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quinta-feira, junho 10, 2010

Reflectindo sobre caso MBS e o narcotráfico

Por Domingos Alexandre Simbine

O arrolamento do patrão do Grupo MBS na lista dos barões do narcotráfico pelo governo norte-americano pode levar-nos a uma série de reflexões. Numa primeira fase, podemos considerar que o aparecimento deste compatriota naquela lista vem a confirmar as alegações ou interpretações diversas em relação à sua riqueza abrupta, as suas ligações com o tráfico de droga e influência política.
Mas, na minha forma de ver, isto resulta do facto de que não parece haver transparência no processo de enriquecimento em Moçambique. Por exemplo, é fácil encontrar informação sobre como Henry Ford, Toyoda, Honda, Bill Gates, entre outras personalidades do mundo dos negócios conseguiram sair do nada e tornaram-se ricos. Essa informação pode ser encontrada nos diferentes livros de economia, gestão, marketing, na Internet, em biografias e autobiografias, etc. Mas, os poucos homens bem sucedidos no mundo dos negócios que temos em Moçambique, vivem em seus mundos fechados, pouco ou nada sabemos sobre como é que conseguiram vencer na vida e se tornarem ricos – dando aso a uma série de especulações, por vezes acertadas, por vezes não, através dum sistema de comunicação expontânea.

Escrevendo as suas histórias de luta pelo sucesso, o País iria ganhar de várias formas, nomeadamente, no campo económico-pedagógico – mostrar aos outros cidadãos como as pessoas podem definir o seu próprio destino; decidir sobre o seu sucesso, com base no esforço próprio, objectividade e determinação; no campo espiritual – mostrar que para se ser rico não é preciso ter sorte, ir a um curandeiro ou dizimar membros da família – é só uma questão de pensar e agir como rico; no campo do direito, mostrar que é possível ser-se rico sem recorrer a práticas de corrupção e tráfico de influências, pagando/cumprindo com as suas obrigações para com o Estado; no campo político – demonstrar que não precisamos de recorrer ao lambebotismo político-partidário para vencermos.
Deixem-me abrir um parênteses para dizer que a tarefa de escrever as histórias dos nossos homens de sucesso no mundo dos negócios não é pura responsabilidade deles mesmos, mas também dos nossos escritores, cineastas, realizadores – já basta de miopia no seio da nossa literatura e cinema – com os autores a produzirem o que acham bonito e bom para eles, vendendo as suas obras basicamente dentro da sua classe e a queixarem-se de que o Estado não olha por eles – é preciso produzir para informar e formar os nossos cidadãos. Também gostaria que histórias de sucesso no mundo dos negócios aparecessem nos livros escolares, nos mídia, em documentários, filmes, etc., para inspirar as novas gerações – já basta de exemplos dos Fords, Hondas, Toyodas, Phillips, Bill Gates e companhia. Quero exemplos de meus compatriotas para que eu perceba que não só é possível enriquecer na América, Ásia e Europa, mas também no meu país e em África no geral.
Associado a isto está o preconceito, que os moçambicanos têm do dinheiro e da riqueza – associar a riqueza e o dinheiro à superstição, ao tráfico de droga e de órgãos humanos, à corrupção, ao crime, ao mal, etc. Aliás, isto não vem por acaso, em Moçambique são muito poucas as pessoas que conseguem ficar ricas honestamente, porque como deve ser do domínio público, o nosso país é um dos lugares mais difíceis de fazer negócio no mundo. O nosso sistema de licenciamento de actividades económicas, a banca, a nossa legislação fiscal e outros instrumentos de regulação parecem, quanto a mim, estarem mais próximos de dificultar a um cidadão comum de exercer a uma actividade económica/comercial do que facilitar.
Voltando ao assunto em questão, “Mohamed Bachir Suleman arrolado pelo Estado norte-americano como um dos barões do narcotráfico” – pessoalmente gostaria de saber se o MBS publica normalmente as suas contas em jornais ou no Boletim da República? Se o MBS estaria em condições de demonstrar o cumprimento normal das suas obrigações fiscais e alfandegárias? Ou seja, quanto paga de imposto e quanto é que devia pagar comparado com as outras empresas da mesma dimensão? Também gostaria de saber se o MBS estaria em condições de publicar a lista dos seus accionistas? Etc. Talvez isto venha a ajudar a esclarecer ou demonstrar a inocência ou não do nosso compatriota. Vir à imprensa declarar-se inocente é a coisa mais fácil de fazer para lavar a imagem. Mas não basta autodeclarar-se inocente, é preciso provar com factos.
Até aqui não vi nenhum pronunciamento do Procurador Geral da República sobre a matéria, seria bom que em nome do Estado Moçambicano esta entidade se pronunciasse e informasse que passos estão ou serão dados para esclarecer (o mal entendido) e limpar a imagem de Moçambique. Quero que o mundo saiba que em Moçambique é possível enriquecer honestamente. Quero que o mundo saiba que em Moçambique existem instituições sérias e comprometidas com a justiça e que não pactuam com o crime seja qual for o grau de influência económica, social ou política dos seus praticantes. É uma questão de soberania nacional – ou seja, trata-se da imagem do cidadão moçambicano Mohamed Bachir Suleman, mas também do bom nome de Moçambique.

Mais não disse, nem sequer quis dizer!

Fonte: Jornal Notícias - 08.06.2010

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