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sexta-feira, janeiro 15, 2010

Pax Guebuziana? Guebuza adulto ou Maquiavel teria que voltar a escola?

Por Manuel de Araújo

Surpreendeu-me pela positiva o discurso de tomada de posse de Armando Emílio Guebuza! Tirando alguns arranhões, quem sabe por forca de habito, o discurso de AEG recebe uma nota positiva, não apenas pela extensão (curto) mas sobretudo pela sua plenitude e espírito de inclusão. Sem exageros Guebuza mencionou a palavra unidade nacional em não menos de 10 vezes! Se tivermos o mesmo conceito!

Contrariamente ao que nos habituou, Guebuza usou o seu discurso para sarar as feridas abertas durante os cinco anos de governação, bem como as criadas nas recentes eleicoes. Ao não optar pelo 'se não estas connosco, estas contra nos' ou ao não chamar a seus críticos de 'apóstolos da desgraça' Guebuza trouxe neste seu discurso uma nova lufada de ar fresco e de esperança a milhares de moçambicanos que viam nos dois terços, um mandato para o reforço da arrogância, da ditadura e do desprezo pelo pensar diferente! Ao ser verdade o que se aventa sobre quem será Primeiro Ministro, esta lufada de ar fresco poderá transformar-se em primavera guebuziana! Resta saber se a primavera será duradoira ou então de curta duração!

Sob comando do Venerando Presidente do Tribunal Constitucional, Luis Mondlane, Guebuza jurou, citando o artigo 150. No. 2 da nossa Constituição, '... respeitar e fazer respeitar a Constituição'... , a 'Defesa e promoção da Unidade Nacional' e '... fazer justiça a todos os cidadãos...'.

Apesar de não ter fugido aos seus temas de eleição na governação anterior, nomeadamente o combate a pobreza, ao espírito do deixa andar e ao burocratismo, Guebuza deixou de fora a arrogância que o caracterizava e falou para os moçambicanos. Para alem disso, Guebuza inovou, ao reconhecer alguns fracassos na 'sua guerra contra a pobreza', quando elegeu o combate a pobreza urbana como um dos seus novos standardes. Ou seja, implicitamente, Guebuza reconheceu que a pobreza urbana aumentou, concordando com vários estudos e autores, dai a necessidade da eleição do tema para o presente mandato. E quando um líder sabe reconhecer seus erros e falhas, e sinal de grandeza!

No seu discurso Guebuza repetiu pedagogicamente a lógica do seu pensamento ao afirmar que 'identificado o problema (pobreza) e suas causas, tínhamos duas opcoes: resignar ou amarmo-nos da nossa auto-estima, orgulho pela nossa historia e cultura, auto-confiança, auto-superação' para combater-mos o mal.

Mencionou ainda, como não deixaria de ser, as maiores realizacoes, a construção de escolas, hospitais, extensão de eletricidade a varias zonas, a construção e reabilitação de estradas (tirando as da cidade de Quelimane de que convenientemente se esqueceu), criação de postos de trabalho, os sete milhões, para concluir a dado passo que a pobreza recuou, tendo se esquecido que o ditado popular que diz, 'recuar não e fugir, pode ser o tomar de novas posicoes'! Teria somando pontos se Guebuza, neste paragrafo reconhecesse que apesar de termos aumentado o numero de escolas, de hospitais, de rodovias, a qualidade do ensino, dos serviços de saúde e das rodovias esta aquém das nossas aspiracoes! E mais Guebuza ficou aquém da minha expectativa quando nao teve a coragem de assumir que o objectivo principal dos moçambicanos e quica do nosso estado e a criação da riqueza! E que um estado que se preze e que queira competir no teatro das nacoes não deve ter como objectivo principal apenas combater a pobreza! Tem de ser mais ambicioso! A nossa auto-estima não se cria combatendo a pobreza, cria-se, criando riqueza, que por sua vez combatera a pobreza! E que a pobreza pode ser combatida com dinheiro alheio, o que suponho não reforçaria a tal auto-estima e muito menos a nossa mocambicanidade, dois apanagios de AEG.

Para não deixar a sua veia poética em mãos alheias, Guebuza poetizou tendo como substrato a unidade nacional ao afirmar que '... A unidade nacional e o sangue que corre nas artérias da nossa sociedade...' para mais tarde enfatizar que a 'alternativa a paz e a própria paz'!

Ao referir-se não raras vezes a necessidade de reforçar 'o sentido de cidadania, pertença e inclusão' bem como a necessidade de 'promover a diversificacao de oportunidades', o 'reforço do estado de direito' Guebuza mais uma vez levantou muito alto a barra de esperança dos moçambicanos, da mesma forma que o fizera em 2004 com o combate ao deixa andar, burocratismo e corrupção. Temas que o perseguiram durante todo o mandato e diga-se de passagem sem grandes sucessos!.

O discurso de tomada de posse, diga-se de passagem seguiu a risca o estatuado na Constituição da Republica. Um discurso que cobriu Moçambique de les a les, do Rovuma a Ponta do Ouro e do Zumbo ao Chinde!

Diga-se em abono da verdade que se um extra-terrestre estivesse a chegar naquele instante a Moçambique, e escutasse na integra o discurso de Guebuza, se comoveria, juraria e acreditaria que estava perante um líder que ama o seu povo, que ama a democracia, a liberdade, os direitos fundamentais ou seja que estava senão perante um santo, pelo menos estaria próximo de um homem de bem! Mas estando em Moçambique, tendo nascido e vivido neste pais, algumas reticencias se levantam! E que o povo diz que 'quando a esmola e grande, o pobre desconfia'! E porque sou pobre, acho que tenho não só o direito, mas também o dever de desconfiar desta esmola, porque de facto e grande!

Conseguira Guebuza cumprir a risca o que solenemente prometeu perante milhares de moçambicanos e dignidades estrangeiras, ou estamos perante um líder maquiavelico que pisca a esquerda e em seguida vira a direita?

Terá sido o discurso da tomada de posse, uma inspiração divina, ou tratar-se-a de mais um discurso camaleonesco, com o intuído de embalar bois, e só para 'inglês ver' e conseguir a aprovação do Orçamento Geral de Estado, tal como aconteceu com a CNE, que depois de receber os vitais desembolsos perdeu a sensibilidade auditiva?

Conseguira Guebuza demover a maquina partidária e governativa snaspesca que montou e continua a montar do Rovuma a Ponta do Ouro e do Zumbo ao Indico a pautar-se pelo respeito a constituição e ao estado de direito? De que Constituição e de que Estado de Direito esta Guebuza falando?

Como conciliar este discurso de paz e reconciliação nacional com a entrada por exemplo na cidade de Quelimane de um blindado militar em plena quadra festiva? Estamos em guerra? Se sim porque não se abrir ao povo explicando claramente os perigos que enfrentamos? Como conciliar este discurso de paz e reconciliação nacional com a entrada em cena de agentes da PIR armados ate aos dentes em vários distritos do vale do Zambeze, com a crescente nomeação de administradores militares ao longo do Vale do Zambeze, com o crescente clima de insegurança em vários distritos do Vale do Zambeze, onde cidadãos pacatos já não passam noites nas suas residências? Como conciliar as ameaças snaspescas a que cidadãos estão sendo alvo em vários cantos deste indico pais?

Estas sao pequenas reflexões que me invadiram depois de acompanhar a investidura do Presidente da Republica!

Tenho que confessar que se foi fingimento, se todo aquele palavreado poético visava ludibriar os menos atentos, então deveríamos transferir Hollywood para Maputo e deveríamos instaurar um Premio Nobel especial para AEG e seus assessores! Mas se este discurso foi sincero, e tem suas raizes no coracao do cidadao Armando Emilio Guebuza, entao, hoje 14.01.10, inauguramos uma nova era, a 'Era da pax Guebuziana!

Que Deus me oica, pois o seguro morreu de velho!


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