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sexta-feira, dezembro 18, 2009

Amar uma pátria de ladrões é difícil


Editorial do Canal de Moçambique

Maputo (Canalmoz) - Rouba-se nos comboios, rouba-se nas estradas, rouba-se nas casas, rouba-se nos escritórios, rouba-se no Aparelho de Estado, nas empresas públicas e privadas, os policias roubam, os enfermeiros roubam, os professores roubam, os trabalhadores domésticos roubam, os funcionários aeronáuticos roubam, os alfandegários roubam, roubam-se as mulheres dos outros, roubam-se os homens das outras, rouba-se nas ONG’s nacionais e internacionais, rouba-se nas organizações da sociedade civil, rouba-se nos preços dos produtos, rouba-se em todo o lado. Uma pouca vergonha! Mas será que somos um país de ladrões? Será que todos nós somos ladrões? Será que ser moçambicano agora é sinónimo de ladrão?
São tantos, tantos, tantos mesmos os casos de roubos que já começamos a pensar que esta nossa chamada “Pátria Amada” está a ficar rapidamente uma “Pátria Tramada”.
Será que ainda se pode amar uma pátria de ladrões?
Esta gente toda que hoje vive da rapina, com quem aprendeu, esta pouca vergonha?
Alguém pode ter orgulho de chamar “Pátria Amada” a uma “Pátria de Ladrões”?
Será que com este vírus as nossas crianças alguma vez irão sentir orgulho desta sua Pátria.
Seguramente não somos o único País do Mundo onde se rouba, mas nós aqui nunca vimos roubar-se assim. É sempre demais, mas agora está mais do que demais.
Quem começou com a impunidade? Quem destruiu e politizou as instituições que deviam combater o roubo?
Quem criou a cultura do enriquecimento rápido?
Quem fechou os olhos ao enriquecimento ilícito? Até agora alguém se lembrou de fazer uma Lei contra o Enriquecimento Ilícito? Não é preciso? Porquê? Quem beneficia com isto tudo, será o pobre camponês de Inharrime, o pobre camponês de Nicoadala, ou será aquele que diz: a”A Frelimo é que fez, a Frelimo é que faz”?
Quem fechou os olhos aos roubos ao Banco Comercial de Moçambique, ao Banco Popular de Desenvolvimento, ao Banco Austral? Quem beneficiou do dinheiro desviado?
Quem trouxe os maus exemplos?
Foi Samora? – “Nãããooooo”…
Foi Chissano? (silêncio)
O que é que Guebuza está a fazer?
E Dhlakama, já terá pensado em fazer uma grande manifestação contra isto tudo? Será que o chamado líder da “oposição” só vê roubos de votos? Não vê toda a roubalheira que vai por aí entre duas eleições? Não vê que roubar votos é um mal menor quando por todos os lados reina a impunidade contra os ladrões?
E o MDM, está calado? Não tem nada a dizer sobre esta roubalheira toda? Ainda não tomaram posse os senhores deputados? Será por isso que estão calados? Ou será que estão já a preparar-se para seguirem na pegada de Dhlakama e o seu jeito nato para ser opositor silencioso que só aparece durante as campanhas eleitorais? Ou será que o MDM vai apostar antes na estratégia da dita “oposição construtiva” do senhor Yacub Sibinde para que os ladrões continuem bem acomodados e impunes?
O MDM está ainda calado para dar a última “chance” de “festas felizes” aos ladrões?
Em fora privados temos ouvido, de futuros deputados do movimento surpreendente e saudavelmente crescente, liderado por Daviz Simango, algumas ideias geniais para que os “figurões” dos roubos de “colarinho branco” sejam devidamente desmascarados, por forma a que o que se tornou quase cultura, desapareça dos nossos hábitos e Moçambique volte a ser um País tido como terra de gente séria e capaz, e de novo aglutine o nosso orgulho de termos uma pátria que realmente se possa amar. Veremos se o silêncio continua.
Os “Samorianos”, de que lado estão neste combate? Estão calados? Agora estão ricos? Ainda bem que estão ricos, mas não terá chegado a hora de começarem agora, pelo menos agora, a lutarem de novo pela moralização de costumes? O que querem deixar como legado às futuras gerações: os melhores métodos de roubar, ou valores morais de integridade, honestidade e trabalho árduo?
Onde anda Jorge Rebelo, o tal “poeta” que um dia escreveu que “não basta que seja pura e justa a nossa causa, é preciso que a pureza e a justeza existam dentro de nós”? A altura do prédio da Domus, o famoso “33 andares”, não é suficiente para ver a roubalheira à nossa volta? Era este o Homem Novo com que sonhou? É este Homem Novo que nos deixa como legado?
Aih!..Aih!... se nós soubéssemos que vocês eram assim!?... Teríamos tido, na mesma, Pátria, mas não uma Pátria de gatunos como esta por quem “os sinos dobram”.
E a “Mamã Graça”? Que Educação criou para hoje estarmos nesta desgraça? Onde foram os ensinamentos de Samora? Será que não tem gravado os seus discursos contra o roubo e acumulação rápida? E estes discursos já não servem para os “camaradas”? De que lado a Mamã quer estar?
O País está mesmo mal! Com esta gente, seguramente, não vamos longe! Só estatisticamente nos vamos salvando!...É pena! Tristeza!
Amar uma pátria de ladrões é muito difícil. Impossível.
Não se pode amar um País em que a miséria é agravada, por tantos gatunos.
Neste mar de gatunagem não há luta, contra a pobreza absoluta, que resista. “Pela boca morre o peixe!”.

Fonte: (Canal de Moçambique) in CanalMoz (2009-12-17)

Reflectindo: 1) este artigo do Canal de Moçambique pode parecer muito forte, mas é para mim um grande apelo à reflexão sobre o que está a passar à nossa volta e o que nós mesmos fazemos, qual é o nosso nível de ética e moral. Quantos são condenados abertamente por algumas pessoas por não roubarem ou terem roubado nos seus locais de trabalho? 2) Como sempre, tenho voltado ao artigo de Domingos Simbine (confira aqui) para reflectir sobre algumas questões relativas à honestidade entre nós moçambicanos. Eu amo a minha pátria porque não é ela que rouba, mas ela que é roubada. A minha pátria é que é vítima dos gatunos. 3) Irrita-me a postura de alguns declarantes do caso ADM e pois parecem pessoas sem nenhum sentimento de deslealdade ao Estado, ao Bem Comum, à Pátria. Irritam-me os que DE FORA procuram encobrir a gatunagem na nossa pátria. Será que estão se ver como próximos a serem denunciados? 4) Encorajam-me todos os demonstram o seu ódio à corrupção, à gatunagem, à falta de honestidade. É com estes compatriotas, onde está a ESPERANÇA da minha pátria.  5) Quanto ao nível ético e moral não será que Samora Machel nos levava à alta fasquia comparável a de países como Japão e Coreia do Sul onde os corruptos se suicidam quando denunciados?

10 comentários:

  1. Na críticas e reflexões aqui http://intelectualismoadministrati.blogspot.com/2009/12/combate-corrupcao-discurso-politico-ou.html , "custa-me chamar os governantes africanos de estadistas. Devido à falta de cultura de estado e imoralidade a que se submetem para a desgraça dos povos".

    pensa comigo

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  2. "Custa-me chamar os governantes africanos de estadistas. Devido à falta de cultura de estado e imoralidade a que se submetem para a desgraça dos povos" aqui http://intelectualismoadministrati.blogspot.com/2009/12/combate-corrupcao-discurso-politico-ou.html

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  3. Este artigo mexeu bastante comigo.
    O factor corrupcao está sempre presente na minha vida.
    Já vivi nos EUA por pouco tempo, também trabalhei em vários paises europeus, outras vezes desloquei-me em trabalho a outros tantos paises, mas sempre tive dificuldade em lidar com o sindroma da corrupção que abala o nosso querido pais.
    Muita gente, embora eu já fale correctamente Ingles, quando digo que nasci em Moçambique, noto logo que ficam reticentes... alguns deles trabalharam lá, outros visitaram o pais... dizem maravilhas da nossa gente, mas sempre me dizem que 'aquilo nunca vai progredir, pois o governo nada faz para combater esse flagelo, aliás, até acham que o mesmo começa no governo...'
    As vezes, prefiro que as pessoas me conheçam primeiro, depois falo-lhes das minhas raizes e da minha terra, para lhes dar uma oportunidade de nao julgarem o meu trabalho ou desempenho em funçao do meu pais ou dos corruptos que povoam por lá...
    No entanto, isto me transtorna muito, porque terá de ser assim?... Porque será que Moçambique deve ser conhecido como uma pátria de ladroes e corruptos?
    Dizer-se o que está errado no nosso pais de forma verdadeira e construtiva, nao deveria de ser interpretado como 'falar mal ou afastar os futuros turistas', pois quem ama a sua patria nao pode fechar os olhos a este sindroma...
    Damos amor aos nossos filhos, mas também lhes disciplinamos, com amor (construtivamente) sempre que seja necessário. Acho que podemos fazer o mesmo pela nossa pátria amada.
    O que noto é que, os que estao sendo beneficiados devido a este factor, fingem que este sindroma nao existe... por razoes bem obvias, e é tabu, especialmente se fores de raça branca ou clara, falares em tal coisa. Deus e todos os santos te acudam se tiveres tal ousadia, pois todos os racistas te cairao em cima, nao interessa se nasceste em Moçambique, se os teus Pais lá nasceram... assumem que deves preocupar-te com os assuntos de Portugal ou da Europa, que aqui nao tens direito ou lugar...
    Eu serei sempre a favor de uma sociedade livre, justa, transparente e onde a corrupcao seja punida de forma exemplar.
    Abaixo a corrupçao!
    Um Mocambique para TODOS!
    Maria Helena

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  4. Obrigado Maria Helena!
    Quem está "desviar" a geração formada deo exterior de Moçambique, são os "Ten e os sixteen years", que estudaram pouco.
    Esses com AK47, fizeram o que todos sabem e, restam-lhe sómente 5/10 anos de vida, e estão CORROMPER toda a geração dos 7/52 anos.
    É pena, porque Moçambique não merece."Sacar" não pode ser cultura quotidiana.
    O cidadão normal, traduziu DESENRASCAR para SACAR!
    Está muito próximo MATERIALMENTE, só que diferem totalmente.
    Uma (DESENRASCA) progride, desenvolve, cria unidade, outra "SACAR"atrasa , embrutece, cria violência e desunião-caminho ténue para a violência generalizada-CONFUSÃO TOTAL E AUTO-DESTRUIÇÃO!
    Zacarias Abdula

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  5. Corrupção há em todo o mundo não só em Moçambique!
    E quanto menos exigentes formos com os nossos governadores mais a máfia se instala e ficará difícil combater através das palavras.
    Aqui em Portugal vale tudo até arrancar olhos, todos sacam e ficam impunes. Os desgraçados dos funcionários públicos é que pagam as favas de tudo!
    Olhem a única coisa que me ocorre é que não baixemos os braços e Deus é grande!
    Beijos e abraços.

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  6. Ana, afilhada dum padrinho que precisa de tantos padrnhos ou madrinhas para sobreviver. Sabes Ana, fiquei assustado pelo termo e quis mo acustamar primeiro para depois reagir. Um dia vou me dedicar a isso. Não fiques com qualquer receio.

    Agora, ao assunto, aliás nunca me sinto obrigado em dizer qualquer coisa a quem comenta neste blog, bastando que eu publique ou rejeite os comentários.

    Beijos

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  7. Caros amigos,

    Lamentar corrupção não é solução! Meus amigos na província estão a preparar uma rede subversiva da sociedade civil pelo combate contra a corrupção. Estamos determinados filmar com câmaras e microfones escondidas (mini câmaras sofisticadas, imperceptíveis ao olho humano) conversas de corruptos políticos e de outras pessoas o aparelho do Estado (por exemplo policia de transito) e entregar as provas da corrupção nos programas de televisão privada e no YouTube. Convidamos todos os blogistas, repórteres e cineastas deste país, seguir nosso exemplo. Não há privacidade para corruptos. Revelar os autores da corrupção é papel de todos nos. No futuro, tudo o mundo vai conhecer quem desviou nosso dinheiro. Desculpa senhor ladrão, você está sendo filmado. A câmara corre e a entrevista já começou. Corrupção é uma forma de violação dos direitos humanos e deve ser combatida.

    Um abraço
    Oxalá

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  8. Amigo Oxalá

    Gostei bastante dessa iniciativa e vou colaborar convosco incondicionalmente.

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  9. Cara Maria Helena

    Há gente que não entende que uns roubam e outros pagam a factura. Esses que pagam a factura sentem na carne e osso por isso manifestam o ódio à roubalheira.
    Na verdade, quando o moçambicano está fora do país, começa a pagar caro pelos actos dos nossos compatriotas desonestos. Ao dizer que é moçambicano, já logo a pessoa começa a ser desconfiada. Não é preciso ir para muito longe. Estando em Malawi em 2001, senti esse ar de alguns malawianos desconfiarem os moçambicanos. Agora, noutros países o problema de corrupção ou mesmo ladroagem em Moçambique pode ser motivo para um moçambicano não ter emprego ou não ser confiado no seu local de trabalho. Portanto, a Diáspora moçambicana paga caro com a roubalheira que se pratica no país.
    Só para falar dos benefícios de boa postura como moçambicano nunca sou desconfiado em transportar drogas em aeroportos europeus. A polícia ou o pessoal alfandegário costuma me perguntar donde sou ou venho, e, dizendo Moçambique, diz-me para passar. Mas há países, mesmo que europeus, donde a pessoa dizendo que vem, é motivo de desconfiança.
    Um caso negativo é que muitas vezes a um moçambicano que estuda fora do país é desconfiado que tenha ligação com o poder em Moçambique. Mesmo até os moçambicanos radicados fora do país desconfiam que o bolseiro seja filho, irmão, cunhado, amante ou qualquer ligação com algum membro do governo moçambicano o que lhe garantiu a bolsa. Portanto, isto dilui todo o esforço individual, só por causa todos governantes corruptos e nepotistas.

    Está claro que muitos dos que não querem falar deste problema duma ou doutra maneira se beneficiam da corrupção, nepotismo, fraude.

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  10. Caro Zacarias Abdula

    Um problema grave dos nos libertadores e democratas é esse de nunca querer aproveitar os quadros formados no exterior se é que aproveitam eficazmente mesmo os formados dentro do país. Duvido bastante, e há provas que não é possível se o quadro tiver uma visão culta.
    Espero que este flagelo acabe com os mestres de AK47. Mas pode ser esperança apenas porque há sinais que muitos dos das novas gerações estejam infectados.

    Abraco

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