Estádio 25 de Setembro ficará para a história

Por Amós Zacarias

Caros leitores, meus compatriotas, eu prefiro começar por recuar para aquilo que há bem pouco tempo afectou a classe cultural e o povo em geral, na altura da destruição do complexo cine esplanada Kudeca, lá para as bandas de Tete, terra do malambe, chicoa, por decisão precipitada de alguém de coração duro, que nem se querer tem a ver com os desejos do povo. Pareceu-me uma mentira quando acompanhei que o lindão e espectacular Kudeca estava nos seus momentos finais.

Numa manhã resolvi, tão curioso, passar por aquela zona, na periferia do grande Zambeze, vindo da vila mineira de Moatize mas o que lá vi foi triste, para quem frequentemente por lá ia matar o seu stress, ou passar os seus momentos de lazer. Chegado ao local vi, nada mais, nada menos senão os caterpillars que dia após dia iam consumindo aquelas paredes do histórico Kudeca, para a satisfação de uma minoria que cruelmente traçou o destino daquela Infra-eEstrutura, começando-se assim uma nova página da nossa história cultural. Quem ia reclamando eram os fazedores do cinema, teatro e porque não, todos os fazedores da cultura moçambicana.

Todavia, debates vieram a público sobre aquilo que foi o fim do Kudecão, porque pretende-se construir um tal hotel mas eis que procuro saber: “será que na cidade de Tete os espaços já acabaram?” Mas para já não adianta reclamar porque nem uma pedra ainda pode-se recuperar do Kudecão. Infelizmente….

Quem vai seguir o destino do Kudeca é o Santuário 25 de Setembro, na província de Nampula, porque daquilo que dão conta as informações avançadas por alguma Imprensa da nossa praça, a curto prazo o Estádio 25 de Setembro ficará para a história. Certamente já mostramos que em “Moçambique os empresários são os que mandam” não interessa se o povo está satisfeito ou não, “nos mandam fumar lenha” permitam-me o termo.

Segundo aquilo que vi escrito, o moçambicano e o nampulense em particular será obrigado a percorrer seis quilómetros para somente assistir aqueles jogos de futebol que hoje se assistem a partir do 25 de Setembro, só porque assim alguém o decidiu destruí-lo à favor de uma loja. Coitado…

Pergunto eu “ afinal quem manda aqui?” E porquê temos que aceitar que os homens de negócio mandem-nos desta forma tão horrível? Porque daquilo que estou a notar, parece que o 25 de Setembro vai dar lugar a uma ou duas lojas, não interessa o número exacto, o facto é que um estabelecimento comercial vale mais do que um campo de futebol como aquele, que por sinal a nossa selecção lá evoluiu por duas ou mais vezes, mas isto é para esquecer. Não vale a pena sujarmos as nossas memórias em pensar nisto porque daqui há pouco será uma história para o nosso futebol e para o Moçambique no geral numa altura em que o nosso país debate-se com a falta de Infra-Estruturas.

É certo que a promessa é de fazer o outro estádio, se a memória não me trai, há seis quilómetros da cidade das Mutianas, dos Makuas, mas vamos olhar por aquilo que serão os impactos negativos disto, tendo em conta a nossa realidade. Por exemplo, o coitadinho do amante do desporto que só dispõe de um valorzinho apenas de entrada no jogo e não tem o de transporte, automaticamente será obrigado a não ver o jogo acabando por reduzir aquilo que seria a afluência de adeptos ao estádio, contrariando a vontade dos atletas. Mas que fazer, uma vez que em Moçambique “ mola é que fala” e não interessam os desejos dos demais. Na verdade, até certo ponto a estrutura do estádio pode precisar de reabilitação mas isto não dita a sua destruição, isto é pior.....E agora me parece que isto já virou moda, há bem pouco tempo falava-se daquilo que foi com o campo de Zixaxa, para onde vamos assim? Pergunto eu.

Meus compatriotas vamos parar com esta maneira de pensar, com poucas Infra-Estruturas desportivas, cinematográficas, ainda vamos destrui-las sem justa causa. É triste isto.

Para terminar, vai aí um recado para quem de direito “para que nos ajude cá deste lado, não queremos mais ver as nossas Infra-Estruturas de lazer vandalizadas só porque há quem exibiu-nos o ATM (dinheiro) como diz o calão juvenil”.

Socorro pedimos nós. Não queremos 25 de Setembro destruído!

Fonte: Jornal Notícias - 18.05.2010