Páginas

domingo, janeiro 03, 2010

Caiu o pano

A talhe de foice
Por Machado da Graça

Caiu o pano sobre mais um episódio eleitoral. Pano roto e sujo mas, enfim, é o que temos...
Como toda a gente estava à espera, o fim do espectáculo tentou ser uma consagração apoteótica dos vencedores.
Tentou, sem o conseguir. Demasiada gente está consciente de todas as trafulhices que foram feitas para se conseguirem estes resultados e isso não permite festas a sério.
No momento em que escrevo também não tenho informação de nenhuma reacção da direcção da Renamo, para além das declarações feitas à Rádio Moçambique logo após a validação dos resultados.
E, se uns não têm muito a festejar, pela forma como conseguiram a vitória, os outros também não têm muito de que se queixar. Foram tantos os tiros nos seus próprios pés que, nem que fossem centopeias, teriam ainda algum pé sem buraco.
Quer isto tudo dizer que eu penso que, sem as sujeiras a que assistimos, a Frelimo e Armando Guebuza não teriam ganho as eleições?
Não. Estou perfeitamente convencido que as teriam ganho de qualquer forma. Os números e as percentagens seriam, sem dúvida, mais baixos mas a vitória seria sempre deles.
Mas os discursos e o culto da personalidade exigiam uma “vitória esmagadora”. E tiveram. Só que é uma vitória esmagadora e suja, em vez de uma vitória confortável e limpa.
Creio, no entanto, que isso pouco preocupa quem não dá muita atenção a essas coisas da higiene política.
E o Conselho Constitucional cumpriu a sua parte.
Elaborou um longo acórdão cheio de citações legais onde juntou, mutatis mutandis, tudo o que já tinha sido dito anteriormente nas várias etapas do percurso eleitoral. Como se diz hoje em termos informáticos foi copy and paste.
Lá pelo meio roçou, uma vez ou outra, por algumas das questões mais sensíveis mas acabou sempre por sair de fininho sem colocar nada em causa.
Sobre os numerosos ilícitos eleitorais, alguns graves, correspondendo a vários anos de cadeia, que se registaram,o Conselho Constitucional sacudiu a água das suas togas doutorais, chutando a bola para o Dr. Augusto Paulino no Ministério Público.
A recomendação de que essas pessoas sejam julgadas e punidas esbarra com um facto incómodo. É que, nessas como em outras coisas, a Frelimo é que fez. A Frelimo é que faz.
E se, no passado, não foi punido nenhum dos que cometeram crimes eleitorais (o famoso sr. Albuquerque, ao que me
dizem, até foi promovido), estamos aqui para ver o que vai acontecer desta vez. Ou não vai acontecer, mais uma vez...
Um aspecto muito curioso é que o acórdão do Conselho Constitucional foi aprovado por unanimidade. Isto é, mesmo os juízes indicados pela Renamo, assinaram por baixo.
O que isto quer dizer, venham outros comentadores melhor informados do que eu dizer-nos. Mas não parece indicar saúde no que continua a ser o maior partido da oposição.
De resto, a forma como a Renamo tem vindo a emagrecer, ao longo dos anos, indica problemas muito graves de saúde. Talvez tuberculose e/ou mesmo SIDA. As bactérias que surgem, à vista desarmada, sempre que se fazem análises (políticas) à Renamo não indicam nada de bom para o seu futuro. Não parecem dispostas a largar o corpo daquele partido e não sei se haverá anti-rectrovirais com força suficiente para os acantonar em sítio onde não prejudiquem o resto do organismo.
Por fim sobra o MDM que, como se diz na publicidade de uma conhecida marca de leite, mostra sinais de imunidade às bactérias, é alegre e inteligente e tem um peso equilibrado com a altura, tudo isto sinais de um crescimento saudável, diz o tal leite.
Se evitar os tiros nos pés, à maneira do tio Afonso, e souber fazer uma oposição inteligente e acutilante, pode chegar às próximas eleições com uma posição totalmente diferente no panorama político nacional.
Não pode é esquecer que, com o fim deste processo eleitoral, não chegou o fim da tentativa de dar cabo dele. Essa, tal como a luta, continua.
Não sendo as decisões do Conselho Constitucional sujeitas a contestação, são elas que vão vingar nos próximos 5 anos, sem apelo nem agravo.
E, por isso, dou também por encerrado este assunto. Se não acontecer nada de muito extraordinário a ele não voltarei, a partir de agora.
Até porque, tenho a desagradável sensação, assuntos para crónicas não vão faltar no próximo ano....

Fonte: Savana (01.01.2010)

2 comentários:

  1. Vitória sem glória para o "glorioso" partido!
    Eliçoes sujas, cheias de vigaríces com eleitores profundamente vigarizados
    Estamos num País cada vez mais vigarizado!
    Ps.
    Na Beira, os frels nao festejaram, nao saíram a rua como em outras partes do País.
    Veremos o que nos espera com a subida da gasolina e sem os referidos subsídios aos transportadores semi-colectivo!
    Tudo tem o seu preço nesta vida!
    Caíu o véu, nao espantou a ninguém, pois sabemos o que está por de tras deste inglorioso partido.

    ResponderEliminar
  2. Apetece-me dizer o seguinte slogan: "A Frelimo é que fez a fraude eleitoral, a Frelimo é que faz a fraude eleitoral" - e continuará fazendo se não agirmos e apostarmos em verdadeiras campanhas de combate à fraude e à corrupção.
    Moçambique e os Moçambicanos merecem melhor.
    Apostemos num verdadeiro Moçambique para TODOS!
    Maria Helena

    ResponderEliminar