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domingo, agosto 14, 2011

Chimamanda Adichie: O perigo da história única


Eu sou uma contadora de histórias. E gostaria de vos contar algumas histórias pessoais sobre aquilo que gosto de chamar "o perigo da história única". Eu cresci num campus universitário na parte oriental da Nigéria. A minha mãe diz que comecei a ler aos dois anos, embora eu pense que aos quatro provavelmente esteja perto da verdade. Por isso eu fui uma leitora precoce. E o que eu li eram livros para crianças Britânicos e Americanos.
Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos sete anos, histórias a lápis com ilustrações a lápis de cor que a minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exactamente o tipo de histórias que eu lia. Todas as minhas personagens eram brancas e de olhos azuis. Brincavam na neve. Comiam maçãs. (Risos) E falavam muito do tempo, como era maravilhoso o sol ter aparecido. (Risos) Isto, apesar do facto de eu viver na Nigéria. Nunca tinha estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve. Nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos do tempo, porque não havia necessidade.
As minhas personagens também bebiam muita cerveja de ginja porque as personagens dos livros Britânicos que eu lia bebiam cerveja de ginja. Não importava que eu não tivesse ideia do que cerveja de ginja fosse. (Risos) E por muitos anos, eu tive o desejo desesperado de provar cerveja de ginja. Mas isso é outra história.
O que isto demonstra, penso eu, é o quão impressionáveis e vulneráveis somos face a uma história, particularmente as crianças. Porque tudo que tinha lido eram livros em que as personagens eram estrangeiras, eu convenci-me que os livros, pela sua própria natureza, tinham de incluir estrangeiros, e tinham de ser sobre coisas com as quais não podia pessoalmente identificar-me. Bem, as coisas mudaram quando descobri livros Africanos. Não havia muitos disponíveis. E eles não eram tão fáceis de encontrar como os livros estrangeiros.
Mas devido a escritores como Chinua Achebe e Camara Laye eu passei por uma mudança mental na minha percepção da literatura. Apercebi-me que pessoas como eu, raparigas com a pele cor de chocolate, cujo cabelo estranho não podia formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura. Comecei a escrever sobre coisas que reconhecia.
Bem, eu amava aqueles livros Americanos e Britânicos que lia. Eles agitaram a minha imaginação. Eles abriram novos mundos para mim. Mas a consequência não intencional foi que eu não sabia que as pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta de escritores Africanos fez por mim foi isto: Salvou-me de ter uma história única daquilo que os livros são.
Eu venho de uma família Nigeriana, convencional de classe-média. O meu pai era professor. A minha mãe era administradora. Por isso nós tínhamos, como era a norma, ajuda doméstica a viver em casa, que frequentemente vinha de vilas rurais próximas. Por isso no ano em que fiz oito anos arranjámos um novo rapaz de recados. O nome dele era Fide. A única coisa que a minha mãe nos disse sobre ele foi que a família dele era muito pobre. A minha mãe mandava inhames e arroz, e as nossas roupas velhas, à família dele. E quando eu não terminava o meu jantar a minha mãe dizia, "Acaba a tua comida! Tu não sabes? Pessoas como a família do Fide não têm nada.". Por isso eu sentia enorme piedade pela família do Fide.
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6 comentários:

  1. hum, exustem muitos Fide por este mundo. a diferença é que o do texto, conseguia roupa velha e arroz para a sua familia no campo. os Fides de cá, vivem na 24 de julho, no tunduro, na praça dos contenuadores a espera que um milagre os traga roupa usada.


    E a estoria da nossa escritora é mais que real, aliás a minha mãe anda ávida de conhecer o rio Tejo que tanto ouviu falar nos seus tempos de escola, lá para Inhambane

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  2. Saiete, meu irmão, este texto faz a cada um, se quiser, em reflectir sobre o perigo da história única.

    Abraco

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  3. Gostei do texto. A historia unica acontece em muitas esferas das nossas vidas... conhecemos só uma face da moeda e leva-nos a muitos erros!

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  4. Atenção que estes depoimentos nem sempre são imparciais, são instrumentados. Quem melhor história contar ganha USD....

    Meia palavra basta, ....

    Zicomo

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  5. Munna, concordo contigo. Mas a história não está bem contada segundo a nossa percepção?

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