Páginas

quinta-feira, março 04, 2010

SEQUELAS DE MAIS DE DÉCADA E MEIA DE MONOPARTIDARISMO NO PÓS-INDEPENDÊNCIA

Medo e mudança lenta de mentalidade minam valores democráticos em Moçambique
Formalmente, copiámos das leis mais democráticas do mundo, mas o nosso dia-a-dia não está alinhado com os valores e liberdades democráticos. Sente-se o medo nas pessoas, um medo infundido pelo passado monopartidário e pelas características próprias das sociedades africanas –Silvério Ronguane, analista político e docente universitário
Os direitos e liberdades democráticos estão lá, mas são muito poucos os moçambicanos que os conhecem, mesmo entre as classes mais esclarecidas há um desconhecimento – António Gaspar, analista e docente no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI)

JOSÉ MACHICANE *

A cultura de medo e a mudança lenta de mentalidade para os valores democráticos, após longos anos de monopartidarismo, condicionam a qualidade da democracia em Moçambique, consideram analistas em Maputo.
Apesar de Moçambique celebrar este ano 20 anos desde a aprovação da primeira
Constituição democrática e multipartidária, ainda prevalece entre os moçambicanos o medo da repressão, método que foi muito comum durante os mais de 15 anos de vigência do regime monopartidário, nota Silvério Ronguane, analista político e docente universitário.
“Formalmente, copiámos das leis mais democráticas do mundo, mas o nosso dia-a-dia não está alinhado com os valores e liberdades democráticos. Sente-se o medo nas pessoas, um medo infundido pelo passado monopartidário e pelas características próprias das sociedades africanas”, considera aquele académico.
Para Silvério Ronguane, o exercício de cidadania em Moçambique limita-se a um reajuste ao discurso das elites dominantes, que inibem o surgimento do pensamento alternativo e diferente.
“A opinião própria é reprimida e é logo conotada. É o resquício mais vivo da lógica do reaccionário, uma catalogação que tanto mal fez aos que tentaram pensar diferente dos poderes instalados logo após a independência, em 1975”, sublinha Silvério Ronguane.

Pensamento africano

A desconfiança do poder em relação ao debate público também reflecte o pensamento tradicional africano, em que se “premeia a hipocrisia da humildade e se combate a ambição”, diz ainda Silvério Ronguane.
António Gaspar, analista e docente no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), aponta a mudança de mentalidade dos moçambicanos como o principal desafio para o pleno usufruto dos direitos e liberdades democráticos.
“Os direitos e liberdades democráticos estão lá, mas são muito poucos os moçambicanos que os conhecem, mesmo entre as classes mais esclarecidas há um desconhecimento”, diz António Gaspar.
António Gaspar aponta o que considera “característica atípica da democracia moçambicana”, a cultura da não aceitação dos resultados eleitorais, mas sempre equilibrada pela submissão às regras do jogo democrático.
“Felizmente, as eleições valor democrático, são apenas um dos momentos”, enfatiza aquele docente universitário, acrescentando que “mal passam as eleições, os outros parâmetros de medição do processo democrático tomam o seu curso”.
Por isso, considera aquele analista, a avaliação do processo democrático moçambicano é positiva, porque os pilares fundamentais estão já montados e a funcionar.
* da LUSA & Redacção

Fonte: CORREIO DA MANHÃ in Moçambique para todos – 03.03.2010

2 comentários:

  1. Nao concordo de forma alguma com a maior parte deste 'discurso'.
    O povo mocambicano, mesmo o que vive no campo, nao e tao ignorante como muitos pensam; julgo que em Mocambique ja ha muita gente que questiona as leis democraticas que nao sao aplicadas na pratica.
    Seria de perguntar o porque disto?
    Mocambique e mesmo um pais democratico?
    A Frelimo acredita mesmo na democracia plena, na acepcao da palavra?
    A lei que se aplica em Mocambique, é aplicada da mesmo forma a todos os Mocambicanos?
    Porque ainda existe medo ou receio?
    Isso nao é so heranca do governo de S. Machel... a Frelimo continua governando Mocambique, mas nao e um governo para TODOS, mas simplesmente para os seus simpatizantes e membros, e um governo onde impera o nepotismo, o amiguismo e, acima de tudo, o abuso de poder e corrupcao.
    Mesmo os menos letrados sabem disto, e isto nada tem a ver com medo e mudanca lenta de mentalidade.
    Se queremos ser honestos, em Mocambique nao existe democracia,e a pouca que existe, so beneficia uma minoria da populacao que bajula o governo no poder.
    Maria Helena

    ResponderEliminar
  2. Ola Maria Helena.
    Obrigado pelo teu cometario.

    Quando diz se que o povo mocambicano eh ignorante nao esta a fala-se de uma maneira generalizada, esta sim a falar-se do aspecto politico. Politicamete o povo mocabicano ainda eh ignorante. Olhe, para um pais que depois de mais de quinze anos de democracia (tres mandatos) ainda nao registou um desenvolvimento significativo sob direccao da mesma frente eh porque algo esta errado. Mais de metade dos mocambicanos pensa que se algum dia a oposicao vencer as eleicoes, antes de tudo os mesmos irao querer saquear tudo que ha.
    Isto de uma forma eh ignorancia. Quem faz a democracia nao sao eles e sim nos, o povo. Se Durante o mandato a gente demostra o nosso desgosto pelas situacoes desagradaveis que ocorrem no pais o mesmo nao acontece quando eh hora de votar. nesse momento o povo festeja, danca e orgulha-se de vestir as cores do seu partido mas esquece que a ressaca de tudo isso sera demasiadamente longa. Por vezes o povo esquece que eh ele mesmo quem toma as decisoes.

    Tomas Queface

    ResponderEliminar