao Director Provincial de Educação e Cultura cuja a exigência era a de voltar à sala de aulas e não estar encarcerado na SEJT.
Graças a Deus o Director Provincial encaminhou o assunto à Inspecção Provincial para averiguação.
A decisão final foi tomada após um encontro entre eu, a Inspecção Provincial, o meu ex.-director e o Director do SEJT. Da minha parte apenas houve a falha de eu ter ido visitar a minha mãe em Chimoio sem ter permissão do Director Provincial num período de interrupção de aulas do primeiro trimestre. Mas a direcção da minha escola teve conhecimento da minha saída. A Inspecção Provincial não viu nenhum problema da minha parte e como solução eles pediram que os dois directores me tratassem como humano e repor a minha dignidade sem prejudicar os alunos.
Quando saímos da Inspecção os dois directores comprometeram-se em resolver o assunto amigavelmente e declararam falsamente que eram meus amigos. Mas se há alguém que se portou como amigo mesmo, talvez foi o Director do SEJT. O Director da Escola Secundária “1.º de Maio” continuou a dizer que na escola dele eu não poderia lá voltar porque iria criar um mau ambiente.
Embora eu já tenha voltado às salas de aulas e actualmente esteja na escola Secundária “29 de Setembro” na cidade da Maxixe, que é aquilo que eu sempre quis, o Sr. Paunde não aceitou receber-me, nem no curso nocturno.
Por razões meramente pessoais. - Acusou-me de ser membro dum partido da oposição, talvez por não conhecer que a Amode não é um partido político, mas sim uma Organização da Sociedade Civil e como queria atingir seus objectivos pessoais, como dar horas extras ao seu cunhado que me substituiu no Curso Nocturno em vez de ser aquele professor que foi mandado pelo SEJT para me substituir no Curso Diurno. As horas extras são dadas a professores doutras escolas só quando não houver professor interessado nessa escola, mas o cunhado do meu ex-director é doutra escola e naquela escola existem Três professores que pediram e não foram lhes cedidas horas. A Escola para o Sr. Paunde é lugar para satisfazer familiares seus, chegando a dizer que ele não era proibido de dar l ugar a seus familiares.
Concordo, mas deve dá-lo quando esse lugar estiver vago e não arrancar o pão a um “chingondo” para o dar a um seu familiar. Se eu fosse de Inhambane o Sr. Paunde nem teria arranjado mentiras para me tirar da sua escola.
- Acusou-me de ter dado um teste que falava mal da Frelimo, mas quando pedi o mesmo para me mostrar esse teste, disse que não o tinha visto. É possível não encontrar um exemplar desse teste entre os alunos de 10 turmas (7 do curso diurno e 3 do curso nocturno) que eu leccionava na escola? A conclusão a que cheguei é que o Sr. Paunde pensou que usando o nome da Frelimo se livrava de mim e satisfazia as suas ambições políticas. Ele sabe muito bem que na minha presença não iria conseguir, porque não sei quando essa Frelimo se reuniu para tomar a decisão de que eu não devia dar aulas, ou ainda mais os seus aliados só podem ser aqueles membros ambiciosos que acham que manchando a imagem dos outros podem subir degraus. Será que a decisão foi tomada na reunião que o Sr. diz ter acontecido na Escola na presença de uma delegação do comité da cidade e os secretários das células existentes na escola?
Até hoje não sei os fundamentos da minha transferência, porque à última hora as primeiras razões que ditavam ser ordens do Partido Frelimo se transformaram na minha ida a Chimoio como causa principal.
Muitas pessoas dizem que eu me devo contentar uma vez que tenho o meu salário em dia, mas eu tenho família, tenho amigos. Muitas pessoas ficaram chocadas ao saber que eu era da oposição (embora ser da oposição não seja pecado), mas para mim é chocante porque mesmo em Maputo todos me conhecem como um imparcial. Gostaria de esclarecer uma vez para sempre a pessoa que me acusou (Sr. Manuel Elias Paunde – Director da escola Secundária “1.º de Maio” de Chicuque).
Eu sou o Coordenador Provincial da Amode (Associação Moçambicana para o Desenvolvimento e Democracia). Sou voluntário e membro da mesma Associação. Sou voluntário porque não tenho nenhum salário nem subsídio mas faço o meu trabalho com toda dedicação e amor nos tempos livres.
As minhas classificações nos últimos três anos são positivas (17, 17, 17), sinal de que respeito o meu trabalho como professor e também o faço com gosto e dedicação, pelo que fico admirado, como é que não apanham erros ao me classificarem e arranjam acusações falsas só porque eu sempre digo: “Não tenho medo dos meus chefes, mas sim respeito”.
A Escola Secundária “1.º de Maio” nunca teve casos de corrupção visíveis, mas colocando seus familiares, substituindo pessoas idóneas, veremos. Desejo-lhe sucessos como Director e este é o meio que encontrei para lhe dizer aquilo que eu sinto uma vez que recusou ser meu amigo ao não responder a minha exposição, ao não me dizer quem lhe disse que eu era da oposição, ao não ter tido um exemplar do teste que eu fiz falando mal da Frelimo, ao colocar o seu familiar no meu lugar do curso nocturno e não querer tirá-lo após eu ter ganho a causa, e finalmente ao mentir na inspecção que eu faltara na realização de exames do fim do ano, etc.
Lamento que na altura em que todos lutamos para a transparência, ainda haja dirigentes que optam por satisfazer seus familiares contra os “chingondos”, etc. Se a minha ausência foi motivo de me transferir, quantos professores nas suas escolas faltaram e não os transferiu? Não os transferiu porque são guitongas ou matswas? Não estará o sr. a fomentar o tribalismo? Quem lhe disse que transferir um professor é castigo? Será que neste país há escolas onde os indisciplinados devem trabalhar? Já que me acusa de ser da oposição, será que há escolas especiais para professores da oposição darem aulas? Porque não separa os alunos da tua escola em cores partidárias para os supostos professores da oposição darem aulas alunos dos seus partidos? Tenho pena de si sr. Director Paunde mas desejo-lhe Boa sorte!
Mário Paulo Mutucua Docente de N2 agora afecto na Escola Secundária “29 de Setembro” da Maxixe leccionando a Disciplina da Língua Inglesa (sua formação)
Fonte: SAVANA in Diário de um sociólogo
Reflectindo: mais um caso que prova a partidarização ou simplesmente frelimização (Partido Frelimo é papão) das instituições públicas, lambebotismo que quiçá tribalismo. Este é um assunto que num Estado de Direito o director deviam ser sancionado imediatamente. O autor da carta já fez perguntas suficientes para serem respondidas.
Ilegalidade.
ResponderEliminarDenunciado.
Zicomo
Vamos ver se a Victoria Diogo vai agir contra este Paunde. E o governador Trinta? O Ministro da Educação? A procuradoria da República? Estes manter-se-ão calado?
ResponderEliminarEste professor é corajoso, pois que há milhares de funcionários públicos vitimas nas mesmas condições, mas ainda se mantêm calados, talvez com o medo de lhes acontecer o pior.
Triste, triste, triste.
ResponderEliminarVivi em Chicuque até 1999 e estudei nas duas escolas aqui referenciadas. Vou a Inhambene, no minimo, uma vez por mês.
sempre guardei boas recordações das duas escolas e até hoje as tenho como modelos. Pena que sobre Chicuque, tenha caido esta terrivel nódoa .
não tenho em mente alguma experiencia de tribalismo com origem em nós manhembenas (bitongas, matswas e machopes). A ser verdade o que o professor narra, seria uma grande tristeza para nós. Sempre fomos um povo pacifico e sem complexos etno-tribais de natureza alguma. mais ainda, a escola em causa, está na missão metodista de Chicuque, um local tido (a par da missão de Cambine) como um dos principais centros em que a moral e a fé cristã são cultivadas.
triste, triste, triste
Ops: seria interessante, ouvir a versão do director da escola. abraço
Acompanho este martírio quase desde o inicio e o que posso dizer é que o Mutucua tem um carácter muito forte e não conseguiram deitá - lo abaixo com as perseguições, insinuações e coações a que esteve sujeito. Aguardemos serenos o desenrolar desta novela pedindo ao Mutucua que aguente pois que dele provavelmente sairão outros tantos combatentes contra a partidarizaçäo nos empregos. Força Mutucua. Seria bom que muitos dos Maxixenses que estão (sei por conhecimento próprio) ao seu lado se manifestassem.
ResponderEliminarMeu irmão Saiete,
ResponderEliminarDe facto é chato quando coisas destas acontece em sítios onde temos raízes e conhecemos perfeitamente que o comportamento de um não é a característica da gente que lá vive. Na verdade, o comportamento tribalista é mais de uns indivíduos oportunistas. É meio para certos fins.
Neste caso nem me parece que pesa mais o tribalismo embora eu pense que realmente se fosse um bitonga, matswa ou machope este Paúnde não iria agir como agiu contra o professor Mutucua, um viente. Mas isso seria por razões de medo, pois a reacção contra este Paúnde podia vir da população local em solidariedade, mesmo antes da notícia chegar-nos. Entretanto, tudo pode ser um mau cálculo de Manuel Paúnde que pelo menos eu nem sei donde ele é.
Não é difícil saber que Manuel Paúnde usa todos os truques, porque nem do partido dele consta algo que lhe autoriza transferir um professor por ser da oposição, embora muitos façam o mesmo incluindo. Claro, que a atitude é a GRAXA para polir os chefes, mas sempre constitucionalmente ilegal e anti-estatutária (Frelimo).
A versão do director é interessante, porém, tratando-se de uma suspeita de abuso de poder, nepotismo ou compadrio, há o governo de Inhambane tem que agir accionando uma investigação rápida e tomando medidas que o merecem.
Já que um denuciante escreve toda a sua identificação, eu acredito nele.
Caro JMaxixe
ResponderEliminarObrigado pela contribuicão a partir do local - Maxixe, Inhambane. Com certeza o professor é corajoso e merece a nossa solidariedade.
Há muito que se procura saber que tem sido vítima destes chantagistas. Aí está um deles.
e triste que no sio de uma sociedade moderna e com ideiais intelectuias muito avancados, notemos fenomenos desta natureza-"chantagens a vista!"
ResponderEliminarQue se pronuncie o Governo local bem como os superiores Hierarquicos porque nao devemos deixar que se continue encomendando transferencias sem motivos.
Forca Mutucua que a justica passe a vista!